Manaus, 12 de março de 2025

Amazonas: História, Mistérios e Heroísmo

Compartilhe nas redes:

Recortes Pessoais

Continuação…

Capítulo 3

Frei José Resgatado

Foto em preto e branco de pessoa em pé

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Frade Carmelita

José Batista Mardel, nascido no Pará na segunda metade do Século XVIII, é um dos grandes heróis da história do Amazonas. Foi soldado, estudou para ser padre, plano que deixou ao apaixonar-se e casar-se com a jovem Maria Carmelita, com quem teve um casal de filhos. Uma tragédia pessoal, a morte decorrente de parto de sua esposa, fê-lo voltar ao convento dos Carmelitas onde, ao ser consagrado, adotou o nome de frei José dos Santos Inocentes, em alusão às crianças mandadas sacrificar por ordem de Herodes, que buscava, assim, matar Jesus, o filho de Deus, anunciado pelas profecias.

Arrasado, frei José partiu para os confins da Amazônia, talvez procurando fuga e consolação para o seu próprio martírio na realização da grandiosa obra de Deus. Sua primeira parada foi como capelão do forte de São Joaquim, no Rio Branco. Depois veio para o Lugar da Barra, atual cidade de Manaus, onde exerceu a função de Vigário Geral.

Aqui, frei José foi a principal liderança do movimento de 1832, que pregava a autonomia do Rio Negro em relação ao Grão-Pará. Historicamente, aquela sucessão de eventos ficou conhecida como a “Revolta Autonomista de Lages”. O fato é que, embora por pouco tempo, proclamou-se e instalou-se a Província do Rio Negro, a qual precisava, no entanto, para vingar, da aprovação do governo Imperial. Em razão de seu caráter intrépido, eloquência e espírito diplomático frei José foi escalado para ir à Corte defender os interesses da revolução. Evitou o caminho de Belém. Interceptado no Mato Grosso e forçado a voltar para o Lugar da Barra e, daí, para uma espécie de degredo, acabou condenado a pregar no Alto Rio Negro e no Rio Branco. No que hoje é Roraima, já idoso e doente, Frei José utilizou seus dons diplomáticos para barrar a invasão inglesa na região do Rio Pirara, atuando em nome do Império do Brasil.

Quando se fala em frei José, logo alguém levanta uma difamação que lhe fez o aventureiro e provavelmente espião inglês Alfred Russel Wallace, que escreveu um diário intitulado “Viagens pelo Amazonas e Rio Negro”, no bojo do qual solta o veneno de que Frei José teria sugerido a um comandante português o uso de roupas doentes de varíola para vencer a resistência indígena.

Uma infâmia! Fake news contra o inimigo…

O retrato, todavia, que os mais renomados historiadores do nosso estado, como Agnello Bittencourt, Arthur Cézar Ferreira Reis e Mário Ypiranga Monteiro traçam de frei José é de um grande defensor da autonomia do Amazonas, de um notável líder, de um catequista dedicado e de alguém que barrou o avanço inglês sobre região. A palavra definitiva vem de Rodrigo da Silva Pontes, Presidente da Província do Grão-Pará, in “A questão do Rio Pirara”, que escreveu ao ministro Sepetiba a respeito de frei José. Em trecho desta carta, reproduzido por José Teodoro Mascarenhas Menck, está dito que Frei José “foi mais fiel relator dos eventos que, apesar de sua idade e sua doença, seus sentimentos religiosos e seu patriotismo o tornaram ferrenho vigilante na defesa de seu país, preocupado com a conversão indígena”.

Frei José dos Santos Inocentes morreu em Manaus em 1852, não sem antes ver o seu sonho realizado na forma da Lei n°582, de 5 de setembro de 1850, proposta pelo deputado João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, a qual finalmente elevava a então Comarca do Alto Amazonas à categoria de Província.

Para minha honra, desde 26/02/2016 ocupo, no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), a cadeira de n° 36, cujo patrono é frei José dos Santos Inocentes.

Continua na próxima edição…

Views: 2

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques