Manaus, 16 de setembro de 2024

Cadeira 20:Trajetória de imortais

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*Adalgisa Hellen Torres Mendes

A cadeira n° 20 da AAL (Academia Amazonense de Letras) foi inaugurada por José Chevalier com o patrono Afonso Arinos, inicialmente representada pelo número 3. Posteriormente, durante a ocupação de Raimundo Nonato foi transferida para o número 20, sob um novo olhar de patrono, João Ribeiro, na reforma acadêmica de 1968.

Assim como as letras e os números são apenas a representação simbólica de algo, da mesma forma a cadeira ocupada por um acadêmico é um símbolo de sua história e trajetória de vida. Portanto, conheçamos agora um leve rastro destes.

José Chevalier: o Cívico

José Chevalier Carneiro de Almeida foi um dos principais fundadores da Academia Amazonense de Letras, junto de Benjamim Lima e Péricles de Moraes. Inaugurador da cadeira 3 (que viria a se tornar a 20ª), ocupou os cargos de Secretário Geral e Secretário Adjunto nesta entidade, muitas vezes fornecendo o espaço de seu Instituto de Educação para residir as reuniões acadêmicas, enquanto esta não possuía sede.

José Chevalier era um Alagoano nascido em Penedos (AL) no dia 05.09.1882. Foi grande professor, jornalista e poeta. Filho de Amélia Chevalier e Pierre Chevalier, emigrado francês. Casou com a professora Raimunda de Paula e Sousa Chevalier, com a qual teve 2 filhos.

Aos 20 anos Chevalier deslocou-se para Manaus, e aqui se formou em Direito pela Universidade Livre de Manáos em 1914, repetindo os dois últimos anos no Rio de Janeiro. Da sua carreira, foi suplente de Juiz de Direito no Tribunal de Justiça do Amazonas, integrou a Casa de Detenção e da chefatura de polícia do Amazonas. Foi tipógrafo, redator e chefe de redação. Administrou a Biblioteca Pública do Amazonas e fez parte do registro de bens do Estado.

Professor particular, deu aulas no Pedro II, Dom Bosco e Sólon de Lucena. Dada sua competência, a demanda por suas aulas foi tanta que em 1910 criou o Instituto Universitário Amazonense, um semi-externato e internato que ensinava educação moral e cívica, intelectual e física. Foi o precursor do escotismo no Amazonas, sendo um dos pioneiros do país.

José Chevalier morreu no dia 4.03.1940, no Rio de Janeiro, deixando aqui seu legado, visto nas poesias, nos jornais e na educação.

Padre Raimundo Nonato Pinheiro: o Erudito

Raimundo Nonato Pinheiro foi o segundo ocupante da cadeira n°20, tendo sido eleito no dia 8 de abril de 1949. Na sua posse em 10.01.1950 foi recebido pelo médico e escritor Djalma Batista. Sempre presentemente assíduo na Academia e no campo intelectual, foi um sacerdote que se fez filólogo, jornalista e professor. Na academia ocupou o cargo de Secretário Geral. Também foi responsável pela troca do patrono Afonso Arinos para o de João Ribeiro no período da reforma acadêmica, em que a cadeira se estabeleceu como número 20.

Pertenceu a várias instituições do Amazonas, como a Academia Amazonense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas, Conselho Estadual de Cultura, Associação Amazonense de Imprensa, União Brasileira de Escritores do Amazonas, Sociedade Amazonense de Professores e do Instituto de Antropologia da Amazônia.

Nascido no dia 10.05.1922 suas primeiras letras se deram no São Geraldo, escola de sua mãe, Diana Pinheiro. Fez o 2° no colégio salesiano Dom Bosco. Decidiu então, seguir ao sacerdócio, onde foi para os Seminários de Belém, Pará, e em São Luís no Maranhão, onde se consagrou padre em 27 de outubro de 1946.

Preenchido por sua capacidade linguística, produziu boa parte de seu trabalho nos jornais do Amazonas, tendo escrito diversos artigos e críticas nos jornais “Jornal do Comércio”, “O Jornal”, “A Gazeta”, “A Tarde”, “Diário da Tarde”, “O Universal”, “O Clarão da Imprensa”, “Manaus Magazine” e “A Crítica”. Também era famoso por seus discursos, tanto que foi orador do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Também foi professor de línguas no Instituto de Educação do Amazonas, no ginásio Amazonense Pedro II e na Escola Técnica de Comércio Rui Barbosa.

Das suas obras, Padre Nonato contribuiu para a historiografia eclesiástica amazonense, escrevendo “Fulgores de um Episcopado”, “Dom João da Matta”, que seria seu livro mais conhecido, e “Panorama Intelectual do Amazonas”. Também prefaciou “Vocabulário Etimológico Tupi do Folclore Amazônico”, de Anísio Mello.

Veio a falecer no dia 7 de dezembro de 1994.

João Ribeiro: o do Contra

João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes é o atual patrono da cadeira n°20 da AAL, tendo sido escolhido por seu grande admirador, Padre Raimundo Nonato Pinheiro, que foi um dos privilegiados a quem foi concedida a mudança de patrono, logo após a reforma acadêmica de 1968.

João Ribeiro foi historiador, filólogo, crítico literário, professor, pintor, dentre outros.

Nasceu no dia 28 de junho de 1860 em Laranjeiras, Sergipe. Em 1889 casou com Maria Luiza da Fonseca Ramos, filha de um professor do Rio de Janeiro, com quem viveria por mais de 40 anos e conceberia 16 filhos, dos quais 8 sobreviveram.

