“Por sobre muitos desses igarapés passaram pontes de madeira e pinguelas construídas e construídas a cada invernada, e algumas belas estruturas de ferro importadas da Europa (…).
Desde os primórdios e durante muitos anos a população dessa terra de meu deus padeceu com a falta de rede de abastecimento de águas saudáveis para consumo humano.
Banhada pelo rio Negro e rodeada de igarapés que recortavam os bairros antigos de São Vicente, Paiçandu e Remédios, a acanhada localidade da Barra de São José havia pouco tinha sido batizada com seu nome oficial e ainda não possuía sistema de abastecimento de água para os habitantes, o que era objeto de seguidas promessas vãs de presidentes da Província, sem que conseguissem resolver de vez, nem amenizar,essa angustiante questão social e de saúde pública.
Enquanto isso, aqui como em várias outras cidades brasileiras, os aguadeiros varavam ruas, becos e vielas entre lamaçais e buracos, atravessando regiões de cacimbas para vender água de porta em porta a quem pudesse comprar, nem sempre com base em tostões. Nesta matéria o mais bem versado foi mestre Mário Ypiranga Monteiro cujos estudos e pesquisas redundaram emimportante livro sobejamente conhecido dos historiadores.
Por sobre muitos desses igarapés passaram pontes de madeira e pinguelas construídas e reconstruídas a cada invernada, e algumas belas estruturas de ferro importadas da Europa quando as finanças provinciais começaram a melhorar, e graças à exportação de borracha ao lado de alguns outros produtos colhidos da natureza.
Nas proximidades da igreja de Nossa Senhora dos Remédios, adiante da famosa escadaria e rampa, visando pelo menos minorar o problema da população mais central e urbana, o governo local resolveu edificar um reservatório de água captada do rio Negro e destinado a servir amplamente à população.
O depósito bem pode ser comparado nos dias de hoje com um tonel gigante, feito em ferro, emposição da cabeça da rampa e em ponto mais elevado do bairro, para melhor cumprir seus objetivos.
Até 1876 não havia captação regular e armazenamento de água potável para abastecimento da população. O referido melhoramento era considerado dos mais difíceis, embora útil e urgente, diante das enormes e crescentes dificuldades pelas quais passavam os manauenses.
Foi o barão de Maracaju (Rufino Enéas Gustavo Galvão) o primeiro governante a se preocupar mais objetivamente com essa questão;” embora’ não tenha conseguido passar dos estudos técnicos necessários determinados por lei provincial.
Um contrato para fornecimento de água em vias de efetivação foi suspenso pelo presidente Sátyro de Oliveira Dias porque teria sido feito de forma contrária à lei, sem licitação pública. Arrastado por muitos anos, o serviço veio começar a ter aproveitamento pela população quase às vésperas da República. Em algumas ruas, praças e logradouros foram instaladas torneiras provisórias para que o povo pudesse recolher água encanada, ampliando-se a rede de coleta para outros pontos da cidade. Era dezembro de 1888, estando o Amazonas sob a presidência de Joaquim de Oliveira Machado.
Estes registros servem para que parte da população atual, especialmente aquela que ainda está sem abastecimento regular de água possa avaliar que, bem mais de cem anos depois daquelas primeiras experiências de torneiras coletivas, ainda nos deparamos com esse flagelo que ofende a cidadania, interfere na saúde pública e individual, demonstra a explosão populacional que tem sido imposta à cidade, e, ao mesmo tempo, sinaliza a longa e complexa trajetória de negócios e negociatas que sempre entravaram esse tipo de serviço.
Afinal, para muitas pessoas o padecimento provincial ‘continua em leno século XXI.
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