“Convocado a debater com o poder pública as pautas do desenvolvimento, entidade da indústria quer compartilhar sua aprendizagem na geração de emprego, renda e oportunidades na Amazônia.”
Eis, pois, algumas pistas do que o CIEAM poderá oferecer aos anfitriões do Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial, nos temas da infraestrutura, mobilidade, integração produtiva, transformação digital, bioeconomia, descarbonização, recursos humanos, entre outras pautas. De quebra, dada a extrema desinformação sobre a Amazônia, e o que por aqui acontece, será uma oportunidade ímpar de mostrar com quantas ripas se constrói uma catraia.
Foram dois convites do poder público destinados ao CIEAM, Centro da indústria do Estado do Amazonas, motivos simbólicos para marcar a historicidade deste mês de agosto de 2023, o 44º de instalação da entidade que congrega as empresas do Polo Industrial da Zona Franca de Manaus. Um deles, que se reveste de particular honraria, é a confirmação da presença e participação da entidade no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial-CNDI. Trata-se de um colegiado presidido pelo ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que também é vice-presidente da República.
O outro diz respeito à participação da entidade no colegiado de gestão do Fundo de Turismo e Interiorização do Desenvolvimento, presidido pelo secretário de Estado da Fazenda, Alex del Giglio, e formado por recursos recolhidos aos cofres estaduais pelas empresas incentivadas da indústria. Este fundo, equivalente a R$1 bilhão/ano, tem a função de diversificar, adensar e regionalizar a atividade econômica, gerar emprego e oportunidades para o tecido social.
foto: Luiz Felipe Sahd/Flickr
As duas convocações são cruciais para moldar a construção de políticas públicas abrangentes, incluindo a formação de recursos humanos e o provimento de infraestrutura competitiva, premissas do desenvolvimento sustentável. Essa presença do setor produtivo permite representar, no caso do CNDI, os interesses e as contribuições da indústria local e alinhar as prioridades com questões como Ciência, Tecnologia, Inovação, Infraestrutura, Combate à Fome e às Desigualdades Regionais, Sustentabilidade Ambiental, Saúde, Educação, Segurança Pública, entre outras.
Vale sublinhar o ineditismo dos convites, seu significado institucional e as responsabilidades que ambos implicam. Afinal, num contexto global de tantos conflitos e confrontos estéreis e danosos ao bem estar coletivo, essas iniciativas sinalizam prioridade ao entendimento e reconhecimentos dos benefícios que a interlocução construtiva sabe produzir.
Um levantamento realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado esta semana, coloca o Brasil na lista dos países com uma das maiores proporções de jovens que se encontram fora do sistema educacional e desempregados. Somos o segundo na lista quantitativa de jovens que não estudam nem trabalham. Descer ao detalhe dessa informação é mergulhar no constrangimento e, com urgência, promover a mobilização dos atores e dos instrumentos para enfrentar essa verdadeira tragédia civilizatória. E não é bem verdade que todos nem trabalham nem estudam.
No ranking de 37 países analisados pela OCDE, o segundo lugar é do Brasil na proporção de jovens fora da escola e sem trabalho – atrás só da África do Sul — Foto: JN
Um percentual oculto e sinistro mostra parcelas significativas da juventude cooptadas pelas organizações criminosas. É hora da interlocução colaborativa, da construção dos colegiados da pacificação e mobilização cívica, pautado pela maior distribuição de oportunidades, de responsabilidades e compromisso efetivo com a brasilidade.
Vivemos na região amazônica, com os mais ricos indicadores em biodiversidade e recursos naturais de toda ordem e múltiplas aplicações. Entretanto, como consequência de gestões atrapalhadas desse patrimônio, essa riqueza imensurável tem sido aproveitada pelo pior modo, marcado pela destruição e lucro imediato que deixa o caos social e as mazelas humanas e ambientais em seu rastro deletério.
foto: Pedro Guerreiro/Ag. Para
Esse processo histórico se utiliza da juventude, seu talento e vigor, como massa de manobra da violência e do caos que a descreve. Por isso, todas as atividades econômicas marcadas pela legalidade e pela sustentabilidade são cada vez mais necessárias para desempenhar o papel de reconstrução segundo as pautas da promoção socioeconômica e da conservação ambiental. A geração de 500 mil empregos dentro do programa Zona Franca de Manaus, de redução das desigualdades regionais, entre outras conquistas da indústria, sem dúvida, está na base de decisão do atual governo de manutenção da ZFM.
