Manaus, 18 de agosto de 2025

Infraestrutura: Academia e Indústria se unem no desafio de redução das desigualdades regionais

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“Doutor em engenharia de transportes, o professor Augusto César Barreto Rocha tem se dedicado a promover ações compartilhadas entre academia e a economia, particularmente no que se refere a precariedade de infraestrutura para o Polo Industrial de Manaus.” Confira.

BrasilAmazoniaAgora – O enfrentamento da precariedade da infraestrutura regional, especialmente na área de transportes, tem revelado avanços significativos. Qual são os próximos passos dessa jornada?

Augusto Cesar Barreto Rocha – Os avanços têm sido no lado empresarial. Portos (terminais) privados, armadores, empresas realizando estoques reguladores e uma energia intelectual enorme sendo alocada para conseguir transpor as enormes deficiências cotidianas. No quesito governamental, há uma boa-vontade. Não é pouco, mas é insuficiente: os executivos públicos precisam de orçamento alocado na LDO/LOA para fazer as obras que reduzirão as desigualdades regionais.

Amazonas possui uma carência histórica de infraestrutura e chega a ser declinante o que temos. Deveríamos ter avanços com recursos expressivos sendo alocados para obras que dotem a região de infraestrutura de transportes. Meu alvo é que sejam investidos 2,5% do PIB ano após ano na redução das desigualdades regionais.

BAA – Em clima de reforma fiscal e das incertezas que cercam a economia da ZFM, como você enxerga as brechas da reindustrialização?

Augusto – Entendo que estamos muito industrializados. A Zona Franca de Manaus poderá ser um belo exemplo para o país. Temos uma tradição industrial, um polo industrial com empresas com certificação internacional da qualidade (ISO 9000), operações com adensamento da cadeia produtiva, como no caso do polo de duas rodas – com a cadeia toda integrada; há muito já feito e esta é uma lista incompleta.

Segundo dados da CNI, 36,4% do PIB do Amazonas é industrial, enquanto São Paulo possui 20,3% e o Pará 34,3%. Acontece que no Pará a matriz produtiva é dominada por mais de 50% na mineração, enquanto SP é um misto entre construção, derivados de petróleo, químicos e alimentos. No Amazonas, temos a liderança em produtos tecnológicos, com informática, eletrônicos e ópticos. Há uma estrutura com empresas globais, com forte investimento estrangeiro, há universidades produzindo mão de obra qualificada. Temos uma tradição e um ecossistema de sucesso. Isso precisa ser preservado e ampliado. Precisamos ser um exemplo da industrialização brasileira.

Amazônia Infraestrutura

(Foto: Clóvis Miranda/Amazonastur)

BAA – Há pouco tempo, o setor de duas rodas e de eletroeletrônicos mobilizaram seus fornecedores efetivos e potenciais visando adensar as respectivas cadeias produtivas. Na sua opinião, que outras ações podem divulgar as oportunidades que o PIM oferece?

Augusto – Precisamos olhar para as NCMs que produzimos e adensar as cadeias produtivas. Fazer um crescente. Replicar o esforço feito no Subsetor de Duas rodas para todos os demais subsetores, começando com os que mais faturam e assim sucessivamente. Precisamos replicar esta história de sucesso, adensando as cadeias produtivas. Compreender a dinâmica das empresas e suportá-las. Entender os negócios e simplificar a atração de investimentos para quem já está aqui ou é parceiro de uma das grandes empresas.

Na outra ponta, precisamos estimular a presença de empresas que usem os pontos fortes da biodiversidade do Amazonas. De maneira sustentável, com a integração dos cientistas e das instituições de pesquisa locais. Uma indústria baseada no bioma é ansiada pelo mundo. Precisamos entregar esta ação sustentável e demonstrar como fazer a produção respeitando a natureza. Temos tudo para isso. Poderia até dizer que temos este dever como habitantes do planeta Terra e agraciados com a oportunidade de morar aqui.

