Araújo Lima foi um importante membro da Academia Amazonense de Letras, em um período cuja amizade manifestava a época ao Presidente Doutor Adriano Jorge.
O Doutor José Francisco de Araújo Lima nasceu na Vila de Muaná, na Ilha do Marajó no Estado do Pará, no dia 9 de maio de 1884, e faleceu no Rio de Janeiro no dia 11 de junho de 1945. Foram seus pais o Doutor José Francisco de Araújo Lima e Dona Maria Amélia de Mendonça Lima, sendo seu pai juiz de Direito em Manaus e ela proprietária e regente do Colégio Santa Catarina.
Estudou as primeiras letras em Manaus, seguindo após para o Rio de Janeiro onde se matriculou na Faculdade de Medicina, mantendo-se com uma bolsa de estudo muito limitada, enviada por seus genitores. Em certa ocasião foi obrigado a parar seus estudos no segundo ano, pela suspensão de sua mesada. Com recursos próprios pôde concluir seu curso e, em seguida, regressando a Manaus, tendo dedicado seu tempo a sua clínica e como professor secundário no Ginásio Amazonense Pedro II, como era comum a época mediante concurso público, em 1905.
O professor Agnello Bittencourt, na sua obra ‘Dicionário Amazonense de Biografias – vultos do passado’, assim destaca:
(…) Quando a tradicional casa de ensino festejou seu sesquicentenário de fundação em 1936, todos os lentes foram convidados a dá um resumo de sua biografia. O Doutor Araújo Lima escreveu: Fez o curso primário no Colégio Santa Catarina e o secundário no Ginásio Amazonense Pedro II. Formou-se em Farmácia na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1902, doutorando-se em Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro, em 19012. Diplomou-se me Medicina Tropical pela Universidade de Paris, entre 1911 e 1912, conquistando o atestado do Curso de Microbiologia do Instituto Pasteur de Paris. Representou oficialmente o Governo do Amazonas, na II Conferência Brasileira de Educação. Foi Inspetor do Ensino Primário do Estado, entre 1909 e 1910. Exerceu o cargo de Diretor da Instituição Pública do Amazonas de 1 de Janeiro de 1917 à 5 de novembro de 1919. Exerceu o cargo de Prefeito de Manaus de 5 de setembro a novembro de 1924 e de 1 de janeiro de 1926 a 29 de novembro de 1929. Foi eleito Deputado Federal pelo Amazonas em 1 de março de 1930, exercendo este mandato até a dissolução da Câmara dos Deputados em 24 de outubro de 1930. Escreveu as seguintes obras: “Dos culicídios” (tese de concurso e “Ensaios sobre hemolysinas” (tese de doutoramento), “Questão do Ensino Primário”, memória apresentada ao II Congresso Brasileiro de Educação, em 1912, “Capacidade de Testar”, Falsa Demência, em 1912, Só a Educação Transforma os Povos, em 1933, “Amazônia: a Terra e o Homem”, em 1933, (Extraído o Anuário do Ginásio Amazonense Pedro II, número especial comemorativo do cinquentenário de sua fundação, pág. 11 Manaus, 1936).
Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
E continua o professor Agnello Bittencourt:
Conheci o Dr. Araújo Lima desde o seu tempo de rapaz, ainda estudante do ginásio. Em agosto de 1908, encontrei-o no Rio de Janeiro, morando juntos, ele e o seu irmão Benjamin.
Antes de se formar em Medicina, ainda residindo em Manaus, foi nomeado inspetor escolar. No desempenho do cargo, patenteou profundos conhecimentos da Pedagogia e Psicologia aplicada ao ensino primário. Escreveu um alentado volume dividido em duas partes, intitulado “Questões do Ensino Primário”. A primeira foi publicada no Diário Oficial do Estado: a segunda perdeu-se em um incêndio, à época, nas oficinas desse diário.
Entrou para o Ginásio Amazonense em 1905 tendo conquistado a cátedra de História Natural, mediante memorável concurso em que sua inteligência e cultura mais uma vez se afirmaram brilhante.
