Manaus, 18 de outubro de 2024

Avenida Parque: Valorização do Espaço como Produto Históricocultural para A Promoção do Turismo Urbano no Município de Itacoatiara

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*Walcilece Campos da Silva Valentim

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Turismo, da Escola Superior de Artes e Turismo – ESAT, da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Turismo.

Orientadora: Prof.ª Selma Paula Maciel

Batista, Dra.

 

AVENIDA PARQUE: VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO COMO PRODUTO HISTÓRICOCULTURAL PARA A PROMOÇÃO DO TURISMO URBANO NO MUNICÍPIO DE ITACOATIARA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Turismo pela Universidade do Estado do Amazonas, sob a orientação da Prof.ª Drª. Selma Paula Maciel Batista, em 02 de dezembro de 2020, à seguinte banca examinadora.

Profª. Drª. Selma Paula Maciel Batista

(Universidade do Estado do Amazonas)

Profª. Márcia Raquel Cavalcante Guimarães

(Universidade do Estado do Amazonas)

Francisco Gomes da Silva

(Historiador e Convidado)

 

INTRODUÇÃO

No contexto urbano, o turismo se refere a uma modalidade em que a cidade é o elemento fundamental a ser escolhido pelo turista. Esse novo conceito de turismo, de acordo com Beni (2007, p. 246), “incorpora outros produtos variados, como as paisagens e as novas funções recreativas, produtivas e simbólicas que se desenvolvem no entorno”. Todo esse conjunto de elementos existe para que possa atender a uma demanda em constante mudança, mas para que tudo isso funcione, adequadamente, o planejamento do espaço turístico urbano precisa ser sistematizado com bens e serviços que sejam capazes de atender satisfatoriamente a essa demanda. Como cita Boullón (2002, p. 57) “para que o sistema turístico possa funcionar, é preciso que os atrativos e ao empreendimento turístico acrescente-se a infra-estrutura”.

O planejamento do espaço urbano requer a participação ampla de profissionais que atuem nas diferentes áreas do conhecimento, a fim de que cada um, dentro da sua área específica, possa contribuir de maneira eficaz e eficiente não apenas na solução de problemas relacionados ao ordenamento do espaço, infraestrutura, manutenção dos equipamentos, mas também na construção e/ou resgate de outros elementos, sejam eles naturais, artificiais, adaptados e/ou culturais. Tais ações são muito importantes para que possibilite ao turista, visitante ou residente a captação da beleza desses elementos para assim poderem formar um juízo de valor daquilo que visualizam.

Considerando o espaço urbano, esse trabalho teve por objeto de estudo um dos lugares mais significativos para a memória social da população de Itacoatiara, pois guarda a identidade cultural dos habitantes do município, que está localizado na Região metropolitana de Manaus-Amazonas. Trata-se da Avenida Parque, conhecida como “Túnel Verde”, e o cartão postal da cidade que, em abril de 2020, completou 150 anos de existência. Com 1.830m de extensão e 32 metros de largura, a referida Avenida corta o traçado urbano da cidade de Itacoatiara ao meio, conta com 346 pés de oitis, árvore natural do cerrado brasileiro, considerada ideal para o sombreamento de praças e jardins. A Avenida Parque foi projetada em 1870, quando Itacoatiara era apenas uma vila e teve iniciadas as obras de urbanização e arborização, em 1928, pelo ex-prefeito judeu Isaac José Peres, que se inspirou no ChampsÉlysées de Paris, na França. Segundo Aranha e Guerra (2014, p. 29) “a atividade turística surge da combinação dos recursos naturais, culturais e sociais, que, somada ao funcionamento de vários sistemas de serviços, possibilita a exploração do setor turístico”.

Gastal e Moesch consideram, ainda, que o planejamento deste tipo de turismo estaria expresso mais efetivamente e, antes de tudo, na qualidade de vida do residente, determinando “um bem viver que encaminhe o bem receber” (2007, p.55). Como se percebe, de maneira mais ou menos semelhante, as autoras afirmam que quando os moradores de determinada localidade possuem uma qualidade de vida expressa nos serviços públicos e na infraestrutura básica que lhes são oferecidas, por exemplo, isso beneficiaria não somente os residentes do local, mas também os visitantes, bem como os investimentos urbanos que seriam fortalecidos e, desse modo, incrementariam a atratividade da cidade em seu aspecto geral.

Com este contexto, essa investigação definiu como principal objetivo identificar a relevância dos elementos identitários, localizados na extensão da Avenida Parque de Itacoatiara, para o fomento do turismo urbano. E como objetivos específicos: a) Dissertar sobre a Avenida Parque no contexto da evolução urbana; b) Investigar a percepção do usuário e residente sobre a importância da Avenida Parque para a memória social da cidade; c) Avaliar o potencial da Avenida Parque como logradouro turístico. Por este escopo foi possível apresentar os resultados conclusivos dessa pesquisa, além de recomendar ações, com a possibilidade de serem executadas, que contribuam para a viabilidade da proposta.

