Manaus, 15 de abril de 2025

Raízes da Amazônia Lendas I

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*Wilma Tereza dos Reis Praia

Continuação…

Outras Lendas

AS AMAZONAS

Francisco Orelhana, ao sair do Peru, seguiu o curso das correntes do mar Dulce e, ao chegar às margens do rio Amazonas, encontrou as mulheres guerreiras as Amazonas.

Gaspar de Carvajal, cronista da expedição de Francisco de Orellana, descreveu as Icamiabas, vistas por ele no encontro das águas do rio Negro com o Amazonas, como sendo mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos negros, tez clara e que andavam totalmente despidas, com arcos e flechas e guerreavam como verdadeiros índios.

Ao chegarem à aldeia das índias, os espanhóis verificaram que no centro de uma praça erigia-se um ídolo, uma espécie de símbolo em homenagem a uma poderosa senhora, rainha de uma grande nação de mulheres guerreiras. Algumas guerreiras investiram contra os espanhóis e tiraram a vida de vários indígenas que os acompanhavam.

As Amazonas são mulheres sem maridos, as Icamiabas que habitavam às margens do lago Jacyuará, que quer dizer:

“Espelho da Lua”, de onde retiravam as famosas pedras verde-claras, opacas, de uma polegada de comprimento e meia polegada de largura.

As pedras muiraquitãs, eram rijas e nelas eram realizados trabalho de relevo representando o jacaré, a onça, a tartaruga, a cobra, o veado, o sapo. Servia de amuleto eram dádivas oferecidas aos seus amantes durante a “festa do amor”, que acontecia uma única vez no decorrer do ano.

Vivendo um ritual religioso, as Icamiabas residiam na serra Yacytaperê, no rio Amazonas no famoso lago consagrado à lua denominado Jacyuaruá (Espelho da Lua). Viviam no lugar onde melhor pudessem adorar a Lua (Jacy), mãe das pedras verdes.

Eram mulheres muito bonitas, cabelos longos e pretos, olhos grandes e expressivos, lábios grossos e sensuais, esbeltas e fortes. Tiravam o seio do lado direito para manusearem com perfeição o arco e a flecha. Adoram a Lua, a quem atribuem poderes, e tinha sobre elas grande influência.

Todos os anos era realizada a “festa do amor”. Neste dia todos os guerreiros de tribos submissas eram convidados. Após a festa, todos os guerreiros eram obrigados a partir sob pena de serem sacrificados.

Ao nascerem, as crianças do sexo feminino eram criadas pelas guerreiras, as de sexo masculino eram alimentadas até completarem um ano, quando então, na próxima “festa do amor”, seriam entregues aos pais para serem criadas e educadas por eles.

Diz a lenda que as Amazonas ou Icamiabas, as nossas índias guerreiras, encontravam-se uma vez por ano com seus parceiros, no lago Yaciunará, conhecido até hoje como Espelho da Lua, para um banho nupcial.

De longe, acorriam guerreiros valentes, pois esta era a única oportunidade concedida a um homem para pisar o sagrado império das mulheres.

Perfumadas e enfeitadas e muito alegres, quando a águas límpidas refletiam por inteiro a lua e, após todo um ritual de canto e dança, as Icamiabas mergulhavam no lago encantado e traziam das profundezas o barro verde, e com ele faziam amuletos zoomorfos e os ofereciam aos seus pares.

Pela madrugada, ao término da festa, o guerreiro regressava à sua tribo levando pendurado ao pescoço o galardão mais cobiçado por um legítimo filho de Tupã.

Denominados muriaquitãs, esses talismãs trazem boa sorte, protegendo os seus portadores de todos os males e perigos.

Segundo a lenda o muiraquitã, amuleto confeccionado em jade ou ardósia, da região amazônica, se destaca pelo fascínio e mistério que envolve o mineral do qual é confeccionado, conforme a versão principal da origem da legendária tribo das Amazonas, e entre arqueólogos, historiadores e colecionadores.

O amuleto possui diversas formas: cilíndricas, antropomórficas e zoomórficas. Entre os preferidos dos indígenas, estão os de cor verde (jade) e de forma batraquiana (sapo).

Entretanto o muiraquitã também pode ser encontrado em cores de azeitona, leitosa ou escura, dependendo do material empregado em sua confecção, todos têm atributos mágicos e terapêuticos, atraindo sorte a seus detentores e curando doenças pelo seu uso.

A fama e o exotismo do talismã o tornaram cobiçado desde os primórdios da colonização da Amazônia, nos séculos XVII e XVIII, quando foi encontrado pela primeira vez nas proximidades dos rios Nhamundá e Tapajós.

Alguns exemplares podem ser apreciados atualmente, em sua região originária. Encontram-se espalhados em museus do mundo todo e em coleções particulares, mas o Museu de Santarém exibe mostra do raro artefato, e réplicas feitas em cerâmica e outros materiais.

