Manaus, 18 de outubro de 2024

As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida

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*Manoel Domingos

Continuação…

NAS ÁGUAS DO “SEO” MILÍCIO

Na insinuação de querer-te,
Vejo-a distante… Indolente… Espalhada.
Na encenação do meu cansaço,
Re-organizo… Reporto e friso,
Mas na sensação do desejo me desfaço,
Nos lentos degraus… Desco…

Na insinuação da indolência,
Rodeio-te de meros risos,
Quero molhar-me e te fazer meus frisos.

Tem sido assim… Assim desde a infância,
Pois pular na água é sempre uma querência.
E nesse revés de ânsias,
Fecho os olhos mudos
E te chamo já na escada do Milicio,
Quem responde é a “Alvarenga

Caio na fascinação porque tu vens
E mergulho-te inebriado, íntimo e sem hesitar.
Meu insano desejo soma-se ao teu frescor…
Agua-mor, no porto do Milicio, és cálida, cálida.
Esse banho… E para mim sinergia válida.

MENINA DOS OLHOS

Menina dos olhos…floresta perdida,
Floresta menina em olhos levada,
Perdida de Homens, de homens?… que nada!

Num laço, a menina é o banco da praça,
No abraço, é felina, é sonho e cansaço.
Menina de sonho é cunhã de seu tempo,
E é nesse campo que ela se encena ao vento.

A lua desce, bebendo sua luz
Que a jovem praiana tem no seu palmo.
Aporta sua tez no banzeiro calmo
Na cor e no dengo que ela traduz.

Menina dos olhos faz seu destino
E cai na praia, vestida de areia.
O luar que bebeu sua cor e sua chama,
E fronte e íris… da menina sereia.

GRAMÁTICA SINA

Na viagem,
Os ensejos, louvam-se lidas e prantos…
Na lida há um verso livre e uma estrofe presa.
Num pronome louco, há um cunho de incerteza,
Há um verbo desvairado que a realidade abunda,
E um adjetivo “político” e molhado que se afunda.

No pranto,
Há um poema misto em gotas de sangue latino.
Há sangue e um poema em cada grito de chuva.

Em maio,
Há o tradicional arraial do Divino.
Em Augusto Motenegro… cacauaris se encenam,
Na gramática das sinas, crenças e sinos
Encontros sintáticos nos festejos latinos
Que se averbam e que serenam.

Pelas vidas,
Há um verso branco em cada esquina,
Há uma pedra pintada em cada sina
Dos itacoatiaras algozes.
Chove…alaga… temporais atrozes,
Que desfilam em nosso imenso trópico.
Há instintos adjetivos corroendo vozes…
Sombras escassas, expostas a ditos utópicos.

Na América do Sul
Soantes paisanos…nhengatus…
Na linha do Equador há verbos
Que acionam e que velam versos
vilas sem interjeição e sem verbenas,
vilas sem outras conjunções…
Sinas fluviais, mas que valem a pena.

OLHARES DE RECREIOS

Toca a sineta da partida, e o barco corta a água…
Às vezes, não se ensaia ida por causa da mágoa,
Mas os olhares se emancipam num efêmero desvario,
E em pensamentos errantes, descem e sobem o rio.

Gastam-se nos barrancos, em dores, e resistem…
No primeiro porto, perdem a meada…voltam p’ra si.
Quanta gente na rede…quanta gente que ri.

Do próximo porto, o barco solta o seu rumo,
Navega nos escalpes dos botos e das correntezas
Recreios…recreios… afilhados dos rios
Caminhos que tecem as promissoras chegadas,
Voltas… Em compassos desenham as enseadas.

No porto seguinte…o recreio aporta em manhã silente.
No leque de rumos, outros olhares, outros mormaços.
Com risos e afagos no cós da incerteza,
Em idas e vindas, eles trazem venturas no viés da vida
Nos ermos, nas chegadas e nas partidas.

Novo passageiro! Outro pensamento nos olhares de recreios,
O barco solta outras esperanças…outros receios.

ESTAÇÕES DA VIDA

Angústias e cenas humanas revelam estações:
A do medo, no gêmeo soluço da beira,
E nos pensamentos afogados nos estirões…
É a fase dos gemidos efêmeros da violência,
Indiscreta presença, pelos afetos escusos.
Safem-se de sensações encorpadas do nada!
Das mentes jocosas… jorradas em parafusos.

A estação do Rio: Denúncia da casta natural
E dos regatões. Então escoltada pelo luar
Vai lavando todos os partos dos beiradões…
É bom vê-la, água das santas correntezas,
Cama farta dos festivos botos tucuxis
Líquida essência da vida, aporte dos verões.

A música, estação sinestésica, traduz devaneios,
Enquanto, múltipla, lastra-se no escuro dos sentidos.
O repertório d’água soma-se aos sonares do tempo,
Na canção dos Beatles…No canto dos Raízes Na balada azul…
Na melodia verde ou no ritmo blue.
Segue-me e me leva hidrolunaticamente breve,
Essa poção de som que me faz muito, muito leve.

A noite, regrada, é estação das liras, indissoluta,
Comemora com os báquicos e sóbrios,
Praças e saraus… amores, desamores e caos.

São elas que sempre me stacionam:
Medos, águas, músicas e todas as noites,
Morenas que se emblemam amazônicas,
Meus momentos, minhas estações polifônicas!

VOZES DO TEMPO

Ave sol, ave chuva, morenas e rios,
Ave Fauna, Flora e todos os cios,
Ave as raças nas Canções dos Raízes,
O verso de Celdo, o pincel de Eliberto
Marcando o suave passo da garça,
Nesta bacia de todos os matizes.

Quando buscamos o Solimões,
Na solidão ribeirinha, fatigada,
Espraiam-se propagandas,
Mostra de sinas… incentivos de fachadas.

Os líderes chamuscados na cidade,
Alinhavam mitos de promessas e desejos.
Entre as horas cegas de encantos,
Nas enseadas…nos cantos da praça,
Sussurram-se em prantos de pirraça…

Ave, Almir Diniz, Max e Gaitano, outros ecléticos,
Velando vozes enquanto houver feitos poéticos!

Sete horas de todas manhãs,
Afloram-se igarapés de desenganos,
No circo triste da vida sobem e descem os panos…
Chuva…chuveirada…que chuva! chuva longa
Embroma o espaço pseudo-lúdico das esquinas,
Enche o rio, enche o beco, friezas e sinas.

No instante finivesperal de tantos suores esquivos,
Um olhar menino gasta-se no portal da boca da noite.
Meus pensamentos estão na pressa da enxurrada…
Cruzam-se momentos encardidos nas ruas,
Camufladas nos “out doors” de adjetivações cruas.

Ave mormaços amazônicos de Márcio…
Romanceiros: Elson Farias e Anísio…sinergéticos!
Velando vozese verbos pela Amazônia e pela vida,
Enquanto houver feitos poéticos!

Continua na próxima edição…

*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.

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