A citricultura empresarial no Amazonas é recente. Data de 1975. Desde então convive com toda sorte de problemas fitossanitários de difícil controle. De acordo com a Circular Técnica 125 (dezembro de 2017), da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA), dentre os fatores limitantes de maior espectro encontra-se a ausência de cultivares (variedades de fruteiras) adaptadas às condições edafoclimáticas (solo e clima) da região. Outro fator inibidor: o manejo inadequado de plantas daninhas (matos) nas entrelinhas, sobretudo em decorrência da alta pluviosidade da região. A intensa proliferação de mato obriga o produtor a roçar seu pomar utilizando roçadeira/enxada manual, roçadeiras mecânicas ou via aplicação de herbicida três a quatro vezes ao ano a um custo financeiro e ecológico altíssimos, que a atividade não cobre.
Tais problemas estão sendo solucionados por meio do Projeto Citros em implantação no Amazonas liderado pela Embrapa e Faculdade de Ciências Agrárias da UFAM, com recursos da FAPEAM e apoio técnico da Sepror/Idam. A prática do manejo de coberturas vegetais/adubos verdes nas entrelinhas do pomar para a produção de biomassa, por exemplo, vem crescendo de forma expressiva, proporcionando benefícios reais (econômicos e ambientais) ao produtor e ao ecossistema. Os resultados dessa prática agrícola têm demonstrado que a adubação verde, quando adequadamente escolhida, conduzida e manejada, além de propiciar o controle de plantas daninhas, promove aumentos médios de 30% na produtividade dos citros e, sobretudo, protege e conserva o solo. Além do que, a capacidade de controle das plantas daninhas pelas coberturas vegetais reduz a necessidade do uso de herbicidas e estimula a presença de inimigos naturais das principais pragas dos citros (controle biológico sustentável).
Um segundo vetor do Projeto Citros refere-se à condução de importante experimento de campo objetivando testar novas combinações copas/porta-enxertos (cavalos) e suas adaptações às condições de clima e solo da citricultura amazonense. O objetivo do trabalho é buscar garantir ao citricultor a possibilidade de diversificação do pomar (hoje praticamente restrito à variedade Pera Rio), além de reduzir riscos de impactos causados por fatores bióticos (pragas e doenças) e abióticos (estresse hídrico no solo, temperatura etc). O experimento vem, há quatro anos, avaliando novos materiais genéticos em duas propriedades, uma em Manaus e outra em Rio Preto da Eva. A avaliação concentra-se em 58 combinações e abrange variedades de copas de laranjeiras doces provenientes da Embrapa (Cruz das Almas, BA) em sete porta-enxertos, sendo cinco variedades recomendadas para uso comercial.
Há hoje forte convicção científica de que o experimento viabiliza combinações “copas e porta-enxertos” produtoras de frutas de melhor qualidade, além de identificar, com ganhos de produtividade, novas variedades (cultivares) precoces, meia estação e tardias. Desta forma, estender o período de colheita e oferta de frutas no mercado durante praticamente todo o ano. Um dos pontos fortes do experimento, segundo a Embrapa, consiste em testar plantios mais adensados (maior número de plantas por hectare), com o consequente aumento de produtividade, sem, porém, causar impactos ambientais significativos. Visa ainda o experimento observar, via monitoramento, como se comportarão plantios adensados quanto à maior ou menor incidência de pragas em comparação aos cultivos convencionais, tendo como base os princípios da Produção Integrada.
Concretamente, o Projeto constata que, movido por investimentos corretos e objetivos em pesquisa e desenvolvimento podemos ter uma citricultura moderna de alta produtividade econômica e sustentabilidade ambiental. A via adequada para solucionar os problemas de produção de alimentos no Amazonas, que pode ser estendida, sem dificuldades, a quaisquer outros segmentos (açaí, abacaxi, peixes, etc.). O segredo: vontade política.
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