A LENDA

Segundo os indígenas, os verdadeiros muiraquitãs são filhos da Lua retirados do fundo de um imaginário lago denominado Espelho da Lua, Iaci-uaruá, na proximidade das nascentes do rio Nhamundá, perto do qual habitavam as índias Icamiabas, nação das legendárias mulheres guerreiras que os europeus chamaram de Amazonas (mulheres sem marido).

O lago era consagrado à Lua, pelas Icamiabas, onde anualmente realizavam a Festa de Iaci, divindade mãe do muiraquitã, que lhe oferecia o precioso amuleto retirado do leito lacustre.

A festa durava vários dias, durante os quais as mulheres recebiam índios da aldeia dos Guacaris, tribo mais próxima das Icamiabas, com os quais se relacionavam e procriavam. À meia-noite, quando a Lua ficava totalmente refletida no lago, as índias mergulhavam trazendo do fundo o talismã.

Recebiam diretamente das mãos de Iaci, com o desenho que desejavam ainda mole; este petrificava-se quando em contato com o ar.

Elas então presenteavam seus parceiros Guacaris, o que os faria sempre bem recebidos onde quer que o exibissem.

AJURICABA

Na área onde foi construído o Forte de São José da Barra do Rio Negro, viviam os índios Manáos, Barés, Banibas e Passes, muitos dos quais ajudaram a construí-lo, passando a morar nas suas proximidades em palhoças humildes.

A tribo dos Manáos negava-se a ser dominada e servir de mão-de-obra escrava e, assim, entrava constantemente em confronto com os habitantes do forte. Mas as lutas terminaram quando os portugueses começaram a se casar com as filhas dos tuxauas.

Um dos líderes dos Manáos foi o indígena Ajuricaba, que se opôs à colonização dos portugueses, por isso foi aprisionado e enviado ao Pará. Sua morte ocorreu em situação misteriosa durante a viagem.

Segundo a lenda, Cerecetiua, gênio mensageiro de Tupã, anjo bom da floresta, possui poderes extraordinários para transformar as coisas, semear o bem para o belo e para a vida.

Ajuricaba, merecedor das graças de Cerecetiua é eleito tuxaua de sua tribo por sua coragem, bravura e inteligência. Se enamora de Honorata, índia belíssima de olhos castanhos, e de Boiaçu, uma encantadora nativa.

Está próxima a lua marcada para o casamento quando Jurupari, o anjo do mal, invejoso e cruel, aproveitando-se de um momento em que Honorata e Boiaçu banhavam-se nas águas tranqüilas de um paraná, encantou-as em duas enormes serpentes, dando-lhes como morada o Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.

Com esse desaparecimento misterioso, Ajuricaba tem o coração transpassado pela dor. Fogueiras e rezas para invocar Cerecetiua e implorar-lhe proteção de nada adiantaram, e Jurupari preparava nova surpresa.

Cariua-pixiuera, (estrangeiros) tripulando grandes embarcações que vomitavam fogo e destruição, saqueiam malocas, aprisionando mulheres e guerreiros. Ajuricaba desperta da paixão, empunha o tacape, o arco, a flecha e, erguendo sua voz num grito de guerra, parte com outros tuxauas à luta.

Numa batalha feroz e desigual, levam vantagens os canhões e trabucos dos Cariua-puxiuera. Uma após outra, as tribos começam a desertar dos campos de combate, incitadas por Jurupari.

Ajuricaba fica sozinho com seu espírito de guerreiro e disposição para a luta. Seus adversários impressionam-se com a sua bravura, e ferindo-o conseguem aprisioná-lo.

O Tuxaua dos Manáos seria levado para longe de sua terra, de sua gente. Quando a caravela zarpa, Ajuricaba eleva seu pensamento cheio de fé e pede a Tupã que envie Cereceitiua em seu auxílio. De repente o céu escureceu, os ventos sopraram com mais velocidade. Teias de raios cruzam o espaço, incendiando o céu e anunciando ameaçadores trovões.

A tripulação vê aproximarem-se da pequena embarcação dois monstros de olhos de fogo, cujo hálito malcheiroso emudece uns e paralisa outros. Em meio à confusão, o comandante ordena a libertação de Ajuricaba, que se jogou no rio.

Honorata e Boiaçu partem juntas em seu socorro, enquanto o pequeno barco se afasta. Na disputa pela salvação do amado, as duas terminam por esmagá-lo. O corpo inerte do guerreiro repousa agora no leito fundo do encontro dos rios Negro e Solimões, no leito de suas amadas.

Ajuricaba preferiu a morte a viver como escravo. Enfurecidas, as duas enormes serpentes travaram a maior luta jamais vista ou imaginada, destruindo-se uma a outra.

Cerecetiua, em nome de Tupã, o poderoso criador da natureza, transformou Honorata na mais exuberante seringueira e a Boiauçu, numa majestosa castanheira, uma de cada lado do Encontro das Águas.

E sentenciou que suas descendentes se propagariam pelas margens e pela floresta Amazônica, como sentinelas perenes a velar o sono eterno do guerreiro que se perpetuou pela bravura e coragem, preferindo ficar morto em sua terra a viver como escravo longe de sua gente.

Continua na próxima edição…

*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.

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