Manaus, 2 de julho de 2025

Dança das cadeiras

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A História Política do Amazonas está recheada de troca-troca de governo. Alguns até completamente inesperados e por causas claramente injustificadas, outros em consequência de atos revolucionários, rebeldes, libertários e até por influência oligárquica, pura e simples, sem contar as ameaças que vários governantes foram sofrendo ao longo de suas administrações.

Esses episódios vêm desde o período imperial no qual os presidentes da Província, escolhidos pelo imperador Pedro 11, eram quase sempre originários de outras regiões do país e vinham designados para formar curriculum visando serem senadores vitalícios ou deputados gerais. O maior número deles nem chegou a esquentar a cadeira presidencial sendo sacados do poder por qualquer motivo, ou simplesmente pela mudança do partido (Conservador ou Liberal) na chefia do poder central.

Caso curioso foi o do presidente Theodureto Carlos de Faria Souto – o principal responsável pelo gesto heroico da “abolição” da escravatura negra no Amazonas bem antes da Lei Áurea e que teria sido afastado em razão do empenho pessoal e de sua família em promover tal libertação. A comunicação oficial do afastamento teria ficado retida em Itacoatiara para que ele pudesse consumar o fato em 10 de julho de 1884, sendo depois liberada e encaminhada a Manaus.

Ao alvorecer da República deram-se vários casos. Logo na Junta de Governo que cuidou da transição do Império para a República, o Dr. Carvalho Leal, republicano histórico e um dos principais fundadores do Clube Republicano, não suportou a aprovação de orçamento volumoso e desnecessário e pediu as contas, pressionado pelos militares que com ele compunham o triunvirato. Em seguida foi a vez da “renúncia” – a silenciosa renúncia -, de Augusto Ximeno de Villeroy alegando que não conseguia governar em razão da pressão das oligarquias amazonenses e colocando em seu lugar o tenente Eduardo Ribeiro, sem nunca mais voltar ao Amazonas prometeu chicote aos políticos amazonenses.

A esse descontrole inicial seguiu-se a acirrada disputa entre os partidos locais e Eduardo Ribeiro e Thaumaturgo de Azevedo, num entra-e-sai danado, com pequenos intervalos de outros governantes mais do que interinos: circunstanciais e designados somente para fazer cumprir as ordens federais. Thaumaturgo saiu com seus galões e tudo, tal como saíra pouco antes do governo do Piauí, pela porta dos fundos do palácio sem conseguir se reerguer na política amazonense, e Eduardo Ribeiro saiu morto, anos depois. Não houve trégua. Os irmãos Moreira mandavam e desmandavam na política partidária em conflitos e abraços
com Ribeiro, Thaumaturgo, Guerreiro Antony, Ramalho júnior, Fileto Pires e Silvério Nery (para citar, os mais proeminentes daqueles primeiros anos).

A mais clássica foi a “renúncia” fictícia de Fileto Pires Ferreira cuja carta serve para comprovar um dos maiores arremedos da política, rivalizando apenas com a sua própria eleição no famoso Congresso Foguetão em 1896. Muitas outras podem ser registradas nessa dança de cadeiras sem fim principalmente na chamada Primeira República (1889-1930), como as tentativas de Constantino Nery contra Ribeiro, o enfrentamento a Jonathas Pedrosa e a posse debaixo de bala, até culminar com a queda de Rego Monteiro depois da célebre festança do Palácio Rio Negro em que o povo foi enxotado da rua pela cavalaria militar e ele acabou deposto por Ribeiro Júnior e sua tropa do 27.0 Batalhão de Caçadores.

A dança das cadeiras tem muitas e muitas passagens curiosas, furiosas, incríveis, desmedidas, necessárias ou indispensáveis e que ainda merecem ser contadas, e tem até a dança daqueles que quase foram sem nunca terem sido, unicamente porque os “chefes” resolveram que assim seria, ou melhor, que não seriam.

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