Manaus, 19 de setembro de 2024

A Cidade de Manaus – Sua história e seus motins políticos

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*Bertino de Miranda

Apresentação:

Bertino de Miranda e sua obra histórica

Bertino de Miranda Lima, de origem paraense segundo se supõem, fixou residência em Manaus, desde 1884, quando acompanhou Paulino de Brito em campanha pró-libertação dos escravos.

Casou-se, conforme Agnello Bittencourt, com a Professora Elvira Correa de Miranda Lima, filha do abastado negociante Júlio Pinto Correa. Sem descendentes o casal criou e educou a menina Araci, irmã de D. Elvira.

Tornou-se um dos pioneiros do jornalismo amazonense, adquirindo o “Comércio Amazonense”, fundando posteriormente com Gregório José Moraes, a 27 de julho de 1890 o “Norte do Brasil” com Júlio Mário, Israel Freiro, Pedro Marinho e Manoel de Miranda Leão, o “Novo Dia”, órgão de propaganda religiosa católica e de defesa dessa igreja. Nomeado a 23 de novembro de 1888 Secretário Geral da Instrução Pública, passou, posteriormente, a ocupar o importante cargo para seu espírito pesquisador de Oficial arquivista da Secretaria do Governo da Província,

tornando-se a maior autoridade, de sua época, como documentarista da História de nossa terra. Como historiografista, recebeu do seu biógrafo J. B. de Farias e Sousa o entusiástico comentário: “Pela primeira vez, a História da América teve um curso sistematizado e universitário no Brasil. programa que organizou (Bertino de Miranda) foi transcrito e comentado no Pacífico ao Atlântico”. Na capital da República, sugeriu a fundação da Academia de Altos Estudos sob a orientação de Conde de Afonso Celso, Ramiz Galvão e outros, criando a cátedra de História da América a cargo do Prof. Bertino, instituição que não vingou sendo por sugestão do Instituto Histórico-Geográfico criada a Faculdade de Filosofia e Letras, onde Bertino de Miranda passou a lecionar História da América com brilhantismo, autoridade e eficiência.

Já na República, Bertino de Miranda foi nomeado Diretor da Biblioteca do Pará. Faleceu no segundo semestre de 1919, tendo antes do desenlace doado sua rica biblioteca e arquivo ao seu primo então deputado Federal do Pará, Dr. Bento José de Miranda, riquíssimo acervo cultural que não sabemos se ainda existe.

Os “Anais Históricos de Berredo”, em 3ª. edição, e “Cidade de Manaus” foram as suas aplaudidas obras capitais. Na primeira, relançou Barredo com o precioso acervo histórico dos seus Anais, fonte exuberante para os historiadores do Maranhão e da Amazônia.

Em “Cidade de Manaus”, levantou com a autoridade de pesquisador incansável todo o acervo documental e de tradição em torno da fundação de Manaus, como seguro desbravador.

A reedição de “Cidade de Manaus” vem sendo de, há muito, um imperativo cultural nos arraiais dos homens de pensamento voltados para as pesquisas e lucubrações históricas, imperativo que, graças à visão dos líderes da Associação Comercial, à frente José Lopes, e à providência divina, vem de ser atendida com o patrocínio do lançamento desta obra tão disputada e reclamada.

“Os leitores – é a fala do próprio Bertino” “irão talvez ler um pequeno arcaboiço duma História do Amazonas que mais tarde virá a lume”.

O plano de Bertino era arrojado o seu material documentário dava-lhe autoridade para esta promessa de história do Amazonas que, até hoje, não surgiu. Outros ventos sopraram e levaram Bertino para o Rio pela força de sua cultura e esta ambicionada História morreu no acervo documental passado às mãos de seu primo deputado. “Escrito para a imprensa compreende-se que não houve ensejo para polir e refundir alguns capítulos.

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“Em todo caso, num ponto, o escrúpulo foi excessivo. Desde os descobrimentos até os pródromos da Independência, tivemos sempre à vista documentos verídicos, uns raros e outros inéditos”.

Aqui vemos o historiador sobrepujando os arroubos jornalísticos, o calor dos furos de imprensa, a correria trepidante e trêfega das reportagens apaixonadas.

Aplaudindo a Associação Comercial pelo gesto, aliás condizente com a sua alta finalidade, pois comércio não é só mercância, mas intercâmbio cultural, de lançar esta obra preciosa na mão dos estudiosos de nossa história, desejamos que a sua festiva receptividade seja um estímulo para novas empreitadas que visem ao completo levantamento cultural de nossa terra e de nossa gente.

Manaus 19-08-1983

João Chrysostomo de Oliveira

(Da Academia Amazonense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura).

Prólogo

Os leitores irão talvez ler um pequeno arcaboiço duma História do Amazonas, que mais tarde virá a lume. Por enquanto, trata-se apenas dum ensaio deficiente sobre a Cidade de Manáos, quasi dous seculos de episodios interessantes.

Escriptos para a imprensa, comprehende-se que não houve ensejo de polir e refundir alguns capitulos. Outros passaram para estas paginas sem tempo de uniformisar a ortographia e delir erros typographicos e descuidos de provas. Todavia, fizemos ás pressas diversas erratas, que corrigem os mais graves. Outros, com a soffreguidão de concluir um encargo urgente, escapariam sem duvida ao mais atilado.

Em todo o caso, num ponto o escrupulo foi excessivo. Desde os Descobrimentos até aos prodromos da tivemos sempre á vista documentos veridicos, uns raros e outros inéditos. Muitos foram copiados de originaes existentes em Bibliothecas estrangeiras. A’ parte relativa aos motins políticos pertencem os subsidios preciosos que possue o archivo da Intendencia Municipal. Sobretudo na Cabanagem, conseguimos reconstruir com elles um dos periodos mais suggestivos dessa epocha.

Pode se affirmar que este assumpto só agora se desdobra com todas as suas scenas empolgantes. Raiol e Araujo Amazonas trataram-n’o pobremente (1). O primeiro extracta o segundo. Este limita-se a truncar os factos, de que entretanto chegou a ser um testemunho synchronico.

Resta ainda frisar a circumstancia de ter cabido ao actual Superintendente do Municipio, que é amazonense, a satisfação de ver impressa a primeira tentativa, defeituosa é certo, duma História de Manáos e em muitos aspectos da antiga Capitania e da extincta Comarca do Alto Amazonas. (2)

Manáos, 30, Junho, 1908.

B.M.

(1) Motins Políticos, V. pags. 225-226. – Dicc. do Alto Ama- zonas; pags. 280 e seguintes

(2) Sobre as origens deste livro, vide O Municipio de Manãos de 1902 a 1907, pags. 10 e 11.

*Bertino de Miranda (1864-1919). Jornalista e historiador paraense. No final do século XIX para início do século XX participou ativamente da vida social, política e cultural do Amazonas. O livro de sua autoria, que em partes levamos ao conhecimento do nosso público ledor, é um importante e esclarecedor documento sobre a História amazonense.

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