Este décimo sexto artigo dá continuidade ao conjunto de programas científicos e tecnológicos articulados entre si e integrantes da base material do desenvolvimento sustentável proposto ao Amazonas. Outros programas estruturantes de educação científica serão mostrados nos dois próximos artigos. Vários deles foram implantados na Universidade do Estado do Amazonas-UEA, no período de 2003-2010, nas gestões do Reitor Prof. Dr. Lourenço Braga e da Reitora Profa. Dra. Marilene Corrêa da Silva Freitas.
O desenvolvimento sustentável nas regiões tropicais úmidas é dependente da solução de problemas culturais e de inovações tecnológicas incorporadas às suas políticas socioeconômicas tradicionais. Ocupar e usar os seus ambientes sem os depreciar, bem como explorar racionalmente e conservar os seus recursos naturais utilizando tecnologias hightech, representam desafios para os gestores públicos e privados. Desafios que se ampliam com a necessidade em se ofertar uma política de educação pública, de qualidade e cidadã. Baseada nestes pressupostos, a formação de recursos humanos especializados coloca-se como prioridade institucional. Os programas básicos de educação científica que serão desenvolvidos nas sedes dos municípios amazonenses foram apresentados nos textos 14 e 15 que tratam da municipalização da ciência e tecnologia neste Estado. É importante lembrar que o Amazonas tem mais de 7 mil comunidades interioranas, e mais de 50% de seu território é formado por reservas e unidades de conservação.
O programa “Formação científica e tecnológica no estado da Amazonas” propõe-se formar profissionais de nível superior para gerar conhecimento e inovações cientifico-tecnológicas, assim como novos processos de gestão da produção de bens e dos serviços sustentáveis nos trópicos. Apoiará os projetos visando identificar, analisar e aperfeiçoar os processos e as estruturas institucionais para diferenciar, diversificar e materializar os arranjos socioeconômicos dos municípios das áreas ambientais protegidas.
Estimulará os projetos de formação no domínio das tecnologias sociais aplicadas à sustentabilidade dos municípios e das unidades de conservação do Amazonas, priorizando os estudos aplicados e interdisciplinares. Institucionalizará projetos que incorporarem sustentabilidades às cadeias produtivas e à gestão dos empregos e das finanças, e à educação patrimonial. Ele tem o compromisso público em desenvolver as condições institucionais para que se promovam relações equilibradas e sustentáveis com a natureza amazônica e a conservação do seu patrimônio ambiental.
A Universidade do Estado da Amazonas (UEA), a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em parcerias com outras instituições públicas e privadas brasileiras, continuarão sendo mobilizadas para sediarem e acolherem programas de pós-graduação, em nível de mestrado e doutorado, associados à formação tecnológica dirigida ao desenvolvimento sustentável do Amazonas.
Destaque aos programas de ecologia, sociologia, antropologia, arqueologia, linguística, geografia física e humana, logística, ciências meteorológicas, ciências ambientais, engenharias de: computação, mecânica, produção, química, eletrônica, naval, eléctrica, novos materiais, transporte, florestal, das águas e várzeas, medicina tropical, odontologia, biotecnologia e desenvolvimento sustentável.
Para definir a oferta dos cursos de educação superior, representantes do estado do Amazonas, em parcerias com estas instituições de ensino universitário, realizarão estudos de demandas técnicas nas unidades de conservação amazonenses. Serão priorizadas as unidades que sediam projetos de desenvolvimento sustentável, as reservas extrativistas e as zonas de proteção ambiental. Neste estudo, serão utilizados indicadores socioeconômicos como a localização dos municípios, as características de suas unidades de conservação e as suas principais atividades econômicas. Desta forma, será definido o portfólio de oferta de cursos técnicos e dos programas de formação de professores em todos os 62 municípios do Amazonas.
Semelhante aos cursos superiores de tecnologia organizados pela UEA, no período já citado, faz-se necessário ofertar cursos de graduação que associem métodos e teorias orientadas para as pesquisas, avaliações e às inovações tecnológicas centradas nas aplicações de conhecimentos de processos, produtos e serviços nos trópicos úmidos, em bases sustentáveis.
Esta proposta também abrange a oferta de cursos universitários com metodologias e conteúdos tecnológicos sobre: produção de pesca, alimentos, arqueologia, saneamento ambiental, turismo ecológico, nutrição, gestão ambiental, geoprocessamento ambiental, bioindústria, construção naval, agroecologia e meteorologia. Este projeto original, inovador e audacioso, já executado parcialmente pela UEA, constitui um vetor científico e tecnológico importante para implantar o desenvolvimento sustentável no Amazonas.
Formar os professores indígenas constitui outro desafio para o ensino das ciências, bem como para a antropologia, a linguística e outras áreas do saber, como as ciências da educação. Esta ação institucional depende de decisão política dos governantes para a inclusão social destes povos brasileiros, estigmatizados e historicamente condenados a viverem apartados das políticas públicas, isolados e prisioneiros em seus próprios territórios. A formação de dois mil professores indígenas para a educação intercultural pela UEA, durante 2007-2019, constituiu um marco para a educação brasileira e mundial.
A educação profissional de nível técnico terá que ser desenvolvida em qualquer domínio necessário ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Ela é fundamental para que se alcancem os objetivos estabelecidos pela política relativa às mudanças climáticas. Durante o período 2003-2012, o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas-CETAM, integrado ao sistema de ciência e educação e de formação universitária do Estado da Amazonas, desenvolveu mais de 300 diferentes cursos técnicos centrados no desenvolvimento sustentável do Amazonas, atendendo demandas específicas dos seus municípios.
Conforme já estabelecido na UEA, durante 2007-2010, os programas estratégicos para a política pública de ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos são os seguintes: “Ciências e tecnologias para os serviços sustentáveis do estado do Amazonas”, “Jovem cientista da Amazônia nas unidades de conservação e à educação ambiental”, “Formação de recursos humanos pós-graduados para a sustentabilidade do estado do Amazonas”, e “Inovação tecnológica para os bens e os serviços sociais e ambientais”. Os programas “Ciência, tecnologia e cultura para a política de mudanças climáticas”, e, “Formação científica e tecnológica para as populações dos municípios das áreas protegidas do estado do Amazonas”, já mencionados anteriormente, complementam este portfólio estratégico para a sustentabilidade do Amazonas. Informações básicas sobre estes programas são apresentadas em seguida.
O programa “Ciências e tecnologias para os serviços sustentáveis do estado do Amazonas” possuirá estrutura e regulamentação específicas e contextualizadas às demandas técnicas atuais. A sua plena execução dependerá da disponibilidade de recursos financeiros de fontes públicas e privadas para mitigar as mudanças climáticas e a conservação ambiental, em forma integrada à política de desenvolvimento sustentável em curso. Os financiamentos provenientes de fundos internacionais são estratégicos para a sua efetivação e disseminação nacional e global.
O Programa “Inovação tecnológica para os bens e os serviços sociais e ambientais” utilizará os estudos de antropologia das técnicas para atender as demandas sociais e ambientais dos povos originários. Apoiará os projetos de inovações tecnológicas centradas em temáticas sociais e ambientais baseadas nos princípios de inclusão social e geração de emprego, preservando os ambientes naturais. Ele abrange três subprogramas focados na criação de museus naturais que promovam as culturas dos povos amazônicos, o combate às mudanças climáticas e o paradigma da sustentabilidade, priorizando o mercado do carbono, a conservação das florestas e a recuperação das áreas degradadas. Priorizará, também, as inovações dirigidas aos mecanismos de desenvolvimento limpo no estado do Amazonas. Terá conexões duradouras com a matriz industrial deste Estado.
