O anel de brilhante
Dizem que, durante o Ciclo da Borracha, na sua fase áurea, entre os anos de 1890 e 1910, as joalherias da cidade de Manaus venderam mais diamantes, que em qualquer outra localidade do Mundo, o que pode ser um pouco exagerado, mas não tão longe da realidade.
Neste período, a produção de borracha da Amazônia representavam 70% dos negócios mundiais doo produto, gerando uma riqueza equivalente a 600 toneladas anuais de ouro puro, pagas por um produto que se tornara uma verdadeira especiaria, indispensável em certos ramos da indústria elétrica e automobilística em crescimento.
Essas 600 toneladas do dourado metal equivaleriam, aos preços de hoje, no mercado mundial, a uns U$25.000.000.000, sendo a metade gerada na sua produção, na Amazônia, e a outra metade, na comercialização, na Inglaterra e Estados Unidos. Isto equivaleria a um PIB de U$12.500, para a Amazônia, um dos maiores do mundo de então.
A miragem das libras esterlinas reluzindo e dos diamantes faiscando atraiu para Manaus gentes de todas as origens, que aqui procuravam descobrir um novo El Dorado, em plena selva equatorial. Poucos ganharam algum dinheiro, mas muito aqui ficaram presos pela malária, febre amarela e beribéri, com seus ossos enterrados em algum barranco de rio ou nos cemitérios de Manaus e das pequenas cidades do interior.
Para o Teatro Amazonas, acompanhando companhias líricas ou de teatro em revista, vinham belas coristas, algumas até hospedadas, no próprio teatro, que aproveitavam o seu tempo disponível, fora dos espetáculos, para melhorarem os seus salários divertindo o enxame de jovens e velhos que as cercavam, com galanteios, flores, perfumes e joias, na busca de seus favores.
Meu bisavô, seringalista do Javari, já cinquentão, estava nesse tempo, em Manaus, com a família, quando se encantou por uma bela corista, que vira subindo a Avenida Eduardo Ribeiro, e lhe correspondera à passagem com um sorriso e uma piscadela marota. Entusiasmado com aquela situação, preparou-se antecipadamente para a conquista.
Foi a um dos joalheiros da cidade, conhecido da família, desde os tempos em que andara por Remate de Males, e lhe comprou um anel, com um belo e solitário diamante de alto quilate, acomodado em uma caixinha aveludada.
O encontro com a bela artista já fora combinado através de um misógino, seu acompanhante, e tudo estava certo ao cair da tarde daquele dia.
Minha bisavó, por acaso, no mesmo dia, fora até ao centro, e, ao passar pela joalheria, foi inquirida pelo proprietário, com a seguinte pergunta:
– Que tal senhora, gostou do anel?
E ele logo corrigiu:
– Desculpe ter estragado a surpresa.
Na hora do almoço, meu bisavô colocou seu paletó no encosto de uma cadeira e preparou-se para a refeição. A bisavó examinou os bolsos, encontrou a caixinha e perguntou:
– O que é isso João?
– Oh! Que esquecimento Belinha, é um anel que comprei para ti.
E assim o tão planejado encontro, para a tarde daquele dia jamais aconteceu.
Duvido muito que o final tenha sido somente este…
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