A fundamentação teórica apoiou-se na contribuição de diferentes autores selecionados como Roberto Boullón (2002), Mário Carlos Beni (2007), Susana Gastal, Marutschka Moesch (2007), Fábio Duarte (2007) entre outros que serão citados, em conformidade com o desenvolvimento do trabalho. Quanto aos procedimentos metodológicos, trata-se de um estudo de caso, com método de procedimento histórico e monográfico. É uma pesquisa descritiva e exploratória quanto à forma é bibliográfica e de campo, classificada como qualitativa e quantitativa.

Um dos segmentos turísticos que vem apresentando crescimento expressivo é o urbano. Algumas cidades se destacam pela produção, movimentação e transformação de seus espaços e têm como fonte econômica principal esse tipo de prática. Embora isso se projete de forma positiva em alguns aspectos, como o desenvolvimento da estrutura local, por exemplo, pode também configurar como fator negativo, na medida em que esse processo de evolução contribui para desviar o olhar humano das suas origens, ao ponto de ele sentir dificuldades de reconhecer e se localizar no seu próprio ambiente. Esse posicionamento é ratificado por Boullón (2007, p. 190) quando cita que “[…], o homem comum, ao se deslocar a outros lugares que se encontram fora das rotas normais, perdese com facilidade.”

Partindo desse pressuposto, esse estudo se propõe identificar os elementos identitários da Avenida Parque de Itacoatiara, contextualizando com o processo de evolução urbana para que a população tenha acesso a esse conhecimento e passe a dar importância ao referido espaço como símbolo de identidade local e, ainda, valorizá-lo como potencial significativo para o desenvolvimento econômico da cidade, através da atividade turística, pois, acredita-se que, a partir desse conhecimento, ações administrativas, em parceria com a comunidade, poderão ser planejadas com o propósito de não apenas melhorar a imagem da cidade, mas também estimular os residentes terem uma percepção diferente do lugar em que habitam.

Pelo exposto, a pesquisa apresenta o seguinte questionamento: Que elementos identitários guarda a Avenida Parque de Itacoatiara, em sua extensão, para o turismo urbano? Acredita-se que, com a evolução do urbano em Itacoatiara, a cidade foi perdendo sua memória social, apesar da existência de um logradouro turístico de relevância para a promoção do turismo urbano.

Com a pretensão de alcançar as respostas para a questão norteadora desta

pesquisa, foram delineados os seguintes objetivos:

Objetivo geral:

▪ Identificar os elementos identitários da Avenida Parque de Itacoatiara para a promoção do turismo urbano.

_____________________

Compreende-se objetivo como o elemento que vai direcionar a pesquisa, isto é, que serve para formular com concretização e objetividade dos resultados desejados para planejar ações, orientar os processos, medir e valorizar os resultados a serem obtidos. Por isso, o autor Michel (2009) destaca que o objetivo geral representa o interesse maior, principal do trabalho, sintetizando o que se pretende alcançar, e único; é a grande questão que se pretende comprovar, o principal alvo que se quer demonstrar e deve estar contido ou implícito no título do trabalho, associado diretamente às hipóteses de solução do problema que será pesquisado.

Objetivos Específicos:

  • Dissertar sobre a Avenida Parque no contexto da evolução urbana;
  • Investigar a percepção do usuário e residente sobre a importância da Avenida

Parque para a memória social da cidade;

  • Avaliar o potencial da Avenida Parque como logradouro turístico.

O estudo aqui relatado, por meio de seus objetivos e questionamentos, mostra-se relevante por seu aspecto investigativo e se justifica pelo fato de incitar novas discussões sobre planejamento do espaço urbano e os problemas que impedem a valorização dos ambientes como produtos culturais e turísticos de uma localidade. Nesse sentido, o ponto de partida dessa pesquisa foi a identificação dos elementos identitários da Avenida Parque no contexto da evolução urbana de Itacoatiara; em seguida, abordou-se a questão da percepção do usuário e/ou residente sobre a importância da Avenida Parque para a memória social da cidade e, finalmente, realizou-se a avaliação do potencial da Avenida como Logradouro turístico.

É importante registrar que a motivação para a realização desse trabalho partiu da inquietação pessoal da pesquisadora, após ouvir inúmeros relatos de pessoas que se utilizam do espaço diariamente para diferentes fins, mas desconhecem a contextualização histórica como a origem, os entraves sofridos antes, durante e depois de sua construção, bem como quem foram os responsáveis pela projeção do local e a importância dele para o desenvolvimento econômico da localidade, por meio, da atividade turística. Acredita-se, então, que este estudo seja relevante não apenas para a população do município de Itacoatiara, mas em especial para pesquisadores, estudantes e instituições públicas e privadas interessadas em conhecer, mais detalhadamente, a importância dos elementos atrativos que compõem a paisagem do lugar onde vivem.