Destaque ao subprograma centrado na gestão, no ordenamento e na preservação dos ambientes naturais, que se propõe desenvolver ações e projetos associados à melhoria das relações das pessoas e comunidades com os ambientes amazônicos, especialmente nas unidades de conservação. Complementam este quadro, os estudos ambientais e as iniciativas para a criação de cursos de formação profissional e especialização técnica em todos os níveis. Estes cursos estarão centrados nas atividades e nas potencialidades socioeconômicas das oito mesorregiões econômicas do estado do Amazonas.
Finalmente, faz-se necessário institucionalizar as pesquisas avançadas sobre as questões complexas da Amazônia, em especial, com parcerias internacionais. Parte significativa destes programas já foi executada pela Universidade do Estado do Amazonas, em diferentes tempos e municípios. Estes programas compõem um amplo conjunto de iniciativas institucionais cujo design continuará sendo mostrado nos próximos dois artigos.
Uma política pública para o desenvolvimento sustentável do Estado do Amazonas
Parte IXb: Plataforma de educação científica e tecnológica à sustentabilidade do Amazonas II – TEXTO 17/30
Este décimo sétimo artigo dá continuidade ao anterior que apresentou vários programas estratégicos para a política pública de educação científica e tecnológica para o desenvolvimento sustentável no Amazonas.
A participação da Amazônia na construção da história da civilização ocidental foi determinante para o aperfeiçoamento da ciência moderna, em quantidade e qualidade. Contribuiu, também, para o avanço das pesquisas arqueológicas e antropológicas que movimentaram as teorias explicativas e compreensivas sobre as nossas origens, inserções e relações no mundo.
Estudos recentes comprovam a importância de seus ecossistemas para a estabilidade climática e ecológica do planeta; tese já comprovada e reconhecida na literatura especializada. As pesquisas avançadas desenvolvidas na Amazônia abarcam estudos sobre as suas culturas e antropologias, as suas sociedades e economias, as relações entre o clima e os seus ecossistemas, e as interações biosfera-atmosfera e os serviços ambientais na região. Baseado nestes pressupostos, o programa sobre a relação entre Amazônia e estabilidade climática apreende os seguintes temas e plataformas tecnológicas: sociedades dos trópicos úmidos, serviços ambientais orientados ao mercado do carbono, economia verde e bioindústria, inovações para as redes de educação científica e os arranjos produtivos nos trópicos, e supervisão ambiental e produtos agroecológicos. Esta proposta alcança as instituições de pesquisa, de ensino superior, as empresas públicas e privadas, os institutos de investigação tecnológica, os órgãos governamentais estaduais e municipais e as organizações não governamentais.
Ela se organiza por meio de um conjunto de programas, todos centrados no paradigma da sustentabilidade, que constituirão parte da base material da política de desenvolvimento sustentável em questão. Para efeito de ilustração, apresento alguns deles.
O primeiro grupo de programas proposto priorizará os projetos estruturantes centrados em tecnologias sociais e inovações para as políticas públicas, os produtos e os serviços ambientais. Ele propõe apoiar 20 projetos temáticos, 300 bolsas de estudo, podendo ser ampliado conforme a disponibilidade orçamentária, para um período de 12 anos consecutivos.
Após breves comentários, apresenta-se o segundo grupo de programas científicos e tecnológicos para o desenvolvimento sustentável do Amazonas. A sustentabilidade planetária é dependente das decisões políticas dos países desenvolvidos. Recentemente o parlamento europeu aprovou a proposta da comissão europeia relativa à proteção das florestas, de suas cadeias e as organizações de produção.
Esta decisão também alcança as intervenções das etnociências e da educação ambiental para humanizar e promover o desenvolvimento sustentável das regiões e do planeta. A construção de colaborações e parcerias científicas e tecnológicas entre as instituições públicas amazônicas e as suas congêneres europeias poderá acelerar a implantação dos programas de desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos. As instituições alemãs, francesas e inglesas são potenciais colaboradoras.
Logo, o Programa “Jovem cientista da Amazônia nas unidades de conservação e educação ambiental” tem por finalidade fortalecer o desenvolvimento de projetos de formação científica orientados para a compreensão do funcionamento ecológico e a preservação das estruturas mecânicas e sociais das unidades de conservação do estado do Amazonas. Promover a educação ambiental numa perspectiva sustentável é outra missão importante deste programa.
