1
O rio era rico
de peixes, canoas
feriam as conchas.
O rio metia-se
na mata comendo
as cascas das árvores.
No tempo das secas
o rio era raso,
seu dorso saudável.
Nas rudes tronqueiras
os peixes maduros
coavam as ovas.
O vento evolava-se
das folhas lavadas
do azedo araçá.
2
Clara escama
de pescada
no céu vivo
da calada
correnteza.
Sal e areia
Eva aquática
ou sereia.
Oseu brilho
posto ao sol
era a flor
transparente
que nos vinha
do calor.
3
Apiaçoca
corre e pia.
Pia como corre
fina.
Na praia seus pés
ficam cravados,
três traços na frente
um atrás.
Solerte a piaçoca
nervosa
não para.
Pia e corre
como pia
a piaçoca.
4
O dia refletia
na vaga torrente.
Gaivotas versáteis
furavam as ondas,
seu dorso parado
pesado cadente.
Silêncio de lâmina
a chuva era limpa,
lavava os tecidos
da flor matinal.
Navalhas de limo
cortavam o rio
e os peixes passavam
sugando seus sucos.
5
Ah fim de tarde,
barro do sítio,
como sofrias
no cru lagar.
O corta-água
penas de mágoa
passava para
seu mole hangar.
O sol caía
finado o dia
por trás da faixa
verde esfumada,
cinza parada
da mata baixa.
6
Parava a praia
seus bichos áticos
o vento e o rio.
Eram hieráticas
aves pernaltas,
pastos do frio.
A sombra suja
da noite vinha
chorar o véu
de estrelas parcas,
luas opacas
no céu.
*Poeta e ensaísta. Ex-presidente da União Brasileira de Escritores do Amazonas e da Academia Amazonense de Letras. Nascido em Itacoatiara é uma das glórias dessa cidade.
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