Manaus, 14 de setembro de 2025

Meu rápido histórico

Compartilhe nas redes:


*Basílio Tenório

Meu nome completo é Basílio José Tenório de Souza, mas enquanto pensador, historiador e escritor assino: Basílio Tenório. Sou filho de Manoel Alzier de Souza e de Carmem Tenório de Souza e nasci no Município de Urucará-AM, no dia 29 de janeiro de 1953. Nasvci em uma propriedade de várzea, de meu pai, denominada Santa Maria localizada no seguimento esquerdo do Paraná do Beijú-açú, um pouco abaixo do repartimento a partir de onde o citado seguimento ganha a denominação de “Paranázinho” que, por sua vez, deságua no Paraná de Urucará.

Em maio do mesmo ano de 1953 mudamos para a terra-firme fustigados pela enchente naquele ano, aliás, uma das maiores senão a maior já acontecida no vale amazônico. Tao grande era que a maromba do nosso barracão chegava próximo ao telhado de palha de babaçu. Aconteceu que certa noite, tio Dedé Alzier (irmão de meu pai) levantou para urinar e por alguma razão tentava equilibrar-se segurando no que pensava ser um esteio do barracão quando, na verdade, era uma enorme (cobra sucuri) sucurijú que tendo subido pelo telhado se “arriara” na direção da rede onde o “bebê de minha mãe” se encontrava. O bebê, neste caso, era eu.

Alarme dado, a sucurijú tratou de cair fora pois que meu pai se aproximava com o facão 128, mas o panavueiro se havia instalado naquele barracão. No mesmo instante minha mãe levantou-se e, chorando, começou a arrumar os nossos “quase nada” porque decidida não houve força ou argumento que a detivesse. Fato foi que ao amanhecer a pequena, mas linda família de meu pai atravessava o Paraná de Urucará rumo à terra-firme que iria se apropriar no igarapé do Lago do Marajá Grande, hoje Marajatuba, depois legalmente adquiri-la denominando-a: Bom Jesus.

Foi justamemte, em Bom Jesus, mais precisamente no topo de uma ilha onde meu tio Manuel Carmo Tenório, o “tio Carminho”, irmão de minha mãe, ergueu sua casa que aprendi a ler e escrever. Aprendi com minha avó materna, Teotônia Noronha Tenório, a dona Titóca ou Vó Titóca, que também me ensinou nadar, o gosto pela leitura e pela poesia. Por sua influência, aos cinco anos de idade declamei o poema: “Meus oito anos”, de Casemiro de Abreu, para familiares meus em uma dentre as costumeiras tertúlias promovidas por meu pai, lá em Bom Jesus. Aquele foi o primeiro outros tantos que até perdi a conta.

Ainda por influência de Vó Titóca, em 1959, aos seis anos de idade tive o primeiro contato com as formas de expressão pertinentes à Cultura Brasileira na Amazônia, mais precisamente com o fenômeno “Pastorinhas Natalinas” que, anos depois, seria meu tema de estudo na universidade. Aconteceu em Barreira do Andirá, onde eu passaria a estudar. Em 2 de março de 1962 Vó Titóca, subitamente e como diria o Poeta Tiago de Melo, “atravessou o rio para nunca mais voltar”. Eu tinha, então, nove anos de idade. Aos 12 anos de idade fui mandado para estudar em Parintins, ora cenário da minha história de vida.

Prosseguindo, meu poeta querido, sou casado há 43 anos com Vilma Trindade de Souza, que me deu cinco filhos, que por suas vezes, me deram sete netos: Daniela, enfermeira, professora universitária na Estácio de Sá, em Boa Vista-RR, ora doutoranda na mesma universidade e mãe de Daniel, de João Vitor; Luciana, advogada e agente pública no TCU – Tribunal de Contas da União, solteira; Heleno, professor de matemática na Universidade Federal do Amazonas -UFAM e pai de Lucas; Marcos, engenheiro de produção e pai de Luíza; Aline, mãe de Aliyce Sophia, de Pietro Lorenzo e de Davi. Refiro-me a pessoas que me amaram, que me amam e justamente por isso as principais colunas de fundamento da minha história de vida seja enquanto homem, marido, pai e avô.

Possuo graduação em História, pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA e mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Em função desse preparo acadêmico sou professor de História entre o Ensino Fundamental e o Ensino Superior com experiência em outras disciplinas vinculadas às ciências humanas, entre as quais, Sociologia, Antropologia, […], Artes. A isso entrelaçado sou pesquisador, historiador, romancista, poeta, escritor com, até então, cinco livros publicados.