Ele tem como alvo os estudantes e professores das escolas secundária e primária da rede pública, nas zonas urbanas e rurais, assim como os programas de educação indígena. Os projetos nos formatos associativos ou tutoriais deverão ser coordenados pelos pesquisadores das instituições de pesquisa ou do ensino superior, as organizações governamentais e não governamentais, e os professores do ensino básico e médio. Este programa terá até 100 projetos temáticos para um período de oito anos consecutivos, podendo ser ampliado conforme a disponibilidade orçamentária. Ele disponibilizará cerca de duas mil bolsas aos estudantes.
O programa “Formação de recursos humanos pós-graduados para a sustentabilidade do estado do Amazonas” propõe apoiar a formação de pesquisadores priorizando temáticas associadas à sustentabilidade compartilhada e situada e ao desenvolvimento regional, e às sociologias e antropologias nos trópicos úmidos.
Destaque também às pesquisas sobre sociedades do saber e arqueologia nos trópicos úmidos, mudanças climáticas, degradações ecológicas e mecanismos de desenvolvimento limpo na Amazônia, entre outros. Este programa também criará mecanismos para a supervisão e a gestão ambiental, para desvendar as relações entre clima e ecossistemas amazônicos, e associar e compreender os processos hidrológicos e o uso da terra, e a educação ambiental e as dimensões humanas no estado do Amazonas. Propõe-se também apoiar os programas e os projetos de pesquisa dos estudantes de pós-graduação, de preferência àqueles desenvolvidos nas instituições educacionais sediadas no estado do Amazonas, e centrados nos temas abrangidos pela política pública em questão. Apoiará também os estudantes amazonenses desenvolvendo teses de doutorado em temáticas de interesse do Amazonas.
Em forma ampla, este programa visa apoiar os projetos associados às dimensões humanas, às mudanças climáticas, à preservação das naturezas e à educação científica e ambiental na Amazônia. Ele poderá ser ampliado, conforme a sua disponibilidade financeira. Será desenvolvido num período de 12 anos consecutivos, com a disponibilização de 200 bolsas de doutorado e 300 de mestrado aos alunos matriculados no programa.
O programa “Ciência, tecnologia e cultura para a política de mudanças climáticas” apoiará, em forma associada e integrada, o sistema de formação de recursos humanos e os projetos sobre temas interdisciplinares para todos os níveis demandados pelas políticas públicas, em especial as mudanças climáticas.
Ele encontra-se centrado nos(as): temáticas associadas ao inventário do patrimônio material e simbólico; bens de interesse cultural, histórico e artístico; registros do saber-fazer e das manifestações culturais; modelagens e desenvolvimento socioeconômico das terras inundáveis; e nos projetos educativos para mitigar as mudanças climáticas. Os arranjos produtivos de material didático e os programas de educação ambiental complementam este portfólio.
Suas gestões propõem preservar as paisagens das unidades de conservação, em parcerias com instituições públicas e privadas, e, especialmente, os programas associados aos processos de organização e transmissão de novas metodologias e linguagens educativas. Este programa possui flexibilidade para acolher outras iniciativas institucionais emergentes. Ele abrange 12 projetos temáticos e demanda 200 bolsas por um período de 12 anos, podendo ser ampliado conforme a sua disponibilidade financeira.
Os demais programas estruturantes serão apresentados no próximo artigo.
Uma política pública para o desenvolvimento sustentável do Estado do Amazonas
Parte IXc: Plataforma de educação científica e tecnológica à sustentabilidade do Amazonas III – TEXTO 18/30
Dando continuidade aos dois artigos anteriores, este texto apresenta os últimos programas educacionais estratégicos para a política pública de ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável do Amazonas, publicados nesta série de textos.
Conforme já apresentado nos artigos anteriores, a Amazônia sempre esteve presente no imaginário das pessoas e nas pautas de estudos e pesquisas científicas em âmbito mundial.