II

Vantine, um visionário da logística na Amazônia

“Ele descobriu outro embaraço ainda mais crucial: ao poder público não importava resolver essa restrição portuária. Portanto, era fácil compreender porque o Polo Industrial de Manaus estaria condenado a recorrer permanentemente às alternativas existentes.”

Coluna Follow-up

Na mesma época em que foi lançada a pedra fundamental do CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, 1998, a Suframa, Superintendência da Zona Franca de Manaus, resolveu pautar a construção do EIZOF, o Entreposto da Zona Franca de Manaus, uma estrutura  que atendesse as demandas crescentes de logística dos transportes do Polo Industrial de Manaus. O Porto Público, construído pelos ingleses no início do século XX, foi transformado numa guerrilha urbana de caráter político, política pequena, é bem verdade, que resultou no chamado quiproquó de fabricação do caos.

A ideia de construir outro Porto público, destinado à dinamização da economia da ZFM, que alcançava padrões chineses de crescimento, em vez de agregar, agravou a desunião. Ele seria construído no Porto da Siderama, um projeto de siderurgia para atender a indústria que não deu certo. Com um faturamento anual em torno de US$ 32 bi, a Suframa sempre desconfiou que projeto dessa envergadura é sinônimo das desavenças locais. Siderama, Eizof, Porto das Lajes…

Foi então que por aqui desembarcou José Geraldo Vantine, chamado pelos atores federais da indústria que teimavam em demonstrar que não vieram para Manaus a fim de remover a ZFM, como diziam os boatos na virada do século. Especialista em logística de transportes, fundador e CEO da Vantine Logistics & Supply Chain Consulting, empresa de Consultoria em Logística Supply Chain Management, desde 1986.

Desde então, coleciona mais de 800 projetos em todos os segmentos da logística portuária. Tudo que Manaus precisava para enfrentar um gargalo que os ingleses haviam resolvido em dois tempos um século atrás. A convite dos países e de grandes empresas, desatou os nós representados pelos imbróglios logísticos com soluções decisivas.

Ao chegar na Amazônia, no final dos anos 80, logo percebeu que, ao lado da riqueza natural e da indústria, já estava instalada toda a cadeia de valor das empresas de serviços logísticos: portos fluviais de navegação marítima, portos fluviais de navegação interior (balsas, empurradores), portos de navegação comercial e de passageiros, companhias de transporte fluvial, operadores logísticos etc.,etc… Apesar disso, o duopólio portuário de Manaus impedia que a competição, cláusula pétrea do capitalismo, e colocava as empresas sem outras saídas que não fossem as disponíveis no lugar.

Vantine descobriu outro embaraço ainda mais crucial: ao poder público não importava resolver essa restrição portuária. Portanto, era fácil compreender porque o Polo Industrial de Manaus estaria condenado a recorrer permanentemente às alternativas existentes.

Apesar dessa alentada bagagem, e com uma lista de projetos específicos para modernizar e racionalizar custos do Polo Industrial de Manaus, e incrementar a competitividade da indústria, restou a Vantine, referência prestigiada em Logística no Brasil, prestar robusta colaboração ao Ministério dos Transportes. Para não perder a viagem, ele topou adensar a criação do PNLT – Plano Nacional de Logística e Transportes, e do PNLP e Plano Nacional de Logística Portuária.

Foram estruturas que integraram um ministério importante que, ano após ano, entretanto, olhavam para as demandas da ZFM da mesma maneira que o GT-PPB sempre olhou para os projetos industriais que deveriam ser aprovados pela burocracia federal. Um grupo engravatado e formado pelo MDIC e MCTI, que foi organizado para licenciar (ou embargar?) os itens que poderiam ou não ser fabricados em Manaus.

Lago com montanha ao fundo Descrição gerada automaticamente

Além de atender demandas pontuais de muitas empresas de Manaus, Vantine organizou estudos técnicos e acadêmicos com as entidades da indústria para priorizar a alternativa da cabotagem como o modal mais coerente, sustentável e ajustado às demandas logísticas do Polo Industrial de Manaus. Ora, para um país que dispõe de 8000 km de costas litorâneas e 20.000 km de vias navegáveis na Amazônia, a cabotagem é uma obviedade gritante. Essa recomendação estava descrita em detalhes no PNLT, um roteiro precioso com as premissas e necessidades do modal e seus ganhos de competitividade.

