Manaus, 4 de dezembro de 2024

Poetas piauienses no Amazonas

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Cada um cumpriu sua missão, pagou suas sofrências, viveu suas dores e sonhos à sombra de muitas árvores em uma cidade que explodia em progresso e que parecia evoluir. 

O sonho de invadir a Amazônia e acumular riqueza juntou-se ao estado de pobreza e quase miséria que se alastrava pelo Nordeste do Brasil principalmente depois da grande seca de 1877, e Manaus e Belém foram a atração principal dos retirantes, muito mais a capital amazonense como porto de transferência para os seringais nos altos rios.

Entremeando os homens bravios que se destinavam ao interior doentio para vencer as estradas de seringas vieram também os doutores e bacharéis, principalmente médicos, dentistas, farmacêuticos e advogados que por aqui se transformavam também em professores, vetustos senhores que pareciam ou se mostravam endinheirados, mas muito longe de serem tal qual os seringalistas, uns rudes outros nem tanto, brasileiros e estrangeiros.

Alguns outros eram boêmios, muitos poetas e jornalistas que vinham quebrar lanças em defesa de ideais republicanos, positivistas, simbolistas e alguns parnasianos. Uns vinham e se quedavam logo aos encantos da floresta, aos amores das damas do cassino e dos bordeis, ou aos olhares sutis das senhorinhas que desfilavam sedas e bordados nos saraus do Teatro Amazonas a demonstrarem vivência europeia e preferências pelos últimos modelos de trajes, chapéus e perfumes franceses. Outros viviam um pouco na cidade e decidiam estudar em plagas distantes os cursos que a nossa Universidade Livre de Manáos ainda não conseguia oferecer, principalmente medicina, odontologia e a carreira militar, e voltavam ou não, enfatiotados, graduados e com medalhas no peito.

Nesse mundo viveram Jonas da Silva (na foto acima), Da Costa e Silva e Thaumaturgo Vaz, por exemplo, três piauienses da gema, como também o desmedido Maranhão Sobrinho cujo nome inteiro é um poema, originário do Maranhão, também terra de grandes poetas. Cada um cumpriu sua missão, pagou suas sofrências, viveu suas dores e seus sonhos à sombra de muitas árvores em uma cidade que explodia em progresso e que parecia evoluir. Jonas, um daqueles que veio, foi e voltou para ficar, mesmo tendo sido festejado por seu primeiro livro no Rio de Janeiro, constituiu família manauense, findando-se por aqui mesmo, quase perdido dos seus leitores sempre ávidos por seus belos sonetos. Da Costa e Silva, veio, demorou-se um pouco e foi para nunca mais voltar com seus versos mais do que maravilhosos, sangrando o coração e todo o corpo, a demonstrar a inquietude de sua geração e as próprias penas de sua alma. Era dos grandes … dos maiores. Thaumaturgo Vaz veio, ficou para sempre, fez das suas “cantigas” uma moda e de “Nossa Senhora, Minha Madrinha” um belo cântico, legando a letra do Hino de Manaus, o próprio corpo e mais tarde o filho muito amado.

E o grande vate de Barra do Corda que se fez nosso, Maranhão Sobrinho e seus papeis velhos, nascido e morto no dia do Natal de Jesus, de tão puro em suas aspirações pessoais ou de tanto irresponsável que foi, findou-se só em uma pequena casinha nos arrabaldes que ainda eram a Cachoeirinha sendo levado ao túmulo por Raimundo Nonato Pinheiro, o pai, e pelo comerciante Almir Neves, em gesto de caridade fraterna ao amigo boêmio, o mais de todos os poetas de seu tempo.

Da Costa e Silva já tem a produção literária reunida e bem editada, graças também a seu filho, o diplomata Alberto da Costa e Silva, pesquisador emérito e homem de muitos pendores; já fiz publicar “Czardas”, de Jonas da Silva, e “Papeis Velhos” de Maranhão Sobrinho, e agora cuidarei para fazer edições de ouro que incluam esses belos poetas para que os novos estudem e conheçam, e eles permaneçam como merecem: vivos.

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