A formação científica e tecnológica da juventude amazonense residente nas unidades de conservação protegidas é de vital importância para o desenvolvimento sustentável da região. Para atender esta exigência institucional foi criado o programa “Formação científica e tecnológica para as populações dos municípios das áreas protegidas do estado do Amazonas”.
Este programa formará profissionais de nível superior para criar inovações científicas e tecnológicas, gerir o processo de produção de bens e serviços, e identificar, analisar e humanizar os processos e as estruturas socioeconômicas e ecológicas nos municípios em questão. Ele também desenvolverá projetos de formação no domínio das tecnologias sociais aplicadas à sustentabilidade dos municípios e em suas unidades de conservação.
Institucionalizará projetos interdisciplinares, em especial as organizações de cadeias produtivas, a gestão de empregos e finanças, as tecnologias apropriadas e a educação patrimonial. Sua principal meta é criar uma cultura preservacionista na Amazônia, em bases sustentáveis. Importante ressaltar que este programa consiste numa proposta de educação, cultura e tecnologia que será desenvolvida pelas Universidades públicas e/ou privadas sediadas no estado do Amazonas, em parcerias com outras instituições.
Sua regulamentação atenderá as exigências da política de mudanças climáticas e de conservação ambiental associada ao desenvolvimento sustentável na região. Os seus mecanismos operacionais considerarão as potencialidades socioeconômicas, as formas históricas de sobrevivência e adaptabilidades e as demandas emergentes da educação básica e universitária nos respectivos municípios amazônicos.
Embora a Amazônia seja objeto de estudos científicos desde o século 18, regionalmente, há poucas informações disponíveis sobre os resultados práticos das descobertas técnicas e dos seus inventários das ciências naturais, e da cartografia social dos cronistas e dos naturalistas que estudaram a região.
Similarmente, as inovações decorrentes dos projetos desenvolvidos pelos institutos de pesquisa da região têm sido incorporadas às suas políticas públicas em forma fragmentada e intermitente. É importante valorizar os conhecimentos tradicionais de suas populações, entrelaçando-os à ciência ocidental e, simultaneamente, aperfeiçoar as estruturas laboratoriais para registrar as marcas e patentes dos novos produtos gerados, em benefício de seus povos.
As contribuições deste programa serão integradas e centradas nas(nos): gestões dos recursos hídricos e florestais, tecnologias de alimentos e ordenamentos florestais, sistemas de navegação fluvial e engenharia naval, economia verde, entre outros secundários. Estas ações construirão elementos essenciais para a materialização do desenvolvimento sustentável na região.
O poder público do estado do Amazonas tem o dever político de financiar a execução de projetos de pesquisa e inovação tecnológica geradores de produtos e processos que atendam as suas demandas públicas. Em especial àquelas associadas ao seu desenvolvimento sustentável. Esta proposta inclui o domínio dos recursos e produtos das florestas, e das águas e das representações simbólicas dos povos amazônicos. Prioriza as tecnologias sociais e as inovações para a preservação de seus ambientes naturais.
Exercitando os princípios norteadores de suas missões institucionais, a UEA e a UFAM poderão assumir responsabilidades acadêmicas no desenvolvimento de programas de educação científica e tecnológica orientados para as populações dos municípios das áreas protegidas. Este cenário justifica a implantação deste programa nos municípios de: Anori, Barcelos, Beruri, Borba, Carauari, Coari, Codajás, Fonte Boa, Itamarati, Itapiranga, Japurá, Juruá, Jutaí, Manicoré, Maraã, Novo Airão, Novo Aripuanã, São Sebastião do Uatumã, Tapauá e Uarini. Atualmente, estes municípios estão entre àqueles que apresentam os piores indicadores sociais do estado do Amazonas e, alguns, do Brasil.
