Manaus, 28 de outubro de 2025

Os frutos da esperança

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Continuação…

A Amazônia de Leandro Tocantins

Quando lançado, em 1952, O rio comanda a vida causou verdadeiro reboliço nos meios intelectuais do país. Não se tratava de um livro a mais sobre a Amazônia, nem por ser de autor estreante. A obra revelava a maturidade de quem se habituara a lidar com os temas e os grandes estilos dos seus maiores intérpretes. Vê-se isso, claramente, ao longo da leitura do texto, fartamente ilustrado com a opinião dos mais notáveis estudiosos de nossa realidade – a geografia, a história, a mitologia; aspectos do folclore, dos costumes, da economia, lampejos da arte e da arquitetura e o maravilhoso das crenças religiosas, numa visão ao mesmo tempo científica e poética.

A clareza de expressão, maior virtude do gênero, é a marca distintiva de ponta a ponta destes ensaios. Em determinados momentos, o esforço de dizer aquilo que parece impossível mostrar através do milagre da palavra, Leandro Tocantins lança mão da linguagem poética, falando à emoção como ajuda ao raciocínio do leitor. Por isso, usa e abusa dos elementos próprios do idioma lírico, a harmonia da frase, a doce aliteração de que é rica a nossa língua, o claro tom vocálico adequado à fala de Camões, enfim, requintes verbais que, daí para frente, vai encontrar-se em toda a sua obra, até desembocar nos belos versos de sua poesia propriamente dita.

Esta nona edição de O rio comanda a vida, constitui uma homenagem ao trabalho incansável, do respeitado estudioso da região amazônica. Para escrever seus livros, Leandro Tocantins não se deteve em preparar-se apenas como cientista social. Para entender a Amazônia, ele buscou a erudição e a vivência dos amplos segmentos das ciências e das artes. Preparou-se nas aventuras do espírito, na coragem de enfrentar-se ante às contradições dos conflitos que angustiam o ser humano. De outra forma ele não teria realizado um livro nessas dimensões.

É, também, um reconhecimento ao trabalho de Leandro Tocantins, porque ao escritor gratifica a solidariedade do leitor, quer este aceite ou não as opiniões expendidas, quer se identifique ou não integralmente com o autor. Um reconhecimento, porque nada pode satisfazer mais o escritor do que ver o seu trabalho debatido e lido pela sociedade, não só no controvertido universo dos chamados intelectuais, mas no largo espaço dos leitores de todos os naipes, onde, verdadeiramente, reside a sabedoria nacional.

Quanto a isto este livro tem cumprido o seu papel, tanto que se encontra em nona edição, esta que é uma iniciativa da jovem Editora Valer, que sentiu a necessidade de relançá-lo ao mercado livreiro, posto ter sido a última edição lançada em 1988, portanto totalmente esgotada hoje.

As novas gerações terão oportunidade de conhecer este clássico da Amazônia, de leitura agradável, preocupado com a verdade, sem, contudo, repitamos, afastar-se da consciência de que o livro é uma obra de arte, para todos os que o amam, e, em especial, para Leandro Tocantins.

Continua na próxima edição…

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