A pandemia de Covid-19 já nos fez sofrer muito, por qualquer ângulo em que se olhe a questão: pela perspectiva real e aterradora de sermos todos infectados; pela angústia, torcida e orações pela recuperação dos enfermos (parentes e amigos queridos); ou, pior de tudo, pela perda efetiva de tanta gente, próxima ou distante que, em outra circunstância, ainda estaria conosco, emprestando mais cor e ritmo às nossas vidas…

No último sábado, nesses dias que têm amanhecido e permanecido com um céu tão cinza, às vezes chuvosos e rotineiramente tristes, recebemos a notícia de que o cantor Zezinho Corrêa, que se tratava e lutava contra a doença em clínica particular de Manaus, não resistira. Sou emotivo, já lhes confessei aqui. E não tenho nenhum constrangimento em lhes dizer que, mais uma vez, abalado e perplexo, chorei, como sei que milhares de fãs do extraordinário artista também o fizeram, em especial aqueles que puderam, mais de perto, ser tocados por sua luz e simplicidade, dom e predicado, respectivamente, das grandes almas, as quais vieram ao mundo para alegrá-lo e para edificá-lo.

José Maria Nunes Corrêa, o Zezinho Corrêa, nasceu na cidade de Carauri, no Amazonas, localizada à margem esquerda do rio Juruá, no ano de 1951. Foi em Manaus, porém, que a sua estrela brilhou, tanto, que ele disse ao sobrinho Alexandre Corrêa que “jamais conseguiria viver em lugar nenhum do mundo que não fosse no Amazonas, em Manaus”. E isso o diferencia de alguns outros, que logo que alcançam um pouco que seja de fama, vão morar em outras plagas, esquecem ou falam mal de seu torrão… Com Zezinho isso nunca aconteceu. Sempre foi possível encontrá-lo nas ruas, em shows, em bares, onde, do alto de sua nobreza, generosidade, simpatia e humildade, atendia a todos os que dele se aproximavam. Merece uma estátua em praça pública, tal como faz o Rio de Janeiro com seus heróis da arte, que já homenageou desse jeito, dentre outros, Tom Jobim (Ipanema), Dorival Caymmi (Posto), Pixinguinha (centro), Noel Rosa (Vila Isabel), Cazuza (Leblon) e Renato Russo (Ilha do Governador). Fica a dica. Se eu fosse prefeito não pensava duas vezes. A estátua de Zezinho ficaria no largo de São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas, onde por tantas vezes ele nos emocionou.

Foi em Manaus que Zezinho arrumou seu primeiro trabalho, que brilhou como ator no Teatro Experimental do SESC (TESC) e depois formou a banda Carrapicho, da qual ele era o vocalista e um dos fundadores, e que, “descoberta” pelo produtor francês Patrick Bruel, foi levada para a Europa e se tronou, capitaneada pelo hit “Tic-tic-tac”, música de autoria do pescador parintinense Braulino Lima, um sucesso mundial, que vendeu 15 milhões de discos! No Brasil, o Carrapicho e Zezinho estrelaram os programas “Domingo Legal” do Gugu, o “Domingão do Faustão”, o “Jô Soares” e ainda o programa do Danilo Gentili. Registro, a título de homenagem, os companheiros que compuseram com ele o Carrapicho: Roberto Bezerra de Oliveira, o “Bopp” (violão e guitarra), Lauriana (cantora, logo no início), Asclé e Fernando Giffoni (percussionistas), Raimundo Nonato do Nascimento (vocal de apoio), Otávio Rodrigues da Silva (contrabaixo), Edson Ferreira do Vale (sanfona), Carlinhos Bandeira (teclado), Ronaldo Jesus, China e Luciano Canindé (percussionistas), Ianael Santos e Tatiana Oliveira (dançarinas) e Hudson Praia e Hira Mesquita (dançarinos).

Dono de um timbre de voz único, que emocionava tanto cantando um forró quanto uma toada, o hino nacional ou uma música de Roberto Carlos, Zezinho Corrêa nunca será esquecido. Gravou em letras de ouro o seu nome no panteão dos grandes artistas brasileiros. Assim, na oportunidade em que elevamos as nossas preces a Deus para que conforte os corações de seus familiares, amigos e admiradores, rogamos para que também receba o seu espírito eterno na morada dos justos. Valeu, Zezinho, pelo sorriso que deixaste!
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