Quando adolescente quis ser padre e cheguei a ingressar no Seminário João XXIII, seminário menor da então Prelazia hoje Diocese de Parintins, extinto há algum tempo, mas a vida, por razões que desconheço levou-me para outros caminhos ou para outras formas de ganhar o meu próprio sustento. Fui profissional da indústria madeireira preparado pela SUDAM, em 1974 no fervor do ideário “Integrar para não entregar” e subentenda-se a Amazônia e, assim, figurei entre os prepostos diretos de interesses predadores no extremo norte brasileiro. Decepcionado com a indústria madeireira trabalhei em construção de pontes de madeira na BR-319 tempo em que, por oito anos, morei na Cidade do Castanho, no Km 100 da referida estrada.

De vota à Parintins, entre 1990 e 1996 a vida me convidou a ingressar no mundo da literatura batendo-me pela real verdade sobre o caso José Augusto, epopeia que desaguou no meu primeiro livro intitulado: O crime do areal, quem matou Zé Augusto? lançado em 26 de julho de 1996, no Tetro Chaminé, em Manaus.

Acrescente-se que, até então, eu desconhecia que sabia manejar a retórica literária em suas variadas formas. Descobri no viés ou através da dor; da dor de ver alguém sendo perseguido(a) e caluniado(a) por pessoas e pelo Estado; da dor de ser perseguido e caluniado pelo Estado.

Aconteceu que, mesmo sem preparo acadêmico escrevi e publiquei o livro acima evidenciado; o meu primeiro livro. Foi quando compreendi como funciona a justiça estatal pois que experimentei a “porrada” contundente do braço armado do Estado por ter sido a única pessoa, em Parintins, a acreditar na inocência da pessoa à qual o Estado imputava a culpa pela morte de José Augusto. Essa experiencia levou-me a escrever o meu primeiro poema. Esse, a seguir:

Frente ao perigo

Se por ventura minha voz silenciar ao longo desta caminhada
Saibam, amigos meus, que eu deixei de existir.
Se os maus por mim perguntarem
Digam que saí, mas não demoro a voltar.
Se os meus filhos por mim perguntarem
Confortem-nos e depois lhes digam:
Foi por amor a vocês que ele empreendeu essa jornada…
Os senhores haverão de encontrar as palavras
Que possam justificar a minha ausência.
Se os bons por mim perguntarem digam que estou bem.
Se as crianças por mim perguntarem
Digam que estou caminhando entre as estrelas,
Não se preocupem, elas conhecem esse lugar.
Se as nações também perguntarem
Digam a elas que estou denunciando a violência,
Pleiteando justiça, qualquer coisa,
Menos que tombei frente ao braço armado
Da Justiça que eu tanto acreditava.
Mas se o meu povo por mim perguntar
Não lhe digam nada, pois o silêncio dirá por vocês:
Amigos, não há mais ninguém aqui.
Voltem para as suas casas,
O espetáculo terminou,
Ele já não existe mais!

Amiga minha. Sabes que acreditei, que acredito na tua inocência e o quanto tenho passado nesses anos todos lutando pela proclamação dela; e tudo para que voltes a sorrir como naqueles belos dias!

Abril de 1996.

Foi vivendo aquela epopeia que, em meado dos anos 1990 conheci o senhor Antônio Andrade Barbosa (agente público e, nessa condição, auditor da Receia Federal) e nos tornamos amigos. Em 1997, enquanto o meu primeiro livro fazia a contento o seu papel social escrevi um original que denominei: “Bumbás de Parintins dos fragmentos históricos ao apogeu” e submeti à apreciação do meu novo amigo Antônio Andrade Barbosa, na época, Diretor Financeiro da Associação Folclórica Boi-bumbá Garantido, gestão do saudoso Presidente Raul Góes Filho.

Dias depois Antônio Andrade mandou chamar-me e quando frente a frente, em seu gabinete, disse-me: “Basílio para esse trabalho, aí, e levanta e escreve a história do Garantido mantendo esse mesmo estilo”. Era outubro de 1998 e ali se iniciava a pesquisa que me possibilitaria escrever a trilogia sobre o fenômeno boi-bumbá com os seguintes títulos: A cultura do boi-bumbá em Parintins publicado em 11 de junho de 2016; A poética vermelha e branca do Boi-bumbá Garantido, que em breve será publicado pela Academia Amazonense de Letras; A poética azul e branca do Boi bumbá Caprichoso, em processo de construção.