Em princípio, o programa poderá ofertar cursos universitários de tecnologia para todos os municípios do estado do Amazonas. Poderá ser implantado com a oferta inicial de 12 diferentes cursos tecnológicos em 36 municípios do estado do Amazonas, conforme critérios que fortaleçam os princípios e as diretrizes-guias da sustentabilidade. O programa demanda uma oferta de 1000 bolsas de estudo, para um período de 12 anos consecutivos.
Estes cursos de tecnologia para os trópicos úmidos, semelhante aos outros cursos universitários, serão disponibilizados aos alunos-candidatos que terminaram o ensino secundário ou o equivalente, e que tenham sido submetidos, com êxito, a um processo seletivo. Aqueles que obterem o diploma nos cursos superiores de tecnologia denominam-se tecnólogos; profissionais de nível superior, treinados na produção e inovação científica e tecnológica aplicada aos trópicos. Eles estarão preparados para o exercício da inovação e da gestão de processos de produção e serviços para o desenvolvimento sustentável, em especial na Amazônia.
A integralização dos objetivos e metas da Política Pública para o Desenvolvimento Sustentável no Estado do Amazonas possibilitará consolidar a educação ambiental, e a ciência e tecnologia dirigidas à formação profissional plena dos jovens amazonenses voltada à consolidação da sustentabilidade da região. A sua adequada implantação exige investimentos na ordem de US$600 a US$700 milhões, com as devidas atualizações e redimensionamentos, num período contínuo de 12 anos. Este orçamento não inclui os custos associados à municipalização da ciência e tecnologia no Amazonas, conforme apresentado nos textos 14-15.
Popularizar a Amazônia é uma condição essencial à educação ambiental contemporânea.
Os futuros promissores da Amazônia, do Amazonas e do Brasil, e também do planeta são muito dependentes da institucionalização de modelos de desenvolvimento sustentável. No caso do Amazonas, estes modelos têm forte dependência de suas matrizes culturais, científica e tecnológica. Esta é mais uma dívida política do estado brasileiro com a Amazônia. O estado do Amazonas precisa exercitar a sua liderança política neste cenário mundial.
A Zona Franca de Manaus, principal matriz industrial do Amazonas e da Amazônia, tem papel estratégico na construção do modelo de desenvolvimento sustentável da região. As dificuldades em modificar os seus mecanismos e as suas formas de operação direcionando-as também para a construção de novos arranjos produtivos sustentáveis serão analisadas nos dois próximos artigos. Propostas para integrar este polo industrial ao desenvolvimento sustentável do Amazonas serão apresentadas. Finalizo apresentando o poema “Amazônia e as brincadeiras das crianças”.
AMAZÔNIA E AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS**
Amazônia,
Fonte de emoções,
Encontros e distanciamentos,
De vida em movimento,
Curiosidades e aprendizagens;
Mundo de mitologias e fantasias,
Mensageiro de alegrias
E de sonhos purificados pelo amor;
Amazônia sequestrada pelos trópicos,
E, também, em meus desenhos
E brincadeiras diárias,
Em minha casa e na escola;
Em alguns momentos sinto-me lá,
Em outros convivo com ela aqui;
Gosto de suas florestas, rios, animais,
Peixes, flores e também dos seus mistérios;
Adoro as suas borboletas e os seus macacos;
Papai, a Amazônia é tão bonita;
Por que ela está sendo destruída?
As minhas amigas e amigos
Gostam dela e de tudo que ela abriga;
Ela é o nosso tesouro;
Sonho com ela todos os dias,
E acordo alegre e bem disposta,
Com saudade de seus cheiros e sabores;
Quando brinco de pula-pula
Com as minhas amigas,
Imagino a corda sendo o rio Amazonas,
O principal rio do mundo,
Viajo de uma margem à outra,
Sem medo e com muito ritmo,
Alegria e satisfação;
Minhas amigas se surpreendem
Quando identifico a existência
De mais de 2000 rios na Amazônia;
Se todo dia eu pular um rio,
Demorarei mais de cinco anos
Para experimentar todos eles;
Mas, tenho tempo e disposição
Para incorporar este sonho
Em meus pula-pulas;
Farei isso, a partir de hoje;
Quando participo de corrida
Com as minhas colegas na escola,
Transformo-me num gavião,
Outras vezes num beija-flor,
Sempre me desloco com leveza e rapidez;
Há muita satisfação pessoal e felicidade
Em minhas corridas,
Chego sorrindo no destino final,
E lembrando-me das moradias
Das aves de minhas fantasias,
Escondidas entre as 400 bilhões
De árvores amazônicas.
