Manaus, 11 de julho de 2025

O Brasil que a Amazônia quer (e pode) ser

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“Acelerar as cadeias sustentáveis da indústria, incluindo a eletroeletrônica verde, a biotecnologia, a reciclagem de resíduos perigosos e a produção de alimentos naturais”.

Às vésperas da COP 30, um chamado vem da floresta para um Brasil grande, justo e sustentável

No Brasil profundo – aquele das águas, dos saberes milenares, da biodiversidade exuberante e da juventude inquieta – pulsa uma promessa silenciosa de futuro. A Amazônia não é periferia: é centro. E, neste exato momento, às portas da COP30, ela lança ao Brasil e ao mundo um apelo: que se honre o pacto civilizatório possível entre desenvolvimento e floresta em pé. Um pacto que não pode mais ser adiado.

Bioeconomia da mimese e dos bioativos

Como nos lembra o estudo “O Brasil que o Brasil quer ser” encomendado pelo Conselho do Desenvolvimento Econômico Social Sustentável – CDESS – precisa de um esforço robusto e provocador de reposicionamento estratégico da nação com base em suas riquezas naturais e inteligência coletiva — onde a Amazônia é o laboratório vivo de soluções que o mundo ainda mal começou a compreender. Sua bioeconomia, se guiada pela ciência, tecnologia e inovação, pode gerar respostas para as grandes questões do século XXI.

Mas atenção: não qualquer bioeconomia. Falamos aqui de uma bioeconomia da mimese, que observa a natureza para dela aprender, e de uma bioeconomia dos bioativos, voltada à prospecção de fármacos para doenças tropicais negligenciadas pelos grandes laboratórios globais, por não serem suficientemente lucrativas. A Amazônia pode – e deve – responder a essas urgências, não por caridade, mas por soberania científica, sanitária e ambiental.

Ciência estratégica e tecnologia coerente com nossas vocações

O Brasil não pode continuar importando soluções genéricas. A infraestrutura científica, os centros de pesquisa, as universidades e os institutos tecnológicos precisam operar a partir de uma lógica invertida: do território para o mundo, da vocação local para a inovação global.

Queremos e podemos produzir – com inteligência tropical + ancestral – bioinsumos, alimentos funcionais, cosméticos regenerativos, tecnologias sociais e soluções energéticas autônomas para comunidades isoladas. Isso requer uma infraestrutura de ciência, tecnologia e inovação alinhada às vocações regionais, como clama o estudo

Indústria e sustentabilidade: o pacto possível

A Zona Franca de Manaus é hoje o maior exemplo de uma indústria inserida numa lógica de preservação ambiental. Mas o Polo precisa ser adensado, diversificado e interiorizado. É hora de:

ZFM 1

  • Acelerar as cadeias sustentáveis da indústria, incluindo a eletroeletrônica verde, a biotecnologia, a reciclagem de resíduos perigosos e a produção de alimentos naturais.
  • Conectar inovação urbana e saberes ancestrais.
  • Garantir arcabouço fiscal e normativo que estimule a transição para uma economia regenerativa e de baixo carbono.

Segurança alimentar e serviços ambientais: pilares de um novo pacto civilizatório

O Brasil que queremos precisa alimentar seu povo com dignidade e saúde. A Amazônia, com seus sistemas agroflorestais e culturas alimentares tradicionais, é peça-chave na construção da segurança alimentar integral, natural e sustentável. O mesmo vale para os serviços ambientais, que devem ser valorizados não apenas pelo carbono que armazenam, mas pelo ciclo da água que alimentam, pelos polinizadores que sustentam, pela regulação climática que oferecem.

A hora é agora

Como bem registra o estudo (p. 96), “não existe desenvolvimento sustentável sem enfrentar desigualdades territoriais”. O Brasil só será um país inteiro se a Amazônia for parte plena de sua equação de progresso.

A COP 30 é a hora da virada. A Amazônia – com sua indústria legal, sua juventude criativa, seus cientistas resilientes e suas comunidades guardiãs – está pronta para mostrar ao mundo um novo paradigma de prosperidade: baseado na abundância viva da floresta, na ética da cooperação e na soberania da esperança.

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