Manaus, 19 de agosto de 2025

Flagelados & refugiados

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“Mais uma vez Manaus está acolhendo famílias inteiras que vivem a agonia de sair de suas terras e abandonar suas referências, em busca de dias melhores. 

O crescente número de refugiados venezuelanos que têm chegado a nossa capital, por razões diversas, com todas as consequências daí advindas, provocou a reabertura dos meus arquivos no que diz respeito aos flagelados do Nordeste do Brasil que durante anos e em diversas etapas, vieram ocupar e desenvolver a nossa Região, e em particular o Amazonas.

As estupendas crises política e econômica porque passa o país bolivariano e vizinho, afugentaram os venezuelanos de suas casas. Ao que parece, para eles Manaus foi a mais próxima e acolhedora cidade. As graves secas do sertão nordestino expulsaram cearenses, piauienses, maranhenses, pernambucanos e alagoanos em direção à Amazônia, em momentos diversos da nossa história, notada mente desde 1877 e com repiquete em 1915 e a capital amazonense também a mais acolhedora para eles.

Os cenários locais eram bastante diferentes.

No primeiro momento a produção e o comércio da borracha estavam em crescimento e havia amplas possibilidades de bom uso da mão de obra que podia ser oferecida aos seringalistas e ao governo. No segundo estágio, havia iniciado e era crescente a queda da comercialização internacional da borracha, mais ainda restava o sonho de sua recuperação a animar os políticos e empresários brasileiros e estrangeiros aqui instalados. Para muitos, toda aquela tormenta parecia ser chuva de verão, mas infelizmente não foi.

Os ditos retirantes chegavam a rodo. Se a princípio surpreenderam a população manauense, logo em seguida foram definidas providências de organizações humanitárias e ações de governo que atenuaram a gravidade da situação.

Para fazer frente ao problema o governo e grupos de habitantes originários de outros Estados se organizaram em clubes e associações de apoio aos flagelados, adotando medidas variadas, desde a aquisição de passagens de navio para que pudessem sair de suas terras áridas e viajar para o EI-Dorado à formação de comissões de recepção e acolhimento, instalações, indicação e condução para empregos, isenção de transporte coletivo urbano, doação de roupas, comida, remédios, encaminhamento para médicos, uso de casas e albergues, tudo isso providenciado de forma integrada pelo Clube Pernambucano, Centro Paraibano, Renascença Cearense e Centro Paraibano de Socorros Mútuos, principalmente, chegando a formar o Comitê Central dos Flagelados no qual todos os serviços públicos e apoios sociais eram ordenados para melhor atender aqueles que, vindos das mais diversas cidades nordestinas, precisavam de quase tudo para sobreviver e se estabelecer na capital

amazonense ou pelo interior, muitos dos quais terminaram por se perder nas estradas de seringa e no anonimato das cruzes cegas abandonadas no meio da mata.

Nos dias que correm parece que voltarmos a viver a mesma situação, embora, pelo menos por enquanto, em menor escala. Mesmo assim parece que a situação está a exigir que seja traçado um plano eficiente para tratamento e encaminhamento da questão em alto nível, quem sabe tomando por base a experiência do passado muito bem registrada em vários documentos oficiais.

Não há porque deixar de acolher flagelados ou refugiados, mas estes devem ser tratados conforme um planejamento amplo que exceda ao socorro de urgência, porque tal como os nordestinos- fugidos da seca os venezuelanos que correm da crise econômica, social e política devem ter vindo para ficar.

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