Não custa perguntar a razão pela qual esta modalidade logística não foi adotada e implantada 5 décadas depois de sua comprovada necessidade pelo governo federal, responsável pelas atribuições e provimento de infraestrutura. A resposta será facilmente encontrada por nós, por nossa adesão habitual e antiga à omissão crônica da brasilidade com a Amazônia, seus potenciais e respectivas exigências de aproveitamento. Concluo essa reflexão transcrevendo alguns projetos de José Geraldo Vantine, na expectativa de que a tribo olhe para si mesma e se ponha a ensaiar o ritual nativista da coreografia de amor ao Amazonas.

BR-319 DNIT

  • SAIDA PARA O CARIBE – Ligação rodoviária pela BR-174 ligando Manaus a Boa Vista (RR), acessando de um lado a Venezuela (Puerto Cabello) e de outro a Guiana através e Georgetown. Foi muito utilizada até mesmo para ligar Manaus com a Colômbia e a pioneira foi a “Rodoviário Michelon”.
  • LIGAÇÃO BIO-OCEÂNICA – “Atlântico – Pacífico” utilizando o rio Solimões (Marañon) de Manaus até Iquitos (Peru) e via rodoviária até Piura (norte) ou Ilo (sul). Se apresentou como totalmente inviável pelo elevado investimento e baixa demanda bilateral;
  •  Criação de modelo chamado de “CENTRAL DE TRÂNSITO” que ao ser transformado em lei estadual passou a ser EIZOF – Entreposto Internacional da Zona Franca. Inicialmente funcionou dentro do Porto Público, mas depois da inauguração do EADI – Porto Seco Manaus, perdeu sua finalidade inicial;
  • EIZOF-SIDERAMA – Siderama foi uma Siderúrgica(desativada).Participei de uma consórcio em projeto executivo para lá instalar o EIZOF e transformou o local numa super estrutura de Logística e Comércio Internacional, com localização privilegiada ao lado da BR-319 (próximo ao local conhecido por Ceasa)e na margem do Rio Negro. Com mudanças de governos (SUFRAMA), o projeto foi engavetado;
  • LOGÍSTICA INTEGRADA PIM – Envolvendo mais de 200 indústrias do Polo, foi fundamental no princípio, para a sinergia nas operações de Transportes desde as fábricas até o destino (NE e SE) incluindo a gestão por Operador Logístico na contração de balsas, carretas, terminais fluviais em Manaus e Belém. Foi desenvolvido para o CIEAM / SUFRAMA, e continua aplicável na integra até hoje.
  • CORREDOR DE CONTEINER MACAPÁ – SANTANA / MANAUS – foi concebido para ser uma alternativa para evitar o transit time de navios de longo curso até o porto de Manaus. Sendo um porto de transhipment em Santana/AP, os contêineres seriam transferidos dos navios conteneiros para balsas em comboio até Manaus. Por ser projeto estruturante não foi incluindo nos Planos dos Governos Federais que se sucederam;
  • PROJETO CLAD – COMPLEXO LOGÍSTICO AMAZONAS / FLÓRIA-USA, com instalação de Armazém Alfandegado dentro do Porto Everglades (Condado de Broward/FL) incluiu instalação de linha de navegação direta de Manaus e Companhias Aéreas operando entre Manaus e Fort Lauderdale/FL. Entregue para inciativa privada;
  • PNLT – AMAZONAS – foi o primeiro Plano de Logística e Transportes desenvolvidos pelo Ministério dos Transportes. Atuamos no desenvolvimento de propostas para o estado do Amazona e a ZFM. Composto por: Polo Irradiador de Manaus (bidirecional), Eixo Leste via Santarém (BR-163), Eixo Oeste via Porto Velho (BR-319 / BR-364) e Eixo Norte via BR-174 até Boa Vista acessando a Venezuela na divisa com município de Santa Elena).

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