Desse modo, ressalta-se que este trabalho apresenta-se fundamentado, principalmente, na visão teórico-metodológica do espaço turístico urbano de Roberto C. Boullón (2002), que discute questões de extrema relevância sobre aspectos que serão tratados nos capítulos a serem desenvolvidos nessa pesquisa. Contudo, essa não é a única fonte utilizada para subsidiar esta obra, pois outros autores como Fábio Duarte (2007), com o tema do planejamento urbanístico nas cidades, Susana Gastal, Marutschka Moesch (2007), com a abordagem acerca do sentimento de pertencimento para a valorização do turismo urbano, Mário Carlos Beni (2007), com as fichas do inventário turístico, ampliaram o entendimento sobre o tema permitindo realizar uma abordagem ampla com base no referencial mencionado.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Sabe-se que as cidades desempenham um importante papel, tanto como provedoras de emprego, moradia, serviços, quanto seus elementos estruturais como ruas, avenidas, objetos e outros, que se tornam referência da cultura não apenas para a comunidade local como também para o resto do mundo. Atualmente, cerca de 80% da população vive no perímetro urbano, fato que se tornou mais evidente com o advento da Revolução Industrial, ocasionando o crescimento territorial das cidades provocado pelo processo de industrialização e, em decorrência disso, alterou significativamente o modo de vida das pessoas.

De fato, o planejamento do espaço urbano deve ser tratado como um dos elementos essenciais no processo de desenvolvimento das cidades, uma vez que a presença física de equipamentos de qualidade, quando elaborados pelas mãos humanas, e desde que instalados de forma ordenada, acabam por harmonizar o ambiente em que se vive. Por isso, […] espaços apropriados por práticas e atividades de naturezas variadas (exemplo: trabalho, comércio, lazer, religião, política, etc.), tanto cotidianas quanto excepcionais, tanto vernáculas quanto oficiais. Essa densidade diferenciada quanto a atividades e sentidos abrigados por esses lugares constitui a sua centralidade ou excepcionalidade para a cultura local, atributos que são reconhecidos e tematizados em representações simbólicas e narrativas. Do ponto de vista físico, arquitetônico e urbanístico, esses lugares podem ser identificados e delimitados pelos marcos e trajetos desenvolvidos pela população nas atividades que lhes são próprias. Eles podem ser conceituados como lugares focais da vida social de uma localidade. (IPHAN/INRC, 2000)

Como se percebe, é importante refletir sobre o conceito de valorização dos espaços, principalmente quando se busca produzir ações que contribuam para o desenvolvimento local em todos os seus aspectos, pois isso poderá levar a um reconhecimento do ambiente como área importante para a economia, lazer e entretenimento das pessoas do lugar. No caso do local pesquisado, ressalta-se que há muito a se trabalhar para torná-lo, de fato, valorizado. Dessa forma, este estudo teve como questão central a análise dos elementos que compõem o espaço turístico urbano e suas relações com o processo de planejamento e evolução das cidades para a promoção do turismo urbano e, ainda, do resgate da memória social e do potencial da Avenida Parque como logradouro turístico.

 

EVOLUÇÃO URBANA: RELEVÂNCIA DA IDENTIDADE HISTÓRICO-CULTURAL

O resgate histórico da Avenida Parque, da sua origem, em 1870, ao momento atual, e a identificação dos elementos identitários, contextualizados com o processo de evolução urbana do município de Itacoatiara, são aspectos relevantes para promover o turismo urbano e um dos temas dissertados nessa pesquisa, pois, acredita-se que devido às transformações nas configurações espacial e demográfica, a cidade foi perdendo sua memória social. Por essa ótica, inferiu-se, que esse seja um dos fatores responsáveis pela falta de valorização do espaço pesquisado tanto por parte do poder público quanto da população residente e, por esse motivo é que se buscou encontrar as respostas para tais questionamentos que serão expostas no decorrer desse trabalho, após uma investigação mais abrangente sobre eles e de acordo com os objetivos que foram traçados para esse propósito.

Não se pode, porém, discutir sobre turismo urbano, sem antes conhecer a memória histórica de um local, pois é ela que constitui a identidade de um povo, uma vez que ela é materializada por meio de imagens, objetos, construções edificadas, entre outros elementos que guardam o passado histórico de um local ou de um grupo e faz parte de todo o processo de evolução de uma localidade, mas, na maioria das vezes, esses ícones ficam esquecidos na memória de seu povo. Por esta razão é fundamental que uma sociedade tenha acesso à sua própria história, pois, como afirma Silva (1997, p. 16) “quem perde a tradição da história, acaba perdendo todas as tradições”. Percebe-se, então, que uma sociedade sem o conhecimento de seu passado é uma sociedade sem identidade, sem representatividade e, sobretudo, que não possui sentimento de pertencimento do seu lugar de origem.

Portanto, faz-se necessário que o usuário e/ou residente atual, bem como as gerações futuras conheçam os processos de transformação que contribuíram para o desenvolvimento urbano do lugar e, concomitantemente, valorizem esse espaço como elemento determinante de sua identidade, pois proporciona o conhecimento das mais diversas manifestações sociais, culturais e históricas materializadas no local.