A presença do CIEAM no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, portanto, é uma oportunidade única de partilhar os desafios de quem optou por empreender no coração da maior floresta tropical do planeta e, depois de 56 anos, poder dizer como tem-se dado essa Ventura, propositalmente escrita sem a preposição das aventuras, no sentido usual. Ventura significa sorte (boa ou má), destino, fortuna ou acaso, segundo o dicionário. Empreender na Amazônia, pois, significa todos esses sinônimos ao mesmo tempo, dependendo apenas dos propósitos e dos compromissos de cada empreitada.
Estejamos certos que todo aquele que se dispuser a entrevistar os genuínos pioneiros e empreendedores da Amazônia vão confirmar o determinismo que se confunde com acaso até desembarcar no ponto do não-retorno: a construção do alicerce fabril em que consolidou a economia e o desenvolvimento social da Zona Franca de Manaus.
Esta jornada se torna factível e mais fluida quando os investidores contam com uma entidade que pode ser chamada de sua, onde a convivência das lideranças permite conjugar a colaboração em lugar de priorizar a concorrência, uma sacada do “oportunismo” sadio que a convivência proativa tem sempre a oferecer. Quando se chega a essa conquista, passa a ser irrelevante a entidade ter miríades de associados, se cada um deles puder dizer e reconhecer que eles mesmos contam com uma entidade para chamar de sua.
Esse raciocínio e seu respectivo estado de espírito são fecundos na busca das soluções. No caso do empreendedorismo na Amazônia, dadas as dificuldades e gargalos de toda ordem, com certeza estes são os instrumentos e os mecanismos de superação e enfrentamento de adversidades. Certamente, também, essas ferramentas de trabalho em equipe são a inspiração da metodologia da divisão institucional das atividades essenciais. Cada integrante se associa por afinidade, habilidade, interesse ou desenvoltura, onde pode render mais e dar o seu melhor. Assim são criadas as comissões nascidas a partir do chão de fábrica, dos gargalos que atrapalham o rendimento e dos entraves que comprometem a produtividade.
Eis, pois, algumas pistas do que o CIEAM poderá oferecer aos anfitriões do Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial, nos temas da infraestrutura, mobilidade, integração produtiva, transformação digital, bioeconomia, descarbonização, recursos humanos, entre outras pautas. De quebra, dada a extrema desinformação sobre a Amazônia, e o que por aqui acontece, será uma oportunidade ímpar de mostrar com quantas ripas se constrói uma catraia. Uma chance rara de integrar e inserir os avanços e acertos da ZFM no sumário da política industrial, científica, tecnológica e cultural do país.
Quanto à gestão dos fundos do FTI, de turismo e interiorização do desenvolvimento, objeto do convite do governo do Estado ao CIEAM, o que pode fazer uma entidade que representa as indústrias que levam adiante, a duras penas, um programa de desenvolvimento regional que tem um lastro quase cinquentenário de gestão de recursos escassos em tempo de crise? Ora, os recursos são escassos porque é compulsivo o confisco público da riqueza que as empresas tem gerado e que deveria ser aplicada na região.
Ora, será um momento mágico e entusiasmante aplicar recursos tão generosos na instalação de infraestrutura competitiva e adequado às peculiaridades geográficas e geoestratégica da Amazônia e, ao mesmo tempo, apostar na qualificação de recursos humanos e tecnológicos para prospectar demandas e produzir a diversificação fabril e o adensamento da inovação produtiva a partir do Polo industrial de Manaus. Por muito menos, grandes revoluções tecnológicas e nanotecnológicas se consolidaram ao redor do mundo seguindo protocolos dos propósitos associados a compromissos e responsabilidades com o interesse da coletividade.
II
Logística de transportes na Amazônia: o modo CIEAM de enfrentar os gargalos
“O Fórum de Logística do Amazonas pôs mais uma vez em pauta o gargalo da navegabilidade no esplendor de seu desafio. E o que se percebe a partir daí é uma inquietação coletiva e fecunda que assegura sempre os avanços possíveis na perspectiva do necessário.”
“A melhor forma de assegurar a proteção de um bem natural é atribuir-lhe uma função econômica”.
Este bordão, que tem acompanha as iniciativas da conservação da biodiversidade amazônica, precede a criação do programa Zona Franca de Manaus, uma política de Estado que confere benefícios fiscais para quem se dispusesse a empreender na região, comprovadamente remota e desprovida de infraestrutura competitiva. Sem incentivos, e movidos pelo extrativismo frenético, os europeus, também vieram empreender e se deram bem na região por uma razão muito simples: desenvolveram infraestrutura econômica adequada para a região. Condições necessárias para extrair e transportar a borracha de que o mundo precisava a partir do século XIX. Que lições essa movimentação tem a oferecer nos dias atuais?
