Continuação….
O Autor desta crônica, quando criança, fez o Pré-primário em 1954 e o 1º Ano A em 1955, ambos com a professora Raymunda (Diquinha) Auzier Moreira (1913-1971); o 1º Ano B em 1956 e o 2º Ano Primário em 1957, com a professora Cleide Rattes de Oliveira (1933-1968); o 3º Ano Primário em 1958, na Escola Vicente Telles, dirigida pela professora Maria José (Zezé) Athayde (1918-1985); o 4º Ano Primário em 1959, na Escola Progresso, da professora Maria Ivone Araújo Leite (1931-2011): e o 5º Ano Primário em 1960, no Grupo Escolar Coronel Cruz, então sob a direção da professora Mirtes Rosa de Mendonça Lima (1923-1989).
Nessa época, em quase todo o Amazonas, as classes de ensino reuniam alunos de todas as idades. Com a criação dos grupos escolares as classes passaram a ser distribuídas em série. Mas não havia, como há atualmente, um sistema organizado de educação pública, centrado nas redes de ensino estadual e municipal. Nos anos 1950 a maior parte das crianças em idade escolar estava fora do sistema. A função do ensino primário era a simples alfabetização. Raro era o professor ou professora a possuir diploma de curso superior.
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Como dito antes, a fundação do Grupo Escolar (atual Escola Estadual) Coronel Cruz ocorreu no início do século XX. Data de 1902 a ideia de se construir o imóvel. Em 18 de dezembro daquele ano, por determinação do governador Silvério José Nery, um servidor da Divisão de Obras do Estado foi designado para vir a Itacoatiara fazer a escolha do local que sediaria o estabelecimento. Sua construção exigiu vários estudos preliminares, como a medição da área e o orçamento da obra. O projeto, depois de pronto, foi levado à apreciação e aprovação das autoridades superiores.
Finalmente, em fins de 1914, na administração do governador Jônatas de Freitas Pedrosa (1848-1922) foi iniciada a construção do edifício, concluído em 1918, na gestão do governador Pedro de Alcântara Bacellar (1835-1927). Foi o primeiro prédio construído em alvenaria, especialmente planejado para sediar um estabelecimento público de ensino no interior do Amazonas. O segundo, do mesmo porte e igual característica, foi o Grupo Escolar Osvaldo Cruz, de Humaitá, no rio Madeira.
Inaugurado no final de 1918, na administração do superintendente João da Paz Serudo Martins, o grupo escolar de Itacoatiara recebeu a denominação de Vencesláu Brás, em homenagem ao presidente da República Vencesláu Brás Pereira Gomes (1868-1966), que governou o País em 1914-1918 e foi responsável pela liberação dos recursos para a construção do referido imóvel.
Todavia, em 1923, o oficialismo estatal retirou do grupo escolar o nome do presidente Vencesláu substituindo-o pelo de Coronel Cruz, consoante o decreto nº 1.451, baixado em 15 de março de 1923 pelo governador César do Rego Monteiro (1863-1933), o qual, além de mandar “restabelecer” o antigo grupo escolar, trouxe à baila uma homenagem ao coronel da Guarda Nacional Miguel Francisco Cruz Júnior (c.1850-c.1923), que, desde a segunda metade do século XIX à segunda década do século XX, exerceu importante papel em Itacoatiara, com repercussões tanto na vida privada quanto na pública.
Patrono: Miguel Francisco Cruz Júnior – Coronel Cruz
Pernambucano, o novo patrono do grupo escolar tinha ascendência portuguesa. Seus antepassados estavam entre os mais antigos colonizadores que, a partir do século XVIII, se deslocaram de Portugal para o nordeste brasileiro e ajudaram a colonizar o alto sertão de Pernambuco. Miguel Cruz Júnior trabalhou muito e juntou bastante dinheiro. Com a perda dos pais e atraído pelo boom da borracha, resolveu aventurar em Itacoatiara. Chegou em princípios de 1870 e, desde logo, entregou-se aos negócios de compra e venda da borracha e de outros produtos regionais.