Historicamente, sabe-se que durante muitos séculos as cidades viveram fundamentalmente apoiadas no comércio; porém, desde o século XVIII até os dias atuais, as indústrias desenvolveram-se e, nesse sentido, tornaram-se fator primordial na economia das cidades, característica marcante da Revolução Industrial, e que constituiu a causa de crescimento de grande parte das cidades. Como esclarece Boullón, (2002, p. 189), “a cidade é um ambiente artificial inventado e construído pelo homem, cujo objetivo prático é viver em sociedade”. Com essa afirmação, o autor esclarece que a cidade começou a existir quando o homem sentiu essa necessidade, baseando-se no que já havia sido construído antes por outras sociedades, por outras culturas. Com relação ao mesmo assunto, o autor também reitera que:

Hoje em dia, a maior parte da população do mundo é urbana, e a maioria de nós nascemos, crescemos e vivemos toda a nossa vida em alguma cidade; não obstante, parece mentira que o homem urbano tenha tantas dificuldades para reconhecer esse espaço artificial que ele mesmo criou. Até mesmo na esmagadora homogeneidade do pampa, no intrincado das selvas e no abrupto das montanhas, o homem que ali nasceu identifica sem esforço os menores detalhes que a todo momento lhe servem para sua orientação e situação. (BOULLÓN, 2002, p. 190)

Dentre as alterações mencionadas existe a dificuldade do reconhecimento do espaço em que se habita, talvez pela ausência de conhecimento sobre o processo de evolução histórica do lugar e de seus aspectos gerais, pois, pelo que se sabe, a formação da identidade de um povo sofre influências diretas dos elementos presentes no ambiente. Então, se ele não tem essa compreensão, também não consegue identificá-los, muito menos reconhecê-los como elementos pertencentes a sua cultura e, portanto, trata-os de maneira irrelevante, aquém de sua história.

É importante perceber que, inicialmente, com referência ao seu surgimento, as cidades possuíam aspectos bem diferentes do que se conhece hoje, pois, estruturalmente, eram mais semelhantes a pequenas vilas, nas quais os moradores trabalhavam, de forma majoritária, na agricultura e na criação de animais domésticos. Por causa da necessidade de irrigação das plantações, localizavam-se, quase sempre, nas proximidades de rios e lagos, mas, ao longo do tempo, elas se transformaram e evoluíram de tal forma que passaram a influenciar em todos os âmbitos associados ao desenvolvimento. Por milênios, as cidades seguiram e seguem com seu processo de evolução, transformando-se sem parar e um dos acontecimentos históricos marcantes, conforme já mencionado, foi a Revolução Industrial ocorrida na Europa, que mudou não apenas os modos de produção mundo afora, mas também acelerou o processo de urbanização das cidades.

Para Lefèbvre (1999) citado por Duarte (2007, p. 37), a cidade é “um objeto definido e definitivo, um campo de ações concretas”, isto é, delimitado, com aspecto de localidade, considerando seus aspectos físicos, econômicos, sociais e históricos que vêm evoluindo ao longo do tempo. Nesse sentido, considerando o processo de evolução das cidades, pode-se dizer que ele é compatível com o de urbanização, que é entendido como o crescimento da população dos centros urbanos provocado pela industrialização e que estimula a chegada de migrantes provenientes das zonas rurais. Em razão disso, os espaços se desdobram em áreas comerciais e de prestação de serviços, disseminando a ocupação de um espaço mais amplo, alcançando, inclusive as áreas rurais mais próximas, ocasionando a expansão das cidades para fora dos seus limites.

Estima-se que, algumas cidades, de forma mundial, ocupam lugar de destaque no fluxo turístico, não somente como polos emissores, mas também como destinos turísticos e espaços receptores de demandas turísticas. Ao longo de seus 337 anos, desde a sua fundação, Itacoatiara vem passando por inúmeros processos de transformação no contexto urbano, ainda que de forma visivelmente lenta e, em razão disso, se comparada à situação de outros municípios limítrofes, ainda não conquistou um destaque em oferecer uma experiência turística diferenciada ao visitante, embora seja detentora de diversos atrativos que podem propiciar esse tipo de interação, já que suas áreas urbanas oferecem cenários sociais, culturais, físicos e estéticos sobre os quais as atividades ligadas ao turismo podem ser desenvolver e, conforme menciona Boullón (2007, p.69) “tanto os atrativos turísticos como o empreendimento e a infra-estrutura têm presença física e uma localização precisa no território”.

Portanto, a intervenção por parte das autoridades públicas com o envolvimento dos planejadores, investidores e, principalmente, da população é fundamental, pois cada um desses agentes é responsável pela fiscalização e monitoramento dos processos de transformação de um local, para que ocorra de forma continuada, visto que é muito comum ocorrer, nos municípios do interior, conflitos de cunho político-partidário,ou seja, inicia-se um determinado projeto para beneficiar a cidade, mas não se conclui porque o tempo de gestão de quem o iniciou chegou ao fim e o outro que assumiu, não dá ou não quer dar continuidade à ação que o outro começou e quem acaba prejudicado com esse tipo de atitude é, sem dúvida, a população residente.

Conforme mencionado, Itacoatiara, no que se refere à questão do desenvolvimento do potencial turístico, é uma cidade que apresenta fortes oportunidades motivadas pela disponibilidade de seus recursos naturais, artificiais e edificados que, em conjunto, fazem parte da história do município, como no caso da Avenida Parque, que desde 1870 e atualmente com 150 anos de existência, faz parte do processo de evolução da cidade. Contudo, para que tudo se desenvolva de maneira sistemática é preciso planejamento que, na visão de Boullón (2002, p. 72) tem como finalidade “o ordenamento das ações do homem sobre o território, e ocupa-se em resolver harmonicamente a construção de todo tipo de coisas, bem como em antecipar o efeito da exploração dos recursos naturais.”

