Manaus, 26 de outubro de 2025

A senhora, o folclore e o festival

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*Éder de Castro Gama

Continuação…

CAPÍTULO 2

Peregrinação e fé na Amazônia: as aparições Mariana em Itapiranga

A cidade de Itapiranga16 tem sua fundação colonial atrelada à cidade de Silves. Ambas no médio Amazonas, passaram pelo mesmo processo histórico de ocupação dada pela coroa portuguesa em conjunto com a conquista espiritual da Igreja Católica no século XVII, com a fundação da Missão do Saracá, na ilha banhada pelo lago com o mesmo nome, comandada por Frei Raimundo, da Ordem das Mercês no ano de 1660, reunindo as etnias indígenas Caboquenas, Buruburus e Guanavenas.

A dominação portuguesa não foi tranquila, marcada por inúmeros conflitos, inclusive em 1663. Pedro da Costa Favela, Capitão Português conhecido como “matador de índios”, foi designado para reprimir os inúmeros ataques indígenas à Missão do Saracá, selando sua alcunha, exterminando trezentas malocas, somando aproximadamente setecentos índios mortos e quatrocentos escravizados. Inclusive, vem daí o nome Rio Urubu, dado o grande número de corpos dos vencidos que desciam o rio tomado por Urubus (ave necrófago).

Em 1759, a aldeia do Saracá é elevada à categoria de Vila, com a denominação de Silves (em homenagem à cidade Portuguesa), com sede na ilha do Saracá e incorporação do território da atual cidade de Itapiranga. Em 1833, é extinta a Vila de Silves e restabelecida em 1852. Em 1922, a sede do município é transferida para Itapiranga, sendo o povoado elevado à categoria de Vila. Em 1925, a sede da Vila volta para o lugar de Silves. Em 1930, o município de Silves é anexado ao de Itacoatiara e em 1931 a sede da delegacia do distrito de Silves é fixada em Itapiranga. Em 1935, após a reconstitucionalização do Estado, Silves volta a ser autônomo. Em 1938, o município passa a ter dois distritos: o de Silves e o de Itapiranga. Em 1952, separam-se em municípios autônomos, Itapiranga e Silves17.

O município de Itapiranga conta com uma área de 4.231,13 km2, ligando-se ao Rio Amazonas pelo Paraná de Itapiranga, onde fica sua sede, fazendo limites com os municípios de Itacoatiara, Silves, Urucará, São Sebastião do Uatumã e Urucurituba. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2010, contava com uma população de 9.312 habitantes e com um colégio eleitoral estimado em aproximadamente 4.902 eleitores. O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH é o de 0,654, considerado médio. A população residente por religião é composta por católicos, com 4.766 pessoas, por evangélicos, com 2.754 pessoas, e 04 espiritas.

Liga-se a Manaus por via fluvial e terrestre. Distante da Capital do Estado a 227 km em linha reta, a forma mais rápida de se chegar a sede do município é pela Rodovia Am-010, no entroncamento a 280 km entre Manaus e Itacoatiara, entrando pela rodovia Am-363, perfazendo um total de cinco horas de viagem de ônibus de linha e quatro horas de carro de passeio. Ambas as rodovias são pavimentadas. Por via fluvial, saindo de Manaus, é preciso pegar barcos que tem destino às cidades de São Sebastião do Uatumã e Urucará, que fazem paradas no porto de Itapiranga. É importante ressaltar que não há aeroporto.

A pessoa nascida em Itapiranga é itapiranguense. Os itapiranguenses têm forte relação com os moradores da cidade de Silves, ambos se orgulham pelas belezas naturais dos lagos e de sua geografia. O ecoturismo é exercido por turistas estrangeiros que, alocados em hotéis de selva, praticam pesca esportiva, focagem de jacaré, entre outros. Além da iniciativa privada, este tipo de turismo é promovido também por comunitários. Destaca-se a união comunitária de associações de pescadores, envolvidos em causas de proteção ambiental em lagos contra os grandes barcos pesqueiros advindos do estado do Pará. Há também atividades de manejo do pescado do pirarucu, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Vem segmentando-se atividade de apicultura entre famílias ribeirinhas de comunidades próximas à cidade, denominada por Kleten Oliveira (2019) de meliponicultura18.

A cidade de Itapiranga tem como manifestação festiva as festas populares e religiosas, como o Festival Folclórico de Itapiranga, que representa tradicionalmente a disputa entre os bois-bumbás “Mineirinho” e “Surubim” 19, realizado durante o mês de junho. A festa da Padroeira Nossa Senhora de Nazaré é comemorada no mês de setembro, com a realização de arraiais e novenas. O aniversário da cidade é comemorado no mês de dezembro. Destaque também para o Carnapiranga, festa de carnaval muito popular na cidade. Em 2010, vinha crescendo na cidade um turismo religioso com as peregrinações e romarias ao “Santuário”, como é conhecido popularmente o “Campo de Oração da Sagrada Família”, local das “aparições Marianas”, imagem denominada como “Nossa Senhora Rainha do Rosário e da Paz”. Vale ressaltar que há pontos na cidade de Itapiranga como a “casa dos confidentes” que faz parte do conjunto religioso para visitação.

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16 Itapiranga é um nome de origem indígena que significa pedra vermelha, do tupi ou nheengatu, itá: pedra e piranga: vermelha.

17 Para mais informações consultar ttps://cidades.ibge.gov.br/brasil/am/itapiranga/historico

18 Meliponicultura, é atividade econômica que envolve famílias, produz renda, oportunidade e qualidade de vida, além de ter um alcance social, econômico e político que fortalece a reprodução de um modo de vida no interior do Estado do Amazonas.

19 Mineirinho e Surubim estão inscritos deste 2018 no Livro de Registro das Celebrações do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional – IPHAN, como parte do Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins.

Continua na próxima edição…

*O autor é natural de Itacoatiara, vem trabalhando com a temática sobre patrimônio cultural a mais de duas décadas. É formado em Ciências Sociais (UFAM) e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (PGSCA/UFAM) especialista em Festas Populares e Religiosas da Amazônia. Formado em Direito (ULBRA/Manaus), MBA em Gestão, Licenciamento e Auditoria Ambiental (Anhanguera-Uniderp). É professor Universitário. Publicações em coautoria nos livros “Cultura popular, patrimônio imaterial e cidades” (2007) e “Culturas populares em meio urbano” (2012). Autor do livro “A Senhora, o Folclore e o Festival” (2022). É Assessor Jurídico e vem prestando assessoria ao patrimônio imaterial etnohistória da Amazônia para empresas de licenciamento ambiental e arqueológico.

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