Certa ocasião, eu, professor de Geografia do estabelecimento, passava pela porta do salão de sua aula, versando sobre célula vegetal. Fui convidado para entrar, assistindo o resto da explanação. Ao final não pude saber o que mais admirar, se o desenho da célula a giz, no quadro-negro, se a didática do assunto.
Em outras oportunidades, no mesmo ginásio, e, bancas de concurso para provimento de docentes, vi-o examinando os candidatos; não mais era uma revelação de inteligência, mas sim, uma reafirmação de cultura generalizada.
Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
O Doutor Araújo Lima foi um importante membro da Academia Amazonense de Letras, em um período muito importante cuja amizade manifestava a época ao Presidente Doutor Adriano Jorge. Foi no quadriênio do Governo do Doutor Ephigenio de Salles, entre o período de 1926 a 1929, que esteve a frente da Prefeitura Municipal de Manaus.
Como se não bastassem a clínica e a dedicação ao ensino ele logo foi atraído pela politica em consequência de sua convivência com nomes importantes da política da época e naturalmente o amor que devotava ao Amazonas. Elegeu-se Deputado Federal no Pleito de 1° de março de 1930, com brilhante discurso que marcou época.
A partir daí a Câmara dos Deputados fora absorvida, cujo golpe estendeu-se por todos os outros legislativos do Brasil, além dessa violência sofreu ainda em Manaus o confisco de seus vencimentos como Professor do Ginásio Amazonense, que a esta altura estava em atraso o que correspondia 12 contos de reis e naturalmente passou por outros fatos desagradáveis.
O Doutor José Francisco de Araújo Lima casou-se com a senhora Branca Machado e Silva, filha do Barão de Machado e Silva, ilustre varão da elite amazonense. Fruto deste casamento trouxeram ao mundo três filhos: Doutor Cláudio de Araújo Lima, Doutor Ruy de Araújo Lima e dona Maria Amelia de Araújo Lima.
Na senda do progresso moral
Texto do Doutor Araújo Lima retirado da revista Rio Negrino quando foi Prefeito de Manaus no período de 1926 a 1929:
(…) O Club Rio Negro vem fazendo uma carreira ascencionalmente evolutiva, atravez das phases sucessivas porque tem traçado, na vida social amazonense, uma trajectoria victoriosa e edificante.
Do athletismo como objectivo máximo – Athletico Rio Negro Club é seu nome de baptismo – vae se encaminhando, progressivamente, às cogitações da cultura do espírito e da moral, alçando-se triumphalmente ás altas espheras do pensamento e do ideal.
Si athletismo, na sua significação cruamente gymnastica, é condemnada na era presente; si costuma ser presente; si costuma ser condemnado precisamente pelos arautos da educação physica; nem de longe se pretenda proscrever da educação da mocidade os exercicios physicos racionais e scientificos, bem comprehendidos e interpretados sabiamente no sentido moderno e avançado da cultura humana.
Banidos os excessos, os abusos, os desatinos, os exclusivismos, restarão as bellas escolas de saude e de força, que os clubs sportivos devem ter a preoccupação de realizar.
Mas a funcção social de em club, na sua objectivação nobre, na sua finalidade essencial, não é, não poderá jamais ser a de se constituir um agente de provocação e de rivalidade nas competições meramente sportivas, no seio de uma sociedade de gente culta e progressista.
Reclame-se-lhe uma actuação persuasiva, influidora de iniciativas elegantes e avançadas, tendentes ao aperfeiçoamento moral do meio, assim na sua representação mundana como na esphera mental.
Far-se-á então sob intuitos apparentemente recreativos, obra de assistencia humanitaria e de phylantropia.
E o Rio Negro já vae, em tangivel realidade, fazendo-a com o seu combate ao jogo e ao alcoolismo.
Centro de sport e de mundanismo, irradiará, pela prática dessa acção benemerita, uma força de prestigio moral, de autoridade insobrepujavel no nosso meio social.
Excercerá uma acção praticamente moralisadora sobre os costumes, ao mesmo passo que recreará a sociedade, fomentando a alegria, que é um elemento de sanear os espiritos e educará physicamente os moços, desenvolvendo-lhes o vigor sadio, com o objectivo duplo que os integra na saude do espirito e na eurhythmia da vida sã.
Araújo Lima
Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
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