Já no início da pesquisa comecei a me perder, pois não possuía o preparo para realizar o trabalho que o “Garantido” me havia solicitado. Outros anos passaram, tempo em que conheci, na recém criada UEA-Universidade do Estado do Amazonas, a professora Maria Mirtes Cohen que, me incentivou a ingressar na universidade.

Dias depois, em visita à Universidade Federal do Amazonas–UFAM, em Parintins, conheci os professores: Jeferson da Cruz e Maria Audirene Cordeiro que, tal como a historiadora Maria Mirtes Cohen me incentivaram a preparar-me para ingressar na universidade, algo que não podia fazer em razão da forma de como ganhava o meu próprio sustento e da peleja em favor da musa do meu primeiro poema.

Por essa época eu começava a agir e reagir enquanto escritor, mesmo sem preparo acadêmico. Em 4 e março de 2004 liderei a criação do Instituto Geográfico e Histórico de Parintins – IGHP do qual fui o primeiro presidente e hoje sou o presidente de honra. Presidir essa instituição exigia de mim o preparo acadêmico e então tive que me organizar para essa nova etapa da minha vida. O problema era que eu não tinha tempo para fazer um cursinho preparatório, pois que há mais de trinta anos que não frequentava uma escola e, ao que sei, muito havia mudado.

Foi quando pares meus no IGHP se ergueram propostos a me preparar para fazer o vestibular. Ou probleminha: não tínhamos tempo para isso. Representando os demais, o saudoso escritor, teatrólogo e poeta Prof. João Maria Tavares conseguiu coma professora Cleuza Barroas, gestora no Colégio Araújo Filho, uma sala-de-aula pelo espaço de tempo entre 12 e 13 horas tempo onde os meus pares no IGHP se revezavam em ministrar para este único aluno… Certo dia, em nome dos demais dissera-me o saudoso confrade João Maria Tavares: “Presidente, o senhor está preparado para enfrentar o vestibular; vá lá e faça bonito…”

Em 2007, uma vez aprovado em vestibular ingressei na Universidade; em primeiro momento na Universidade do Estado do Amazonas – UEA onde graduei-me em Licenciatura Plena em História. Em 2011, aprovado em concurso público em 2012 fui lotado como professor de História no Colégio Ramalho Júnior, em Urucará, mas nem mesmo iniciei porque no mesmo ano de 2012 sendo aprovado no seletivo do PPGSCA–Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, na Universidade Federal do Amazonas – UFAM, iniciei o meu curso de mestrado e em 28 de fevereiro de 2015 defendi dissertação.

Em 2008, na condição de Presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Parintins – IGHP – concluí as negociações pertinentes ao translado dos restos mortais de Dom Arcangelo Cerqua de Terentola Ducenta/Itália, para Parintins. A relíquia se encontra exposta na Catedral de Nossa Senhora do Carmo, em Parintins.

Em 2009, ainda na condição de Presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Parintins – IGHP negociei com a SEC – Secretaria de Estado de Cultura do Estado do Amazonas o repasse do Projeto objetivando a proclamação do fenômeno boi-bumbá como Patrimônio Nacional.

Ainda em 2009, contribui para a criação da Academia Parintinense de Letras e enquanto membro efetivo proclamei Eustáchio Libório da Cunha como patrono da cadeira que ora ocupo naquele Augusto Silogeu. No mesmo ano contribui para a criação do Instituto Eustáchio Libório da Cunha, em Urucará.

Em 2013 e 2014, estando o projeto sob a égide do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, uma vez convidado participei das pesquisas objetivando a proclamação do fenômeno boi-bumbá em Patrimônio Nacional, que aconteceu em 2019.

Em 2016 lecionei na UFAM- Universidade Federal do Amazonas, na condição de professor voluntario; no mesmo ano lecionei na UEA-Universidade do Estado do Amazonas, pelo PARFOR, no Município de Tonantins. Em 11 de junho do mesmo ano publiquei o primeiro livro da citada trilogia, A cultura do boi-bumbá em Parintins. Em 16 de setembro lancei, em Urucará, o livro: Fundamentos de Urucará, de Eustáchio Libório da Cunha, do qual fui o organizador.

*Amazonense de Urucará. Professor, memorialista, pesquisador e escritor. Licenciado em História, pela UEA. Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, pela UFAM. Fundador e ex-presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Parintins (IGHP).

Views: 166

Compartilhe nas redes:

Uma resposta

  1. Boa noite Basílio. Parabéns pela trajetória, muito boa de ler e reviver nas palavras coisas tão próximas a mim. Gostaria de me apresentar e perguntar umas coisas. Fica a aqui o comentário na figura de uma proposta de diálogo com meu e-mail. Forte abraço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques