Manaus, 22 de novembro de 2024

Relíquias alvaristas

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“Tais materiais se destinam a subsidiar a elaboração de estudo biográfico que vou levando devagar, faz anos, conforme as horas possíveis, dentre muitos outros encargos”

Há muito venho recolhendo documentos, relatórios oficiais, discursos, artigos, cartas, fotos, informações e notícias de Álvaro Botelho Maia ou a respeito desse amazônida. Muitas vezes tenho recebido de amigos diletos peças que são verdadeiras preciosidades como a “Prece de Natal” que Newton Sabbá Guimarães me enviou na voz de Álvaro, cuja fita vinha sendo guardada por seu pai; as cartas que Erasmo Alfaia recolheu com zelo durante anos, da correspondência amável como amigos; os discursos pronunciados em comícios em via pública, coletados por um apaixonado eleitor na campanha política de 1950 e que me chegaram às mãos, segundo ele, Moacir Normando, o generoso, porque eu “saberia o que fazer”; o discurso com o qual padre Raimundo Nonato Pinheiro dele se despediu à beira do túmulo, datilografado em papel de seda e que ele gostava de ler e reler em viva voz, e me concedeu juntamente com alguns de seus artigos de jornal; e, ainda, as dádivas de Joaquim Melo, o livreiro do Largo, catador de documentos alvaristas e que, dentre tantas ofertas fez chegar a mim o caderno que o autor de “Buzina dos Paranás” utilizou nas aulas de francês no curso secundário do Instituto Amazonense, em 1905-1906, com sua caligrafia gravada por caneta de pena, e o livro do bebê de sua filha com as primeiras anotações da vida.

Em meio a muitas passagens de sua vida, uma delas chama a atenção pela sensibilidade musical, em 1936, quando trouxe a Manaus a cantora Bidu Sayão para apresentações no Teatro Amazonas a qual, embora ainda viesse a aumentar seu prestígio nacional e internacional nos anos seguintes, já representava o maior destaque brasileiro da época e havia sido aplaudida em noites memoráveis mundo afora.

Tais materiais se destinam a subsidiar a elaboração de estudo biográfico que vou levando devagar, faz anos, conforme as horas possíveis, dentre muitos outros encargos, alguns de trabalho e de família, outros de igual prazer e diletantismo, como se estivesse amadurecendo a linha de condução da obra ou aguardando mais documentos que possam estar perdidos nesse mundão de meu Deus.

Espero que, em breve, possa deixar patenteada a missão que coube a ele desempenhar nessa passagem pela vida terrena que enriqueceu com múltiplas facetas na vida pública nem sempre mansa, na variada e rica produção intelectual de fazer orgulho ao Amazonas, e, em particular em trajetória de homem afeito às luzes espiritualistas. Não será o primeiro trabalho a respeito dessa importante figura da nossa história, pois bons artífices da palavra escrita têm publicado sobre o tema e, por isso, é possível conhecer visões e opiniões distintas de outros pesquisadores, todos elas relevantes.

Para mim será o cumprimento de missão que me impus não só pela admiração que nutro pelo intelectual a quem conheci alquebrado pelo tempo, e que espero seja um preito de gratidão ao amazônida que amou, cantou e decantou a nossa terra, mas também ao desejo ardente de minha mãe e mestra que chegou a fazer um memorial para Álvaro Maia em 1991, em parceria com a prefeitura de Manaus, no Parque X de Novembro, destruído logo depois da mudança de governo, assim como em memória de minha tia e madrinha do coração, Maria Rita dos Santos Pereira Wanderley, que sempre declarou sua admiração pelo “cabeleira”, o tuxaua”, o “libertador” como era chamado pela multidão que o aplaudia freneticamente nos comícios.

Esforçar-me-ei para que esse trabalho possa refletir a humanidade e a formação espiritualista de Álvaro Maia, e represente efetiva contribuição à compreensão de sua trajetória política, de professor, advogado, intelectual e líder de massa.

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