“Vem de há muito a tradição de festas reveladas e estimuladas pela igreja católica apostólica romana, com prática de milênios, e uma delas é a organização de procissão em honra a santos, notadamente os padroeiros das cidades e aqueles de maior adoração ou expressão popular.
No Amazonas não tem sido diferente. Uma das mais tradicionais na capital amazonense é a que homenageia São Pedro, realizada na forma de cortejo de barcos de pequeno e médio porte, principalmente, os quais circulam pela baía do Rio Negro, sempre muito bem ornamentados ou embandeirados, para demonstrar a devoção e exprimir a religiosidade de boa parte do nosso povo.
Ao que se conhece de mais antigo, esse tipo de romaria teria sido feito em Portugal, lá pelos idos dos anos 1800, nos quais se davam as procissões de São Pedro e a de Nossa Senhora de Atalaia, cuja devoção parece ter tido origem pelos 1400. No caso brasileiro, as notícias mais confiáveis por trabalhos de pesquisadores reconhecidos é que no século XVIII teria havido procissão fluvial em desfile diante do hospital dos Lázaros, no Rio de Janeiro, a qual era chamada de romaria dos barcos.
É esta que resiste ao tempo, especialmente em algumas cidades como em Manaus, Teresina, Santarém, Salvador, Itaituba e Porto Alegre, seja para saudar São Pedro, liderada por pescadores; para homenagear e agradecer a Nossa Senhora dos Navegantes; a de Nossa Senhora de Santana, no Pará, ou a de Nossa Senhora Aparecida, pelas Minas Gerais. Verdade que muitas outras procissões deste tipo são realizadas Brasil afora, mas não há catalogação confiável ou publicação científica a que seja possível recorrer, mas as tradições da fé católica se manifestam por várias maneiras na grande maioria das comunidades brasileiras.
Graças ao sincretismo religioso, bem conhecido em terras nacionais, a estas e outras tantas procissões vem se somar aquela que é levada com flores e oferecida a Iemanjá, – a rainha do mar –, e que movimenta comunidades religiosas de base africana, especialmente.
A lembrança mais forte que me ocorre a respeito da procissão de São Pedro pelo Rio Negro, diz respeito a que ajudei a organizar e foi especialmente dedicada à visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II, para a qual, em razão de autorização especial da Santa Sé, até a data foi modificada, de modo que ele pudesse participar. Foi belíssima, com o maior de todos os cortejos de que se tem notícia.
Peculiaridade muito particular desse dia – e que agora ouso revelar para registro histórico -, é que, incumbido de chefiar a comissão de organização civil da visita oficial na qualidade de representante do Governo do Estado, com altas responsabilidades das quais me orgulho, tive a oportunidade de estar sempre bem próximo de Sua Santidade, e, na procissão, com as devidas licenças superiores do Vaticano, pude entregar em mãos do Papa um pleito da Maçonaria Amazonense para a alteração nas regras do Código Canônico, em busca de extirpar a excomunhão dos maçons, documento que ele acolheu e guardou consigo mesmo, apesar dos gestos de um assistente.
O texto, feito a quatro mãos por Humberto Figliuolo e por mim, foi simples, direto, objetivo e respeitoso como era próprio que fosse, afinal, nada nos deveria afastar da religião que professamos tal qual a maioria da população brasileira, e não haveria mais causa para animosidades entre irmãos, quaisquer que fossem as razões de antanho.
Quanto ao evento de fé, jamais vi algum tão ou mais emocionante que este, cuja organização foi impecável e a presença e bençãos do Papa deixaram nossas vidas mais confiantes no Amor e na Paz.
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