Manaus, 28 de outubro de 2025

Amazonas: História, Mistérios e Heroísmo

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Recortes Pessoais

Capítulo 2

Ajuricaba:

o herói morre lutando

Foto preta e branca de rosto de homem visto de perto

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Ajuricaba

Quem ama e estuda a história do Amazonas não desconhece a existência de seu maior herói: o cacique Ajuricaba, da tribo do manáos, de origem aruaque, que habitavam a região do Rio Negro e que entre os anos de 1723 à 1727, liderou uma poderosa confederação indígena em guerra contra os portugueses, impondo lhes inúmeras derrotas.

Houve outros atos de resistência, mas a de Ajuricaba foi especial e surpreendente, tanto que ocupa até hoje um lugar de honra no imaginário popular. Foi uma reação marcada pela bravura; pela organização; pela aliança entre as tribos da região contra o inimigo comum; pela existência de um estrategista no comando; pelo inicial sucesso da empreitada; pelo tempo que durou o conflito; e principalmente, porque o modus operandi do invasor europeu era brutal, a meta era o extermínio…

Na Amazônia brasileira deu-se, naquela época, não uma ocupação, uma colonização, a chegada da civilização, mas um verdadeiro genocídio. Das muitas leituras que fiz ao longo da vida encontrei, a respeito do tema, a assertiva de que, aqui, aconteceu “a maior catástrofe demográfica da história da humanidade”. A estimativa é a de que as guerras de conquista ceifaram aproximadamente cinco milhões de nativos, que representavam seis grandes troncos linguísticos e eram senhores de uma fantástica diversidade cultural.

Os carrascos dos manáos e de Ajuricaba têm nome e sobrenome: o governador do Grão-Pará e Rio Negro João Maia da Gama, o capitão João Paes do Amaral e o cabo Belchior Mendes de Moraes, os quais, vencedores, passaram a difundir a versão de que, submetido e acorrentado, a bordo de uma embarcação com destino a Belém, onde seria “julgado”, junto de vários de seus comandantes, o guerreiro preferiu atirar-se ao Rio Negro. Muito conveniente para os algozes, que estavam sendo acusados pelo vigário provincial da Companhia de Jesus no Maranhão Joseph Lopes de abusos e, também, de guerra não autorizada contra os manáos, eis que teriam permissão somente para fazer guerra a uma outra tribo, os maiapenas (Códice n° 209, livro 2, do A.H.U, fls. 37-39, doc. 1731, fevereiro, 24, Lisboa Ocidental. Bol. Pesq. CEDEAM, vol.2, n° 3, p.120, jul/dez/1983). Eu creio que, adiante, os superiores deram um jeito de “regularizar” os papéis, posto que, no fundo e no fim, ficaram satisfeitos com a remoção daquele duro obstáculo aos seus desígnios.

Ademais, suicídio não é comportamento de um herói. E ter um oponente, sob sua guarda, “suicidado”, não é novidade nas crônicas das tiranias. Heróis morrem, sim, mas morrem lutando. O mais provável – e aqui eu me socorro de uma hipótese levantada pelo professor João Renôr, que publicou inúmeros trabalhos no Boletim de Pesquisa da Comissão de Documentação e Estudos da Amazônia (CEDEAM), editado pela Ufam, sobre a guerra dos manáos, é que Ajuricaba, mesmo preso em ferros, iniciou uma pequena e improsperável rebelião dentro do barco, preferi morrer lutando a tornar-se escravo, pelo que foi, de fato, desvantagem, simplesmente assassinado pelos seus captores golpes de espadas ou a tiros de arcabuzes, os quais, a seguir, para se livrarem do corpo de delito e do prisioneiro incômodo, atirar o cadáver às águas. Assim agem os covardes em todos os tempos.

A realidade é que nada disso conseguiu sepultar o grande Ajuricaba, que segue vivo em nossas mentes e em nossos corações, o qual renasce, em cada um de nós, quando lutamos pelo maior bem de todos: a liberdade! Só lhe falta, em nossa cidade, cujo nome significa “mãe de Deus”, um lugar de honra para o seu mais ilustre filho, um monumento à altura de sua coragem e de sua importância histórica para a formação da identidade de nosso povo.

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