Manaus, 4 de julho de 2025

Tia Suzana

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O Carnaval, como de hábito, reuniu grande concentração de festejos populares em todo o Brasil, e cada lugar brincou a seu modo e de forma propositalmente extravagante, quer nos bailes dançantes quanto nos desfiles de escolas de samba, bandas e blocos de rua. Festa popular mais celebrada do País e que, não sendo uma invenção brasileira, ao longo do tempo tornou-se elemento da cultura nacional, neste ano transcorreu durante os quatro dias que precederam à quarta-feira de cinzas (14 de fevereiro). Em Itacoatiara, como que para justificar a sua tradição de cidade festeira, a população extravasou sua alegria apresentando-se de forma descontraída, repetindo o sucesso de anos anteriores, tanto em nível interno (festas nos clubes) quanto nos festejos de rua. No primeiro caso, o destaque maior foi atribuído ao tradicional Baile Vermelho e Preto, patrocinado pelo Náutico Esporte Clube, cujo evento foi animado pelos acordes da quase cinquentenária Banda Os Adoráveis.

O Carnaval de rua teve o seu ponto alto na terça-feira, dia 13, com o desfile no Centro de Eventos, saindo-se vencedores na categoria Blocos, em 1º Lugar, o Bloco Lucidez; em 2º, Pura Amizade; e em 3º, o Bloco do Animal. Na categoria Escolas de Samba, sagraram-se: em 1º Lugar Escola Boêmios de Itacoatiara; em 2º, Império da Colônia; e em 3º, a Escola Clube do Samba.

Nos eventos carnavalescos de rua, a atenção da população de Itacoatiara está sempre voltada para a apresentação da famosa Tia Suzana, cujo histórico, pautado na escrita do jovem professor e folclorista itacoatiarense Salomão Amazonas Barros (2007), indicamos abaixo.

Tia Suzana. Boneco gigante de pano e feições femininas. Musa do carnaval e principal atração do cenário folclórico de Itacoatiara. Idealizada pelo autodidata, repentista e poeta Wilson Vital de Mendonça (1916-1960) e criada, em 1953, pelo pescador e carnavalesco João Rosas (1920-2002), o popular João Brinjela. Originariamente intitulada de “Boneca do Jauari”, desde lá vem desfilando à frente dos blocos e cordões de rua, ao ritmo de marchinhas, uma delas homenageando às parteiras da cidade. Tradicionalmente, o cortejo saía da Praça da Matriz (antigo Boulevard Getúlio Vargas), subia a avenida Conselheiro Ruy Barbosa (atual Avenida Parque), tomava a rua Nossa Senhora do Rosário, descia a avenida 15 de Novembro, ganhava a rua Eduardo Ribeiro e em seguida a Conselheiro Ruy Barbosa. Finalmente, depois de ultrapassar o prédio da Prefeitura ganhava novamente a avenida principal para retornar à Praça da Matriz. Nas duas ou três primeiras décadas após a sua criação, teve apresentação ininterrupta, e no pós-1980, de forma esporádica. Nos anos mais recentes tem concorrido com os demais blocos de rua, no Centro de Eventos.

Armada, originariamente, em madeira e cipó-d’água, materiais esses retirados das matas do Jauarí, e coberta de chitão, sua estrutura interna em 2006 passou a ser de ferro a solda. Seu Idealizador – o segundo filho varão de Pedro Ludgero de Mendonça Lima e Maria Vital de Lima (dona Santinha) – nascido em Urucurituba, foi professor de Datilografia, Inglês e Contabilidade. Casado com Inês Pereira de Mendonça (dona Nenén), irmã de Mimi Nicanor, morou no bairro do Jauarí, onde recebia a todos indistintamente. Era alegre, espirituoso e muito prestativo.

Ainda nos dias de hoje são cantados refrões das marchinhas que o professor Wilson criou para animar foliões e acompanhantes de Tia Suzana, como este: “Ela é parteira / Põe desmentidura / Coze rasgadura / e trata de tonteira”. Cópias de suas músicas datilografadas em papel almaço e reproduzidas em carbono, eram distribuídas por toda a população de Itacoatiara.

Por outro lado, o boêmio João Brinjela, além de grande dançarino carregava a fama de namorador. Até próximo de sua morte, aos 82 anos de idade, cuidou pessoalmente da famosa boneca – cujo nome parece aludir a uma de suas várias paixões. Dado o elevado peso de Tia Suzana, que incomodava a seus dançarinos, seu interior era recheado de capim. Ficou mais leve após a reforma que recebeu cinco anos atrás. Os seus primeiros “miolos” (dançarinos que a conduziam) foram os irmãos Jacinto e José Coutinho, filhos do velho comandante fluvial Prudêncio Coutinho, e João Corococó.

Tia Suzana atualmente está sob os cuidados da carnavalesca Graciete Rosas Barbosa (nascida em 30.12.1949), filha mais velha de João Brinjela. Seu atual e principal dançarino é Jorge de Tal, um jovem pescador do bairro do Jauarí. Desde o Carnaval de rua de 2011, a bela e garbosa “Boneca de Pano do Jauarí” tem desfilado à frente de várias dezenas de foliões, arrancando aplausos de sua apaixonada e fiel torcida.

Ainda conforme Salomão Amazonas Barros: Reza a tradição que “Tia Suzana dá sorte no amor para quem participa de seu bloco, assim como cura dores de cabeça, mau olhado e qualquer outro desconforto que estiver afligindo seus admiradores”.

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Uma resposta

  1. Não sabia que meu irmão, Wilson Vital de Mendonça, tinha sido um dos criadores da Tia Suzana. Aos 80 anos, sou o único sobrevivente dos 11 filhos do primeiro matrimônio de meu Pai. Grato pela referência.

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