Bertha Koiffmann Becker (07/11/1930-13/07/2013) foi uma cientista brasileira que dedicou grande parte de seu tempo e talento para refletir sobre a Amazônia. Seu “curriculum vitae” revela, além de inúmeras honrarias recebidas ao redor do mundo e no Brasil, a publicação de 18 livros, 70 capítulos de livros e 50 artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais. Pelo mundo afora recebeu homenagens, porém na Amazônia, por quem tanto lutou, apenas a Universidade Federal de Roraima lhe outorgou o título honorifico.
Além das salas de aula Bertha foi consultora da Capes, Cnpq, dos Ministérios de Ciência Tecnologia, da Integração Nacional e do Meio Ambiente.
Contatos profícuos
Conheci Bertha Becker quando coordenei o Projeto Aripuanã (1975) e tive a ventura de, vinte anos depois, refazer o contato durante minha gestão à frente do Inpa (1995-1999), quando foi implantado o Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7) e o (novo) Programa do Trópico Úmido (PTU). Adicionalmente ela foi uma das pessoas que me indicou para presidir a Corpam (Comissão Regional de Pesquisas da Amazônia), um organismo criado pela lei 7.796/89 da qual ela era membro e onde se definiram as prioridades de pesquisa na Amazônia. Lamentavelmente, o segundo mandato de FCH jogou no lixo esse importante organismo para a pesquisa regional.
Depois do Inpa, tive poucos contatos com ela, mas não desgrudei de sua inteligência, através de seus textos que são fundamentais para embasar teoricamente meus trabalhos e de meus alunos.
Um pouco da história
Destaco aqui algumas frases escritas por ela pedindo aos leitores que meditem sobre elas:
“A geopolítica trata das relações entre poder, política e espaço”.
“Será difícil sustar o desmatamento enquanto não se atribuir valor à floresta […] e para tanto é necessário e urgente efetuar uma revolução científico-tecnológica”.
“Produzir para conservar torna-se a meta de um novo padrão de desenvolvimento”.
“É hora de realizar uma nova revolução para o bioma amazônico, envolvendo todos os níveis de uso não predatório e lucrativo da floresta, desde os fármacos e extratos, à agregação de valor pelas coletividades locais, estruturadas em cadeias produtivas partindo da floresta até os centros de biotecnologia”.
“Ciência e tecnologia passam a ser o fulcro do poder exercido, sobretudo através de redes e fluxos, sustentáculos da riqueza circulante que, atravessando fronteiras políticas, reduzem o poder dos Estados”.
“O sistema de concessão e monetarização da natureza que resulta da associação da geopolítica com a economia, faz com que elementos naturais não produzidos para venda, criem mercados reais”.
“O mais importante slogan do século XXI será: não há água sem tarifa”.
“Inovações avançadas são necessárias para desenvolver a Amazônia sem destruí-la, reorientando a produção para benefícios domésticos e não apenas para exportação”.
“A mudança de paradigma é urgente porque as oportunidades se oferecem num curto espaço de tempo após o qual a rapidez das inovações tecnológicas nos centros desenvolvidos pode tornar obsoletos ou substituir os produtos naturais por sintéticos”.
“A posição estratégica de Manaus em relação à floresta da Amazônia, sul-americana sugere a possibilidade de equipa-la para tornar-se uma cidade global com base na organização dos serviços ambientais que têm elevado valor agregado não voltados para a produção, mas para a afirmação da vida em si, e com impactos na produção.
“Ciência e tecnologia podem e devem contribuir para vencer o desafio da utilização social e econômica sustentável do patrimônio natural e cultural da Amazônia em beneficio das populações regionais e do país, hoje e no futuro, objetivo maior do desenvolvimento regional”.
“A Zona Franca de Manaus adotou passivamente o modelo tecnológico-industrial deixando a via tecno-ecológica muito mais sadia”.
Eu e a Amazônia de Bertha Koiffmann Becker estamos de luto.
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