Manaus, 13 de setembro de 2025

Itacoatiara, 330 Anos de História

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ITACOATIARA – Há (ou havia) um preconceito contra a investigação histórica dizendo ser fácil pesquisar o passado, porque nesse tipo de busca não é preciso criar nada, bastando revelar, para o presente e para o futuro o que o passado deixou registrado em algum lugar.

Apesar de conhecer essa hostilidade, nunca refleti sobre ela talvez porque meu interesse científico estivesse voltado para a pesquisa de microrganismos, um universo onde entrei, descobri e descrevi vinte e duas espécies e dois gêneros novos para a ciência, dando minha contribuição para o conhecimento da biodiversidade. Depois ampliei minhas atenções e passei a me interessar pelo cenário natural onde vivem os organismos (grandes e pequenos), isto é pela tipificação dos ecossistemas cuja caracterização depende de análises laboratoriais e, nesse universo, construí minha dissertação de mestrado e tese de doutorado.

UM CAMINHO DIFERENTE

O poeta espanhol Antonio Machado escreveu: “caminante, non hay caminho / se hace camino al andar” e a aposentadoria me fez deixar para traz os laboratórios e trilhar o caminho docência-pesquisa em cursos de pós-graduação (stricto sensu) que me inseriu nas questões ligadas ao meio ambiente onde descobri que a história não é só o passado, mas também o presente onde cada um constrói seu próprio destino e o futuro do planeta. E nesse nova área do conhecimento aprendi que o tempo pretérito é absolutamente necessário para entender os fundamentos das amazonidades sobre as quais discorro em meus textos “jornalísticos”, acadêmicos e nas aulas da disciplina obrigatória intitulada “Pensando a Amazônia” que ministro no Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental da UEA.

MINHAS RAÍZES – ITACOATIARA

Passei minha primeira infância em Itacoatiara e foi lá que minha vida lançou e fixou suas primeiras raízes. Embora a vida me tenha levado para outros meridianos e paralelos, a ligação radicular manteve uma conexão muito estreita com aquele pedaço de chão amazônico cujos primórdios históricos agora se revelam nas páginas do livro “Fundação de Itacoatiara” do historiador Francisco Gomes da Silva.

A HISTÓRIA

Hoje estou absolutamente convencido do erro contido naquele preconceito referido no inicio deste texto, pois aprendi que o historiador, ao registrar o passado, precisa de enorme perspicácia para encontrar os encontros e desencontros das múltiplas (talvez infinitas) trilhas e pistas do passado, para descrever o antigo cenário.

O livro credita ao padre suíço Jódoco Perez (Jodocus Perret), Gestor dos Jesuítas, o lançamento do alicerce embrionário de Itacoatiara, cuja marca maior é a celebração da primeira missa na aldeia dos índios Iruri, em 08 de setembro de 1683.

Entre os personagens dessa história inicial, o autor, destaca a figura do índio Mamorini, o poderoso tuxaua dos Iruri, um nome que lembra a samaumeira (Ceiba petandra) a mais frondosa árvore da várzea cujas raízes escorais (sapopemas) ao serem tocadas por um pedaço de pau emitem sons que se propagam pela floresta, servindo como meio de comunicação (Código Morse da Floresta).

A longa história prossegue contando marcos e marcas essenciais e relevantes entre os(as) quais destaco a migração do sítio inicial para o rio Abacaxis, a instalação da Vila de Serpa (1759), e a efetivação de Nossa Senhora do Rosário como padroeira de Itacoatiara.

O livro, para os que se interessam pela ocupação humana da Amazônia é fascinante e essencial. Sua leitura mostra o heroísmo dos passos importantes e das pessoas relevantes na construção de um núcleo habitacional confortável (Aldeia), dominando as dificuldades próprias do confronto entre as necessidades do homem e as leis da natureza. As 224 páginas do livro de Francisco Gomes da Silva contam, com detalhes, a elevação, em 1758, da Aldeia para a categoria de Vila de Serpa (nome lusitano imposto pelos colonizadores como fizeram com o nome Barcelos que substituiu Mariuá), sua transferência para o local atual por Mendonça Furtado e sua elevação à categoria de cidade em 25 de abril de 1874.

Esse livro é o primeiro volume de uma trilogia e, evidentemente não tenho a pretensão de ter feito uma sinopse ou resenha, mas de ter usado esse espaço para registrar uma das mais belas páginas dos primeiros anos da ocupação humana deste Estado. Vou esperar pelos outros dois, pois sou fascinado pela história de Itacoatiara, a cidade dos meus sonhos da infância que abriga minha idealização do Principado de Itacoatiara.

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Uma resposta

  1. Gostaria de saber em qual dos seus livros há relatos sobre as carroças em Itacoatiara e a chegada da motocicleta no município.
    Estou escrevendo minha dissertação de mestrado sobre a geografia econômica de Itacoatiara e vou falar do consumo da motocicleta. Mas, vou abordar no primeiro capítulo a história da motocicleta a partir da II guerra, a implantação das empresas no PIM e a chegada desse veículo em Itacoatiara.
    Aguardo seu retorno,

    Muito Obrigada,

    Ednilce Mendes

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