Manaus, 16 de abril de 2025

Amazonas: História, Mistérios e Heroísmo

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Recortes Pessoais

Continuação…

Capítulo 8

As amazonas: o protagonismo feminino e as brumas do tempo

Foto preta e branca de pessoas andando de cavalo

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Tela “Fantasia das Amazonas”, de Roland Steveson

O tabu patriarcal é tão forte que uma sociedade governada em todos os seus aspectos (social, econômico, político e cultural) pelas mulheres somente sobrevive em forma de mito, com tons de exotismo e indeterminado no tempo e no espaço.

Para efeitos desta série, trago à baila a conhecida lenda das icamiabas, as índias guerreiras da região do rio Nhamundá, fronteira entre o Amazonas e o Pará, que em 1542, segundo relato do frei espanhol Gaspar de Carvajal, foram não apenas avistadas pela expedição de Francisco Orellana, mas contra eles travaram batalhas. Os invasores logo fizeram a ligação com o mito europeu das amazonas, daí porque batizaram o grande rio com esse nome.

O colonizador, oriundo de uma sociedade patriarcal, viu e traduziu com esse olhar o suposto modo de vida das icamiabas: em tribo exclusivamente de mulheres; que supostamente extirpavam, tal como as amazonas europeias, o seio direito para melhor poder manusear o arco e flecha e que, também, descartavam os filhos do sexo masculino, ficando somente com as meninas. Uma vez por ano, no entanto, elas manteriam contato sexual com os homens da tribo dos guacaris, em rito dedicado à deusa Iaci, nas margens da lagoa da Lua, na qual mergulhavam ao fim da festa para colher um mineral do fundo, de cor verde, para confeccionar um amuleto e entregar possível pai de seu filho/filha, quase sempre em forma de sapo, chamado de Muiraquită.

Das muitas leituras que fiz, anoto algumas curiosidades, dignas de reflexão. A primeira delas relaciona-se ao nome “amazonas”. No sentido utilizado por Carvajal, com origem no idioma grego, significaria “sem seios”. Acontece que existe uma versão, bem mais razoável, a meu ver, que aponta como raiz etimológica a palavra iraniana “há-mazan”, ou seja, guerreiras. Amazon seria a forma falada pelo povo jônico, que algumas vezes lutaram juntos com as “amazonas”. Eu prefiro a segunda hipótese, embora a primeira seja a mais conhecida.

Daí surge uma outra questão, levantada com muita propriedade pela escritora amazonense Regina Melo no seu livro “Ikamiabas, filhas da noite, mulheres da Lua”, segundo a qual somente o olhar masculino seria capaz de imaginar uma mulher retirando o próprio seio, mutilando-se apenas com o objetivo de ficar mais apta ao combate… Melo tem uma frase linda – e com o mais puro olhar feminino – a respeito: “Elas amavam como mulheres, defendiam-se como guerreiras e multiplicavam-se como mães”. O mais provável é que as icamiabas tivessem apenas alguma proteção sobre o local, hipótese razoável, justo porque as icamiabas amamentavam, inclusive o filho homem, até um ano de idade, quando os entregavam aos pais. Qual o sentido em retirar um dos seios? Nenhum.

O certo é que, se as icamiabas existiram, e eu creio firmemente que sim, elas também foram vítimas do genocídio cometido pelos invasores europeus contra os povos nativos da Amazônia. A verdade, quando forte demais, porém, não pode ser apagada, pois ela vive na memória e é repassada oralmente de geração em geração. Aliás, baseado nos estudos de Marcondes Costa, Anna Silva e Rômulo Angélica, intitulado “Muiraquita, talismã arqueológico e jade procedente do Amazonas”, há evidências reais de que o mítico amuleto das icamiabas, conffecionado em pedra verde, em formato de batráquios, vinha exatamente da região do Baixo Amazonas, onde povos indígenas remanescentes desenvolveram a arte da cerâmica.

Continua na próxima edição…

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