Manaus, 19 de abril de 2025

Amazônia, “vamos combater a pobreza não os pobres”

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*Nelson Azevedo

O mundo viu o Brasil estarrecido com mais um episódio dramático da brasilidade, dessa vez em plena Amazônia. Precisamos rechaçar este modelo de governança da floresta e de nossa gente que nela vive, e repudiar o abandono de crianças e idosos da nação ianomâmi, vítimas da exploração criminosa do garimpo ilegal em suas terras. A pobreza – como sequela da desassistência – levou à morte centenas de crianças e de adultos, vítimas de doenças trazidas pelos não-indígenas e pelo mercúrio da contaminação mortal das águas. Temos que ouvir o grito dos inocentes e meditar intensamente sobre essa infâmia.

O combate às desigualdades regionais costuma estar presente nos discursos eleitorais de todas as democracias ao redor do mundo. E no Brasil – onde os indicadores entre o Norte e o Sul do país são inaceitáveis – não somos exceção. E a melhor maneira do tecido social apreciar o desempenho de cada governo – que deixa o poder – costuma ser o conjunto de indicadores da distribuição da riqueza. Alguns governos esquecem que – no modo de produção capitalista – a distribuição de riqueza é vital para a ordem social e manutenção do próprio capitalismo. Ela permite o exercício da cidadania e a harmonização entre economia e o habitat social e ambiental.

Emprego, renda e oportunidades 

Por isso, através de diversos mecanismos, as democracias do mundo desenvolvido tratam de assegurar a distribuição da riqueza mais adequadamente possível, buscando de um lado combater a má gestão dos recursos públicos e também incentivar administração inovadora, enxuta e desburocratizada da máquina pública, que costuma ser pesada, lenta e ineficiente. O Estado tem que fazer bem sua parte, deixando ao setor privado a responsabilidade de empreender para gerar emprego, renda e oportunidades.

Borracha: 45% do PIB 

A gestão da Amazônia, que viu suas grandes contribuições históricas fazerem água na travessia do desenvolvimento nacional, através do esvaziamento vesgo dos dois Ciclos da Borracha, de 1880 a 1910, quando a Amazônia era o único produtor mundial de borracha, o que fez a região contribuir com 45% do PIB nacional. O 2º Ciclo ocorreu de 1940 a 1945, durante a II Guerra Mundial.

Neste momento, os países aliados, sob a liderança dos Estados Unidos, reativaram os seringais abandonados, depois que os ingleses plantaram seringueiras da Amazônia em seus domínios asiáticos, com infraestrutura produtiva e inovação tecnológica. Estes seringais asiáticos estavam sob o domínio nipogermânico, sobrando nossa floresta para fornecer os insumos de fabricação dos artefatos de guerra. Ninguém conquistou a estruturação fabril da borracha na Amazônia.

Oportunidades da floresta 

Essa visão caolha persiste quando o Brasil insiste em expandir a fronteira agrícola para a pecuária sem se dar conta que nosso maior tesouro, ou seja, fonte permanente de riqueza é a floresta em pé, condição vital para os serviços ambientais e para imitação das soluções da biodiversidade para as principais demandas da humanidade: energia verde, alimentação integral, fármacos naturais e dermocosmética da longevidade e da virilidade juvenil, em outras palavras, a bioeconomia, as oportunidades sustentáveis de negócios da floresta.

Contribuição da ZFM 

Esses investimentos – com recursos gerados pelo Polo Industrial de Manaus – podem  empinar a economia da Amazônia e do Brasil, colocando o país entre as nações desenvolvidas. Adequadamente desenvolvidas, com inteligência e equidade econômica e socioambiental. Na semana passada, o jornal The Economist, um dos mais respeitados na mídia global, publicou em vídeo um documentário sobre o combate às desigualdades regionais, o desafio da hora em função da secessão econômica mundial provocada pelos descaminhos da cadeia global de suprimentos que aumentou a pobreza em escala mundial.

foto: Moto Honda

Desenvolvimento regional 

“Vamos combater a pobreza não os pobres”, é o tema do filme documentário que se inspirou num cartaz com essa palavra de ordem e de alerta, numa das passeatas que buscava sensibilizar os gestores mundiais reunidos em Davos, na Suíça, para debater questões sociais e climáticas. De acordo com os atores do filme: “Grandes regiões foram deixadas em apuros por décadas, e o aumento dos preços está piorando ainda mais essas áreas mais pobres. Este filme analisa algumas ideias sobre como resolver esse problema – desde a devolução do poder político e investimento sustentado em infraestrutura e tecnologia até abordagens mais inovadoras, como cidades pagando novos habitantes para se mudarem.”

Grito dos inocentes 

O mundo viu o Brasil estarrecido com mais um episódio dramático da brasilidade, dessa vez em plena Amazônia. Precisamos rechaçar este modelo de governança da floresta e de nossa gente que nela vive, e repudiar o abandono de crianças e idosos da nação ianomâmi, vítimas da exploração criminosa do garimpo ilegal em suas terras. A pobreza – como sequela da desassistência – levou à morte centenas de crianças e de adultos, vítimas de doenças trazidas pelos não-indígenas e pelo mercúrio da contaminação mortal das águas. Temos que ouvir o grito dos inocentes e meditar intensamente sobre essa infâmia.

(crédito: Divulgação)

E mais: mostrar ao mundo que temos outras saídas e soluções eficazes para desenvolver integralmente o Brasil e, principalmente, temos leis para coibir ilícitos trágicos como este. “Vamos combater a pobreza não os pobres”.

*Economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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