Manaus, 5 de julho de 2025

Escravidão abolida

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Concretamente aquela antiga escravidão parece ter sido transmudada para outros muitos tipos de submissão do homem pelo homem.

Consta em todos os registros históricos do Amazonas que em 10 de julho de 1884 foi inteiramente abolida a escravidão negra em terras amazonenses sendo laureado por isso o presidente da província Theodureto Carlos de Faria Souto, um cearense que ocupou vários cargos importantes no Império e nos primeiros anos da República. Pouco antes, e como fase preparatória, em 24 de maio teria sido abolida na cidade de Manaus.

Não resta dúvida de que esse ato político configurou a completa libertação inclusive em razão do pouco valor de mercado e da reduzida quantidade de escravos existentes, seja na capital como no interior. Mesmo assim não é possível deixar de reconhecer que desde 1869 tiveram início os movimentos libertários em nosso território, crescendo substantivamente em 1882 com José Paranaguá e alcançando o clímax em 1884 com Theodureto Souto.

Essa campanha feita pela maçonaria, por sociedades abolicionistas de senhoras, estudantes, médicos, professores e quase todos os segmentos sociais mais ou menos organizados da época, inclusive muitos senhores e senhoras de escravos, pretendia redimir uma raça retirando as chamadas peças da África da condição de “coisa” ou “mercadoria” sobre as quais incidiam todas as responsabilidades pelos seus atos e nenhum direito, podendo ser levados presos, colocados no pelourinho, alugados, vendidos, dados em garantia de dívida, comprados como qualquer outro bem ,e, por isso mesmo, representando receita para os cofres públicos seja em razão das taxas de registro ou impostos de comercialização interna e exportação.

O que se dava no Amazonas como sucedia no resto do País era um tratamento vil perpetrado por seres humanos contra seres humanos ‘e, algumas vezes, entre homens negros, porque alguns escravos fugidos dos seus senhores e organizados em mocambos também tiveram seus escravos, e até a santa igreja católica apostólica romana teve os seus muitos escravizados negros, além dos índios que ora subjugou e ora defendeu.

Revisando o cenário da época não é demais cogitar que a abolição possa ter sido um bom negócio para muitos dos senhores e senhoras de escravos negros porque muitos deles eram passados na idade, decaídos de valor no mercado da escravidão, e em sua quase total idade dedicados a serviços domésticos ou de obras de construção e pequenas vendas, e principalmente havia recursos oficiais dos fundos de manumissão do Governo Central e do Governo Provincial mais do que suficientes para a concretização de um ato que se revestiu de humanitário para todos – embora assim fosse, verdadeiramente, para muitos dos abolicionistas -, e que mobilizou um governo em derredor da ideia, agrupando abolicionistas residentes em Manaus e outros vindos do Rio Grande do Norte e do Ceará, imitando Mossoró e Fortaleza, para contribuírem para a alforria geral e para o grito de liberdade.

De fato houve libertação onerosa paga pelas sociedades emancipacionistas, paga pelos cofres públicos do Império e da Província, paga por alguns beneméritos de verdade, como houve libertação gratuita e caridosa, porque todos os agentes estavam envolvidos em uma ação de governo que desde Paranaguá e muito mais com Theodureto Souto fez dessa campanha a razão de ser do próprio governo.

O que restou dos negros antes escravizados não se sabe muito, porém, mais uma vez a classe empresa ria deve ter se saído muito bem se livrando de suas mercadorias humanas, muitas das quais caminhavam para a imprestabilidade, sendo-lhes atribuídas ainda, as honras de beneméritos da província com diplomas e inscrições nobres.

Concretamente aquela antiga escravidão parece ter sido transmudada para outros muitos tipos de submissão do homem pelo homem, principalmente pela ignorância, pela fome e pelas armas.

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