Papai, as aves se protegem na Amazônia;
Lá, elas voam livremente,
Criam as suas famílias, repovoam
E alegram os ambientes;
Quando escondo uma surpresa em casa,
Em nossa brincadeira de caça ao tesouro,
Imagino estar guardando-a
Nos buracos das árvores,
Como os papagaios ocultam
Os seus ninhos na Amazônia;
Por isso, o Senhor tem dificuldade
Em encontra-la no sótão de nosso lar;
Amazônia dos papagaios,
Papagaios da Amazônia,
Tagarelas e multicoloridos,
Quanta beleza junta,
Protegendo-nos das maldades do mundo;
Dando vida aos nossos desenhos,
Sonorizando os ventos e os céus,
E trazendo fascínios às nossas fantasias;
Papai, adoro o teatro de fantoches,
Sinto-me uma criança feliz quando imito
O macaco, a onça, o tamanduá, a árvore,
O tucano e muitos outros seres amazônicos;
Tantos seres e linguagens diferentes,
Povoando a Amazônia e as nossas fantasias,
São artistas presentes em nossas tradições,
E, também, nos imaginários das famílias;
Papai, eu gosto de brincar
Com as massinhas que você me deu;
Com elas eu moldo as minhas amigas,
A Amazônia e o mundo,
Em diferentes cores e texturas;
Moldo, também, o amor, a esperança,
E as sustentabilidades da natureza,
E do planeta,
Ameaçados pela destruição humana;
A minha brincadeira matinal
É o teatrinho mágico;
Diariamente, eu represento as cores,
Os gostos e as levezas de personagens
Amazônicos;
As minhas amigas adoram e pedem
A repetição de várias cenas;
A preferida é a dos macacos
Quebrando castanhas,
Brincando e tomando banho nos igarapés;
Mas, Pokémon é o jogo eletrônico
Preferido por minha geração;
Por meio de geolocalizações,
E de realidades ampliadas para smartphones,
Vários monstrinhos de bolso japoneses
Inspiram-se em animais reais,
Muitos deles presentes em minha vida
E na Amazônia;
Poraquê, Pokémon aquático e elétrico,
Jacaré-açu, Pokémon dos rios e lagos,
Coruja, Pokémon da ave dos mistérios,
Sapo Ponta-de-Flecha,
Pokémon do anfíbio venenoso,
E pirarucu, Pokémon do peixe gigante,
Mundo fantástico e gerador
De infindáveis e múltiplos Pokémons;
Amanhã farei meu passeio mais amado,
Revisitarei a vida e os encantos dos insetos,
Das aves, dos peixes, das floras e das faunas,
E dos animais pré-históricos;
Relacionarei com as suas múltiplas
Antropologias e convivências
Com as florestas e os rios grandes e pequenos;
Participarei da evolução da vida
E da história da humanidade;
Conversarei sobre a nossa origem,
Com os povos originários e os cientistas;
Estou muito ansioso e alegre,
Amanhã papai me levará ao MUSA,
O Museu da Amazônia, em Manaus;
Local de mitos, magias, empatias,
E muito amor amazônico;
Papai, sou muito feliz,
Com a nossa família,
A Amazônia e o Mundo,
E, também, com as minhas amigas.
Manaus, 31 de Setembro de 2022
**Poema publicado no livro “Amazônia e as crianças”, KDP – Amazon Book, 2022
Manaus, 16 de Junho de 2023
Marcílio de Freitas
Referência: https://www.amazon.com.br/kindle-dbs/entity/author?asin=B0BB3D1DBX
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