Formou entre os coronéis da Guarda Nacional, foi chefe político, administrador da Mesa de Rendas (1887-1889) e diretor do jornal O Conservador. Eleito intendente para o período 1890/1892, em seguida foi nomeado comissário executivo (prefeito), pelo interventor federal do Amazonas Thaumaturgo de Azevedo (1851-1950), cargo que assumiu em 13 de janeiro de 1892 e do qual foi destituído em 2 de março de 1892.
Coronel Cruz viveu a vida inteira na casa nº 2396, da antiga rua Silvério Nery, atual Luzardo de Melo, construída nos anos 1860 e que até hoje mantém os traços do período áureo da borracha. Referido imóvel sediou a Chácara Rocinha, uma grande área de terra repleta de plantações e criações, a qual dominava a maior parte do quarteirão central da então vila de Serpa – e que, nas primeiras décadas do século XX seria transferida à família de João Batista de Araújo Costa (1904-1986).
Coronel Cruz deu início à construção do Cemitério Divino Espírito Santo, no bairro da Colônia, substituindo ao Cemitério São Miguel, local atualmente dominado pela Capela de São Francisco de Assis, no centro da cidade. Faleceu em meados de 1923, aos 73 anos.
Em 1929/1930, na administração do prefeito Isaac José Perez (c.1876-1945), cinco centros escolares foram postos a funcionar: as escolas municipais Herbert de Azevedo, Isacc Perez, Agnello Bittencourt, Dorval Porto e Efigênio de Salles, a primeira no Lago do Batista e as demais na cidade. Dois anos depois, a segunda teve seu nome mudado para Escola Aureliano Paes de Andrade, a qual, em 1932 foi encampada pelo Grupo Escolar Coronel Cruz.
Em 1932, durante a gestão do prefeito Gonzaga Tavares Pinheiro (1890-1978), o Grupo Escolar Coronel Cruz foi transferido para um prédio de madeira onde funcionou a escola Isaac Perez (ex-Cadeia Pública), ao lado da Igreja Matriz, sendo no edifício original instaladas a Prefeitura e a Câmara Municipal, que antes funcionavam nos altos do Palacete Aquilino Barros, sito à rua Quintino Bocaiuva.
Por fim, em 1948 o Grupo Escolar Coronel Cruz passou a funcionar em sua nova e definitiva sede, um prédio em alvenaria sito à rua Monsenhor Joaquim Pereira, número 186, que faz frente para a Praça da Catedral. O lançamento da pedra fundamental do prédio ocorreu em 27 de julho de 1946, na Interventoria federal de Júlio José da Silva Nery, e a cerimônia de sua inauguração, presidida pelo governador Leopoldo Amorim da Silva Neves (1898-1953), deu-se em março de 1948. Referido imóvel sofreria, posteriormente, várias reformas adaptando-se às novas realidades.
Desde que entrou em funcionamento, em 1919, até os dias atuais, a Escola Coronel Cruz integra a rede de ensino do Estado do Amazonas. Nesta, como em todas as escolas do País, até o surgimento da LDB de 1971, vigorou o Curso Primário (4 ou 5 séries). Foi na vigência desse sistema que, em 1960, matriculei-me no antigo grupo escolar onde concluí o 5º ano primário. No ano seguinte, submeti-me ao exame de admissão ao ginásio. Vitorioso, ingressei na Escola Comercial de Itacoatiara (atual Escola Vital de Mendonça), onde concluí o curso médio (1961-1964). Minha curta permanência no Grupo Escolar Coronel Cruz – apenas um ano – resultou numa bela experiência, forjou em mim um grande amor por esta Escola!
Em sua trajetória de mais de um século, a Escola deu guarida a cerca de 30.000 estudantes – um número muito expressivo, muito superior a um terço da população atual de Itacoatiara (avaliada em 110.000 hab). No começo (1919) eram apenas uns 80 alunos divididos entre os turnos da manhã e da tarde. Meio século depois (1969), já eram 240 (resultado de seis turmas, três em cada turno). Em 1993 contavam-se 300 alunos; em 2003, eram cerca de 350. E, finalmente, neste mês de março de 2023, são 478 alunos e alunas matriculados: o somatório de dois turnos (matutino e vespertino) vezes 8 salas resultando em 16 turmas. Nessa simples amostra de pesquisa quantitativa revela-se a pujança da Escola Coronel Cruz!
Continua na próxima edição…
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