Referente ao processo de urbanização, isto é, ao processo migratório do campo para a cidade, afirma-se que esse aspecto foi desencadeado pela evolução econômica que elegeu a cidade como reprodutora do capital, que devido a vários fatores se tornou um problema para os administradores públicos no âmbito municipal e estadual, por conta do crescimento rápido das cidades e da população urbana. Convém dizer que esse crescimento se manteve em equilíbrio durante algum tempo, mas, em decorrência da Revolução Industrial, cresceram tanto os fluxos comerciais quanto mudaram os modos de produção visivelmente acelerados e isso tem gerado para o homem a dificuldade de adaptar-se a essa nova realidade, principalmente quando isso engloba a questão espacial.

Com essa mesma percepção Boullón (2002, p. 189), afirma que:

Ao passo que a população do mundo começou a crescer lentamente, vivendo, em sua maioria, nas áreas rurais, que eram seu local de trabalho, as cidades mantiveram-se em equilíbrio e dentro de uma dimensão humana; mas depois, com o crescimento dos fluxos comerciais e as mudanças dos modos de produção trazidos pela Revolução Industrial, seu crescimento acelerou-se até alcançar os tamanhos gigantescos das atuais megalópoles.

Nesse contexto, percebe-se que o homem urbano tem muito mais dificuldade de reconhecer e se orientar espacialmente no ambiente urbano que ele ajudou a transformar, do que aquele que nasceu e vive fora dos limites da cidade, pois este é capaz de se localizar, sem esforço, e se orientar dentro desse espaço a partir da leitura dos elementos existentes no local onde está inserido, o que, certamente, ocorre devido a essa constante e progressiva evolução.

Por isso, agregado a esse processo da evolução urbana, apresenta-se como objeto empírico dessa pesquisa um elemento-chave na dinâmica de identificação da cidade de Itacoatiara, localizada na região metropolitana de Manaus, no estado do Amazonas, cujo perfil se destaca pela relevância histórica de todo o processo histórico, social e cultural evolutivo da cidade desde o início de sua construção.

Ao longo do tempo, diversas cidades brasileiras vêm sendo modernizadas, ou adequadas a estilos contemporâneos de urbanização e, de certa forma, transformadas em objeto de curiosidade e de desejo para pessoas que se sentem atraídas pelos adornos que elas recebem. Essas transformações, muitas das vezes, se devem à visão progressista de governantes, empresários e/ou pessoas que se preocupam com a imagem que os visitantes, clientes e, sobretudo, da população local terão dessas cidades. Como afirmam Aranha e Guerra (2014, p. 131):

A curiosidade e o encantamento por ambientes que se diferenciam do lugar habitual despertam o interesse de muitos e fazem com que se sintam impelidos a viajar. […], as comunidades ou os grupos dão continuidade às articulações que se formaram a partir de seus antepassados. No âmbito de suas atividades, forma-se o que se pode chamar de cultura, visto que as identidades se manifestam por meio das relações e práticas sociais, o que se torna condição determinante para o estabelecimento de uma memória própria em cada lugar.

Nesse sentido, constata-se que a utilização de formas diferenciadas no espaço urbano, atreladas à atratividade turística, além de incitar a curiosidade da população local a ter uma percepção mais ampla desse ambiente, também estabelece um elo entre o passado e o presente da história local onde este tipo de transformação se torna, também, um motivo de admiração de turistas e visitantes. Com relação a essa questão, Aranha e Guerra (2014, p. 134) enfatizam que:

A influência do meio ambiente no comportamento e dos modos de vida das comunidades se reflete na construção dos espaços. Estes atuam como atrativos entre uma comunidade e outra e despertam a curiosidade daqueles que, vivendo em locais de aparência e condições diferentes, se sentem estimulados a conhecer a história e a organização do país que estão visitando. (p.134)

Nesse contexto, é de extrema relevância ter o conhecimento da história e da organização do local onde se está inserido, pois a população, ao apropriar-se e reconhecer nos bens culturais eleitos como representativos de sua localidade, acaba colaborando para operar ações que visem sua preservação e consequente valorização, pois entende que nesse processo o apoio da comunidade local é fundamental, mas se faz necessário que todos estejam dispostos a participar dele.

Conhecer, valorizar e compreender a importância dos bens culturais contribui para despertar a consciência do cidadão, aguçando nele o sentimento de pertencimento de sua história, inserindo-a socialmente na comunidade. É necessário, no entanto, que, enquanto cidadão pertencente a um núcleo social, ele reconheça, sobretudo, a importância dos espaços de uso coletivo como representantes da identidade local ou global.