Ora, se os ingleses auferiram lucros tão robustos como reza a história e agregaram valor substantivo ao próprio patrimônio é porque souberam transformar desafios em oportunidades. Os investimentos em logística de transportes adaptados às especificidades geomorfológicas da Amazônia foram cruciais. Essa reflexão tem-se estruturado a partir do acompanhamento da Comissão Setorial de Logística do CIEAM, seus debates, interação e mobilização dos atores envolvidos no setor.
Associados da entidade, órgãos públicos, associação de armadores, representantes da academia e de segmentos interessados, de forma voluntária e despojada, transformam o local de seus encontros em locus de mobilização e identificação de soluções. As soluções existem e, desde os primórdios da humanidade, a necessidade fazem com que elas apareçam.
Este ano, em Março, mais um Fórum de Logística no Amazonas, com a participação massiva de interessados, pôs em pauta as hidrovias do Arco Norte, destacando os desafios e oportunidades para as indústrias do polo industrial de Manaus. Hidrovias, no caso, é a descrição desejada de um modal que, na prática, ainda segue no estado primitivo em que a Natureza o criou. As “hidrovias” estão envoltas em processos de formação e carentes de intervenção humana para propiciar a navegação em padrões racionais de sustentabilidade. O Fórum de Logística do Amazonas pôs mais uma vez em pauta o gargalo da navegabilidade no esplendor de seu desafio.
E o que se percebe a partir daí é uma inquietação coletiva e fecunda que assegura sempre os avanços possíveis na perspectiva do necessário. A reunião, organizada e coordenada pelo professor Augusto Rocha, contou com a presença da Antaq, Capitania dos Portos, DNiT – que trouxe uma empresa qualificada para esclarecer o tamanho do desafio – entre outros, atores, cercados de associados por todos os lados.
Augusto Rocha é professor da UFAM e parceiro fundador do portal Brasil Amazônia Agora
Entre os focos destacados da extensão fluvial em debate – que começa na costa do Amapá e vem até Manaus – o lendário Rio Madeira, um afluente do Rio Amazonas, relativamente próximo à Manaus, estratégico para escoamento de cargas da indústria amazonense. Do ponto de vista hidrológico, é um Rio em estado de formação, portanto, sua bacia está sujeita à precipitação volumosa de sedimentos que interferem nas movimentações de seu circuito viário. E é justamente em sua foz, no contorno da Ilha de Trindade, é que se encontra o desafio de sua navegação.
Dragagem e ou derrocarem, os processos que permitem o balizamento, são obras de vulto, que exigem investimentos significativos e muitos riscos. A convocação do poder público tem essa função de viabilizar medidas. E, de fato, tanto o DNiT como a Antaq, manifestaram disposição em tomar providências. Nesta semana, em novo debate na sede do CIEAM, foi confirmada essa informação. Há uma iniciativa de dragagem em andamento e outras ações que merecem acompanhamento.
Outro ator que tem estado presente nas interações da Comissão de Logística é a ABAC, Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem, que tem interagido regularmente com a entidade na troca de informações e de soluções compartilhadas.
Uma delas, que considera os ciclos da enchente e da vazante nos rios da Amazônia, é alternar o calendário para utilizar embarcações com menor calado, coerente com a subida e descida das águas. Essa percepção é preciosa em vários sentidos na medida em que não compromete o volume da cabotagem e o adapta aos diversos embaraços e peculiaridades regionais.
Novos ares sopram a sensação de mudança que o país e a gestão regional começam a apresentar. Estão previstos R$48 bilhões de investimentos em diversas áreas, sendo que na infraestrutura já foram alocados R$10,2 bilhões para recuperação da BR-174, aeroportos de Coari, Fonte Boa, Parintins e São Gabriel da Cachoeira, 16 ao todo, Luz para Todos, entre outras urgências. A demanda é extensa e nos compete demonstrar sempre que “A melhor forma de assegurar a proteção de um bem natural é atribuir-lhe uma função econômica”.
A exclusão da BR-319 do PAC-2023, desse ponto de vista, é equivocada, pois a não recuperação da estrada tem sido o maior óbice da fiscalização. Com estrada, com ajuda do satélite e mobilização das comunidades locais, fica muito mais fácil e efetiva a proteção da floresta e a disseminação de benefícios às famílias alocadas no leito do traçado sem atenção básica do poder público que ali as instalou. Precisamos avançar e proteger a biodiversidade, priorizando o fator humano, a espécie mais nobre da escala evolutiva.
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