Em entrevista exclusiva ao portal BrasilAmazoniaAgora- BAA, Jeibi Medeiros, secretário-executivo de CT&I, apresenta os avanços e desafios do Plano Estadual de Bioeconomia em marcha, que começa a ser debatido em todos os municípios do interior para validação e envolvimento do tecido social. O plano mira a diversificação da Zona Franca de Manaus a partir dos ativos da biodiversidade amazônica.
ABERTURA
Em meio ao debate global sobre transição econômica/ecológica, o Amazonas ensaia dar um salto histórico: transformar a floresta em infraestrutura viva para o desenvolvimento sustentável. À frente dessa missão está Jeibi Medeiros, secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação da Sedecti, que lidera a construção coletiva do Plano Estadual de Bioeconomia.
Com foco em ciência aplicada, interiorização da inovação e estímulo a novas cadeias produtivas – da borracha à dermocosmética – o Plano busca alinhar os recursos da indústria local com o conhecimento amazônico e os saberes tradicionais. “Imaginar novos futuros para a Amazônia é o primeiro ato de transformação. O segundo é unir saberes para torná-los realidade”, afirma Medeiros.
BrasilAmazoniaAgora – Secretário, qual é a principal ambição do Plano Estadual de Bioeconomia do Amazonas, e quais resultados o Governo espera alcançar até o final desta década?
- Jeibi Medeiros – A ambição central do Plano é incentivar a bioeconomia como eixo estruturante do desenvolvimento do Amazonas, integrando ciência, tecnologia e saberes tradicionais. A determinação do governador Wilson Lima e do secretário Serafim Corrêa, é transformar nossa sociobiodiversidade em valor agregado para a sociedade, com geração de renda, emprego qualificado e conservação da floresta. Até 2030, nosso objetivo é apoiar e incentivar a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, estimular e ampliar as cadeias de valor em setores estratégicos, assim como fortalecer as estruturas de governança do estado voltadas ao desenvolvimento socioeconômico autossustentável.
BAA – Quais são as prioridades imediatas definidas na continuidade dos Diálogos da Bioeconomia, promovidos pela Sedecti?
- JM – No momento, a maior prioridade é alcançar o máximo de pessoas e organizações que trabalhem direta ou indiretamente com a Bioeconomia do Amazonas, de forma que os resultados dos diálogos possam refletir os anseios da nossa sociedade e partes
BAA – Quais eixos do Plano o senhor considera mais desafiadores de serem executados – e por quê?
- JM – Os cincos eixos prioritários (Governança; Ecossistema de Negócios; Descarbonização e Energias renováveis; Patrimônio cultural e genético; e Pessoas e Cultura) do Plano de Bioeconomia apresentam seus desafios e potencialidades, principalmente ao ser considerado que não esperamos que as ações do plano fiquem centralizadas na capital. Um exemplo de desafio é a interiorização da inovação, pois exige logística, conectividade, formação de pessoas e continuidade de políticas públicas.
BAA – A ausência de um parque tecnológico de bioeconomia é uma lacuna histórica. Há alguma iniciativa concreta para sua criação? Em que estágio está essa discussão?
- JM – Entre as diversas ações transversais do Plano de Bioeconomia, está previsto o apoio a espaços de incentivo à inovação e capacitação. Nesse sentido, a Sedecti já está acompanhando diversas frentes relacionadas a essas estruturas.
BAA – Como o senhor avalia o papel da bioeconomia para a diversificação, adensamento e interiorização do Polo Industrial de Manaus (PIM)?
- JM – A bioeconomia é a oportunidade mais concreta para gerar uma nova industrialização amazônica. Ela pode fornecer insumos sustentáveis, gerar novas cadeias produtivas e agregar valor à floresta. É também a ponte para o futuro do PIM, que precisa se alinhar às exigências ambientais, tecnológicas e sociais do século XXI.
BAA – A Embrapa São Carlos mantém um parque de nanobiotecnologia onde se produzem clones de seringueira para uso industrial no Sudeste. Por que o Amazonas, terra da borracha, ainda não estrutura um projeto robusto em torno dessa cadeia?
- JM – É uma pergunta que nos desafia. Precisamos superar entraves históricos, como a falta de articulação entre pesquisa e produção. No entanto, já estamos discutindo projetos com a Embrapa e outros parceiros do Estado para fortalecer essa cadeia com tecnologia, rastreabilidade e valor agregado.
BAA – Qual é o plano para ativar cadeias produtivas estratégicas, como a da borracha, açaí, andiroba, copaíba e outros ativos da sociobiodiversidade regional?
- JM O Plano de Bioeconomia tem como um dos eixos estruturantes o “Ecossistema de Negócios”, onde estamos construindo ações e alternativas de com foco na pesquisa, ampliação da assistência técnica, fortalecimento de governanças locais e outros. A orientação do governador Wilson Lima é transformar cenários de subsistência em negócios em expansão, porém sempre respeitando os conhecimentos tradicionais associados e os potenciais locais.
BAA – Existe algum projeto em desenvolvimento para atrair investimentos privados para a implantação de bioindústrias no interior do estado?
- JM – Além das ações que estão sendo desenvolvidas no eixo Ecossistema de Negócios do Plano de Bioeconomia, a Sedecti trabalha em incentivos fiscais e jurídicos para facilitar o ambiente de negócios.
BAA – Como o Plano se conecta com os programas nacionais e internacionais de financiamento climático e de inovação sustentável?
- JM – Procuramos alinhar o Plano com a Estratégia Nacional de Bioeconomia e demais agendas nacionais e internacionais. Queremos fazer do Amazonas exemplo em projetos sólidos e transparentes.
BAA – A bioeconomia demanda articulação entre diferentes instituições e atores. Como tem sido o diálogo com a academia, setor produtivo, organizações sociais e povos tradicionais nesse processo?
- JM – Temos adotado uma abordagem dialógica e integradora. Os Diálogos da Bioeconomia têm sido espaços fundamentais para construir confiança, escutar os territórios e gerar sinergias. Nossa meta é fazer do Plano Estadual de Bioeconomia uma construção coletiva — não imposta de cima para baixo, mas nutrida por redes locais e alianças globais.
BAA – Por fim, qual mensagem o senhor gostaria de deixar para a juventude amazônica que está se formando hoje nas universidades e institutos tecnológicos e que pode ser protagonista dessa nova economia com a ecologia?
- JM – Vocês são a geração que pode reinventar a economia a partir da floresta. Imaginar novos futuros para a Amazônia é o primeiro ato de transformação. O segundo é unir saberes para torná-los realidade.
A bioeconomia é muito mais que uma pauta ambiental – é uma revolução produtiva, cultural e civilizatória. A Amazônia precisa de vocês como pesquisadores, empreendedores, comunicadores e inovadores. A floresta em pé pode ser o maior polo de futuro do planeta – e esse futuro começa agora, com vocês.
Entrevista com Jeibi Medeiros
COMENTÁRIO DO BAA O Plano Estadual de Bioeconomia é mais que uma utopia tropical — é uma política concreta, com metas, eixos e ações. Mas, para sair do papel e ganhar escala, depende de engajamento, coragem institucional e protagonismo local. A entrevista de Jeibi Medeiros marca uma etapa importante desse processo: conectar ciência e floresta com um novo ciclo industrial amazônico, que reconhece que a verdadeira rique
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