Segundo Margarita Barreto (1999), as transgressões dos espaços públicos, a má conservação dos lugares, a privatização das ruas, a insegurança urbana, geralmente impulsionada pelos aumentos dos índices de violência e o desprezo do poder público e privado são fatores preocupantes e que, sem dúvida interferem no desenvolvimento da atividade turística em espaços considerados de fundamental importância para uma sociedade. Para Barreto, a resposta para essa situação no espaço público e coletivo “parece estar no repensar os grandes conglomerados urbanos, partindo de um planejamento que tome em conta as necessidades humanas” (BARRETO, 1999, p. 52)

A discussão sistemática sobre a valorização dos lugares onde o potencial turístico pode ser desenvolvido e fortalecido a partir da compreensão da diversidade, tendo como referência a história e a tradição é de extrema relevância, mas é necessário ampliar o senso de cidadania e viabilizar o seu uso adequadamente como um fator de conhecimento e fortalecimento da identidade cultural da população.

Nesse sentido, o turismo urbano está intimamente ligado à ideia de transformação, de evolução das cidades em todos os aspectos, pois, segundo Castrogiovanni (2001, p. 32), “a cidade é viva […]. Com isso, sempre é possível a renovação urbana. A cidade deve ser vista como um bem cultural, onde devem ser valorizadas funções culturais que atendem à qualificação do sujeito cidadão” e, nesse contexto, não é necessário o uso de produções sofisticadas nem tecnologia avançada para atrair turistas em determinado local. Muitas vezes, um elemento urbano bem simples e, aparentemente não associado ao turismo, pode causar deslumbramento ao residente e/ou visitante e essa imagem é criada como resultado do processo de interação entre observador-observado. Com relação a isso Bóullon (2002, p. 112) explica que o turista, ao se deslocar de um lugar para outro, durante esse percurso vai percebendo muitas coisas diferentes, algumas totalmente desconhecidas, mas que chamam sua atenção.

O processo de evolução de uma cidade possibilita a integração de múltiplas atividades econômicas, não dependente de uma única indústria, além de oferecer ao residente/consumidor uma vasta oportunidade de emprego e de escolhas, assim como uma variedade de experiências sociais e culturais que uma pequena localidade não consegue manter. Podem-se elencar como exemplo as múltiplas instituições que oferecem cuidados de saúde especializados, educação, segurança social e a proliferação de eventos no âmbito da música, da arte, da dança, do desporto, entre outros. Portanto, é nas cidades que os elementos patrimoniais e empresariais mais ganham volume e a dinâmica de negócios adquire mais intensidade e projeção. Por isso, é compreensível que o turismo urbano, na atualidade, seja um dos segmentos privilegiados.

Dessa forma, o turismo urbano surge como um segmento com capacidade de possibilitar a inversão do processo de declínio em que se encontram muitas cidades. Contudo, no que se refere ao seu espaço urbano, deve-se deixar bem claro que algumas de suas áreas são mais bem-sucedidas que outras de modo que são diferentes, também, na eficácia e experiências transmitidas ao usuário. Como esclarece Hayllar… [et al] (2011, p.7) “[…], algumas áreas são mais “bem-sucedidas” que outras no desempenho dos papéis que lhes são designados. Do mesmo modo, elas diferem em sua eficácia em criar experiências significativas […].”

Assim, pode-se concluir que dentre os aspectos norteadores do turismo nas cidades, um deles é a oportunidade da geração de emprego e renda associada aos serviços turísticos seja por sua maior influência na paisagem seja por mudanças na evolução do urbano e dos seus reflexos na requalificação da imagem e valorização dos espaços locais que se tornam cada vez mais expressivos. Por isso, muitas cidades enfatizam os seus recursos patrimoniais e culturais com a intenção de aumentar o seu perfil competitivo.

Sob essa ótica, entende-se que todas as cidades têm aptidão para ser o centro de atração no turismo urbano e muitas cidades se esforçam para atingirem esse fim, criando equipamentos turísticos com a finalidade de competirem com destinos tradicionais urbanos, mas para que isso se consolide é preciso haver uma relação entre vários aspectos como segurança, motivação, integração dos residentes com o local, intervenção do poder público, por exemplo. Então, não há como intentar discorrer sobre a relevância histórica da Avenida Parque, sem que se considere o desenvolvimento da cidade em si, considerando sua evolução temporal. Por isso, no espaço destinado aos resultados e discussões o processo de evolução da cidade, será dissertada a história da Avenida Parque, contextualizando-a de acordo com o desenvolvimento urbano do município de Itacoatiara para que a população passe a conhecer, de fato, detalhes importantes sobre o lugar onde vivem.

 

A PERCEPÇÃO DO USUÁRIO E/OU RESIDENTE SOBRE A IMPORTÂNCIA DA

AVENIDA PARQUE COMO MEMÓRIA SOCIAL DA CIDADE DE ITACOATIARA

 

O turismo é um segmento no qual as práticas histórico-sociais remetem aos deslocamentos para fora do cotidiano espaço-temporal dos indivíduos e, portanto, deve ser compreendido como uma experiência que coloca o homem em contato com o novo e com o inesperado, estimulando-o a vivenciá-los e, além disso, motivando-o a olhar de outra forma para o ambiente e para as atividades que ele realiza não somente naquele momento, mas também para as que ele vivenciou em um momento passado. Essa discussão tornase evidente quando Gastal e Moesch (2007, p.10) explicam que essas práticas realizadas pelo indivíduo nos processos de deslocamento “o levariam a parar e a re-olhar, a repensar, a reavaliar, a ressignificar não só a situação, o ambiente, as práticas vivenciadas naquele momento e naquele lugar, mas muitas das suas experiências passadas.”