Sua formação se deu em sua cidade natal e no Ateneu sergipano. Cursou o 1° ano da faculdade de Medicina da Bahia, antes de desistir e se mudar para o Rio de Janeiro em 1881, na universidade Politécnica. Porém, no fim das contas, seu encontro com a vocação seria quando fizesse Ciências Jurídicas e Sociais, se formando em 1894.

No Rio, ingressou no mundo jornalístico, tendo escrito ensaios, contos, críticas literárias dentre outros para “O Globo” de Quintino Bocaiúva (1881), na “Época” de Zenfiro Candido (1887) no “Correio do Povo” de Sampaio Ferraz e Alfredo Madureira (1889); O Paíz (1890); Gazeta de Notícias; O Imparcial (1917); Jornal do Brasil (1925). E o Estadão de São Paulo (1926). Enquanto escritor, também foi Secretário da Biblioteca Nacional (1885-1890) e secretário do Instituto Filológico Brasileiro.

Em 1887, prestou concurso para a cadeira de Língua Portuguesa do colégio Pedro II com a tese “Morfologia e colocação dos pronomes”. Porém apenas 3 anos depois viria a entrar na escola, se ocupando na verdade, de professor de História Universal.

Durante sua vida, realizou 3 viagens à Europa. A primeira em 1885, representou o Brasil no Congresso de Propriedade Literária de Dresden, Alemanha, e passou pela Itália, França e Inglaterra. Na segunda, em 1901, foi a Áustria, nas negociações do litígio anglo-brasileiro. A terceira se deu por motivos pessoais, em maio de 1914, porém em setembro retornou ao Brasil devido à 1° Guerra Mundial.

Foi o primeiro acadêmico eleito na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 31 em lugar do falecido Luíz Guimarães Júnior.

Das suas obras podemos destacar Dicionário Gramatical (1889), História do Brasil, curso superior (1901) e A Língua Nacional (1933). A maioria de suas obras são compilações das publicações que fazia nos jornais, a exemplo Páginas de Estética (1905), O Fabordão (1910) e Colméia (1923).

Veio a falecer no dia 13.04.1934, aos 74 anos.

Francisco Gomes: o Humanista

Francisco Gomes da Silva é historiador, escritor e professor. Atual ocupante da cadeira 20 da AAL, já tendo sido Tesoureiro (2004-2005), Secretário Geral (2006-2009), Titular do Conselho Fiscal (2010-2011) e Adjunto de Tesoureiro (2018-2019), foi eleito em 24.09.1999 e tomou posse em 14.04.2000, sendo recepcionado por Robério Braga.

Filho de Pedro Gomes da Silva e Olívia Maria de Arruada Gomes, Francisco nasceu dia 24.11.1945 em Itacoatiara, Amazonas. Casou-se com Maria de Fátima Oliveira Gomes, com quem vive há quase 50 anos e teve 3 filhos e 4 netos.

Francisco realizou seus estudos no (ex) ginasial de Itacoatiara (1953-1964) e no Instituto de Educação do Amazonas (1965-1967). Em Itacoatiara, ainda estudante, fundou e dirigiu o jornal “O Idealista”. Lá também foi Secretário e Presidente do Grêmio Estudantil (1962-3) da escola e enquanto, liderou a campanha que viria a estadualizar o colégio. Em 1964-5, foi para Manaus, e lá cursou o 2° e ingressou na velha Faculdade de Filosofia da atual UFAM, cursando Pedagogia, que fez por 1 ano antes de trancar, e Direito.

Aos 13 anos de idade Francisco começou a trabalhar, tendo feito muitas coisas como sido carreteiro no mercado público, jornaleiro, balconista, entregador de mercadorias e conferente de carga e descarga no porto da cidade. Em Manaus, trabalhou como balconista, repórter policial da “A Crítica” e como colunista literário do “Jornal do Comércio”. Depois de formado e regulamentado na OAB, exerceu diversos cargos, como assessor jurídico e administrativo, secretário, chefe de gabinete e Promotor.

Com 16 anos começou a escrever, publicando seu primeiro livro “Itacoatiara, Roteiro de uma cidade” aos 19 anos. Aos 21 assinou o livro de fundação do MDB em oposição ao regime militar. Concorreu para prefeito de Itacoatiara 2 vezes, uma em 1976, e outra em 1982 na qual foi favorito; porém sua vitória não foi reconhecida, devido a pressão do regime militar para proibir a posse de candidatos da oposição. Em 1992 foi eleito vereador pelo PST. No meio de seu mandato desgostou da política partidária e saiu desta em 1995.

Resolvido a apostar na cultura e educação, Francisco derramou-se na história de Itacoatiara, desejoso de contribuir com seu povo. Produziu uma longa coletânea da cidade em livros, dentre as quais se destacam a coleção “Cronografia de Itacoatiara” e “Fundação de Itacoatiara”.

Até aqui, Francisco Gomes da Silva lançou 18 livros, sendo os três últimos: “O homem da floresta cidadão do mundo”, traços biográficos do cientista e acadêmico Euler Esteves Ribeiro; “Presidentes e Presidenciáveis da República em Itacoatiara”, em que historia a passagem pela referida cidade, entre 1906 e 1997, de vários vultos republicanos, ; e “As Pedras do Rosário”, que especula sobre fatos da História colonial de Itacoatiara reportando intercorrências do sagrado e do profano; fatos históricos municipais ocorrentes do nascimento do núcleo originário da Cidade (em 1683) à sua emancipação política (em 1874).

*Adalgisa Hellen Torres Mendes. Filha única de Jane Torres da Silva e José Lourenço Mendes, nascida em Manaus, no dia 18 de abril de 2005. Amante da leitura, se inspirou a participar do Programa Jovem Acadêmico, da Academia Amazonense de Letras, onde ocupa a Cadeira 20.

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