Percebe-se que a importância da percepção humana, quando associada à experiência turística, é fundamental, pois amplia a visão materialista dele com relação ao local, desviando-a do paradigma de que o turismo é uma atividade que visa apenas quantidade, quando, deveria, também, se focar na qualidade dos bens e serviços ofertados e nos sentimentos eles despertam para a memória social do local em que estão inseridos.

Gastal e Moesch (2007, p.46) afirmam que: “É necessário priorizar a concepção de um turismo sustentável e humano […], o qual se distancia do turismo de massa, impactante e ilusório …]”. Nessa mesma linha de pensamento, as autoras esclarecem, ainda, que uma “concepção mais contemporânea e articuladora de vivências locais e globais entre cidadãos e visitantes, entre fluxos e fixos, [resistiria] a uma produção espetacularizada, artificial, só para turistas” (2007, p.46). Desse modo, essa discussão, teoricamente, traz como sugestão a possibilidade de adotar outras práticas que oportunizem a vivência cultural desse fenômeno, estabelecendo elos entre uma tendência crítico/criativa do lazer, a experiência turística e a cidadania.

De acordo com a concepção histórica, a cidadania nasce na polis grega, passa pelo corpo das mudanças das revoluções liberais, francesa e americana, no século XVIII, até ser consolidada na Carta de Direitos, da Organização das Nações Unidas – ONU -, em 1948. Todo o seu processo de desenvolvimento ocorre em paralelo ao capitalismo que a gerou e em conjunto com as ideias iluministas que foi um movimento surgido na França, no século XVII, mas seu auge ocorreu na primeira metade do século XVIII. Defendia-se o domínio da razão sobre a visão teocêntrica, que dominava a Europa desde a Idade Média e segundo os filósofos iluministas, esta nova forma de pensamento tinha o propósito de iluminar “as trevas” na qual se encontrava a sociedade.

Assim sendo, a cidadania, em seu exercício supõe direitos civis, políticos, sociais e culturais; por isso, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, redigida na França no ano de 1789, foi um importante documento democrático, elaborado com inspiração dos ideais do Iluminismo. Segundo Manzini-Covre (1996, p. 40), além dos direitos civis, políticos, sociais e culturais, a cidadania pode ser, ainda, “estratégia de luta para uma nova sociedade” e envolveria:

[…] atender, cada vez mais, ao bem-estar da maior parte da população do planeta. Tal ação social crítica diz respeito ao exercício da cidadania como processo inventivo de cada um e de todos, de forma que possamos ter as mesmas condições comuns, regidas por normas legais de que possamos fazer uso igualmente. Avançamos daí para maior democracia (MANZINI-COVRE,1996, p. 63).

Com esse pensamento, a autora informa que o papel da cidadania capacita o homem a expor tudo aquilo que ele sente, bem como a expressá-los para o mundo. É a identidade dele que aflora e, ao mesmo tempo em que seus pensamentos e suas ações amadurecem, isso lhe possibilita saber lidar com as diferentes situações que surgirem no meio em que habita, motivando-o a buscar formas possíveis de justiça, igualdade, liberdade e, sobretudo, sua individualidade e identidade.

Entende-se, então, por cidadania, a busca por um bem-estar geral, sem, no entanto, deixar de perceber a diversidade cultural e as diferenças identitárias que se impõem dentro de uma sociedade, dentro de uma mesma cidade ou em algum elemento presente na cidade. Gastal e Moesch (2007, p.36) reforçam que “[…] a identidade se marca no reforço do que é igual, em contraste com a exclusão do que seja diferente”. Assim, observa-se que ambas agregam a cidadania à identidade e apontam a necessidade de o homem estar inserido em alguma coletividade, seja um país, uma cidade ou um bairro.

Na perspectiva do turismo, convém mencionar também que os turistas, durante o seu percurso em determinado local, têm a oportunidade de vivenciar experiências e confrontar-se com uma diversidade de situações que, certamente, o motivarão a buscar meios para lidar com essas semelhanças e diferenças. Conforme Gastal e Moesch (2007, p. 38), “[…] Buscar justo o diverso de si exige uma abertura para o mundo e uma maior capacidade de conviver com o próprio estranhamento”. Os turistas são, segundo Ignarra (2003), numa visão tradicional, consumidores de turismo, independentemente da motivação. Para a ONU (1954 apud IGNARRA, 2003, p. 15), turista é:

[…] toda pessoa, sem distinção de raça, sexo, língua e religião, que ingresse no território de uma localidade diversa daquela em que tem residência habitual e nela permaneça pelo prazo mínimo de 24 horas e máximo de seis meses, num transcorrer de um período de 12 meses, com finalidade de turismo, recreio, esporte, saúde, motivos familiares, estudos, peregrinações religiosas ou negócios, mas sem propósito de imigração.

A compreensão de muitos estudiosos sobre o fenômeno turístico é a de que sem os recursos culturais o turismo não existiria, pois, na atualidade, grande parte dos turistas viaja em busca do novo, seja ele um ambiente diferente e de pessoas com hábitos diferentes dos seus, seja de experiências que só podem ser vivenciadas ao se adentrar em culturas totalmente desconhecidas. Essa experiência que o turista busca, pode ser mais bem esclarecida na visão de Aranha e Guerra (2014, p. 133), quando expõem que:

[…] fazer turismo é viajar por prazer para fora de seu entorno habitual, e surge da vontade de conhecer valores e costumes de outros povos. Isso provoca um fluxo de pessoas que vêm e vão, procurando usufruir as qualidades especiais e características peculiares dos lugares.

Portanto, a conceituação de turismo não deve estar limitada a apenas uma definição, pois, há inúmeros estudiosos que tratam sobre a mesma temática sob diferentes olhares e ter acesso ao conhecimento sobre algumas delas pode esclarecer dúvidas que, constantemente, tornam-se alvo de discussões. Em se tratando da atividade do turismo urbano, pressupõe-se que, inicialmente, deve-se conhecer a memória histórica do local, pois é ela que constitui, de fato, essa identidade, porque guarda o passado em ícones que ficam esquecidos na memória do povo que ainda não desenvolveu o sentimento de pertencimento pelo lugar onde vive.

Ao se fazer uma leitura interpretativa dos lugares da cidade como possibilidades para o desenvolvimento do turismo, optou-se por recorrer à literatura de Gastal e Moesch, pois, para elas, as pessoas moradoras ou usuárias das cidades fazem parte dos fluxos, devendo-se motivá-las a usufruir desse espaço e a desfrutar dele como não costuma fazê-lo habitualmente. Nesse contexto, essas pessoas, então, são consideradas turistas em sua própria cidade, e seus deslocamentos são de cunho subjetivo, pois possibilitam, de acordo com as autoras, “afastamentos concretos e simbólicos do cotidiano, implicando, portanto, novas práticas e novos comportamentos diante da busca do prazer” (2007, p. 11).

Por isso Gastal e Moesch (2007, p.19), discutem que olhar a cidade com maior atenção “não é mais uma tarefa exclusiva dos turistas que a percorrem. Mesmo para os moradores das cidades, a sua complexidade coloca, cada vez mais, maiores desafios.

Decifrá-los é fundamental para sobreviver e viver nas cidades com qualidade”. A possibilidade de experimentar outras vivências e o convívio com práticas sociais, culturais e turísticas na própria cidade pode, segundo as autoras, ocorrer até mesmo no mesmo bairro em que a pessoa reside ou ao visitar um bairro qualquer de sua cidade, porque isso irá colocá-lo em contato com um espaço-temporal diferente daquele de costume. “E isso [a experiência desse turista cidadão] ocasiona surpresa, mobiliza sentimentos e comportamentos” (GASTAL e MOESCH, 2007, p. 12).

Como consequência disso, eleva-se o seu grau de cidadania, ou seja, esses residentes podem se tornar os atores principais nos processos que irão decidir sobre com que tipo de turismo e de turistas eles estarão dispostos a dividir seu próprio espaço de vivência. Considerando-se que as cidades, cada vez mais, são resultado da rede de processos simbólicos, de comportamentos e culturas diversificadas, e que abrigam experimentações, possibilitando, ao residente, o conhecimento de outros cenários, sem que seja necessário sair dos limites urbanos, “pois estes se tornaram o território da multiplicidade, permitindo ao indivíduo ser turista mesmo sem abandonar seu território” (GASTAL e MOESCH, 2007, p. 37).

Em razão disso, as autoras mencionadas chamam a atenção para uma postura cidadã, em que comunidades locais podem aprender a valorizar seus recursos naturais e culturais, segundo elas, desenvolvendo maior sentimento de pertencimento, isto é, o residente se apropria do local em que vive consciente de que faz parte dele e de tudo o que existe nele, pois, agora, considera que a cidade é lugar de apropriação e de que ele pertence a ela, pois está nela.

Sendo assim, existem muitas formas de se conhecer uma cidade e sua história e cada residente tem suas preferências ao percorrê-la em busca de se familiarizar com os elementos de um local desconhecido, e muitos “produtos turísticos” são oferecidos para atender tais preferências e esses questionamentos serão apresentados no decorrer dessa proposta com referência à percepção que o residente tem sobre a importância da Avenida Parque para a memória social do município de Itacoatiara.

Continua na próxima edição…

*Walcilece Campos da Silva Valentim. Natural de Itacoatiara. Após concluir o Curso de Magistério, iniciou a carreira de professora concursada na rede estadual de ensino. Graduada em Letras pela UFAM, possui duas especializações nessa área. Também concluiu o bacharelado em Turismo pela UEA. Ministrou aulas para alunos e alunas da Pré-escola ao ensino superior. É mãe de três filhos e avó de três netos. Atualmente é professora aposentada do Estado, mas continua ministrando aulas de Língua Portuguesa no Colégio Nossa Senhora do Rosário.

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