Anos mais tarde, já no Rio de Janeiro para onde se mudou quando a depressão econômica da borracha o obrigou a buscar melhores oportunidades, Benjamin Lima instalou o Curso Prático de Teatro em 1939, o primeiro curso de formação teatral a funcionar no Brasil. “O Homem que Marcha” acabou sendo encenado pelo produtor Lugné Poe, grande incentivador do teatro de vanguarda europeu. Lugné Poe, que já havia ousado produzir a primeira encenação de “Ubu Rei”, de Jarry, leva à cena no mesmo palco célebre de seu Théátre de L’Oueuvre o drama amazonense. Entre os anos trinta e os anos cinquenta, enquanto a economia regional vegetava na estagnação do extrativismo, a situação do teatro não havia se modificado. Mudaram os nomes, mas o teatro continuou o mesmo. Três grupos sobressaíram-se neste longo período: o “Teatro Amazonense de Comédia”, o “Teatro de Revista” e o “Teatro Escola do Amazonas”. Este último, cuja fase de maior atividade se dará na virada da década de cinquenta para a década de sessenta, terá um repertório e ambições bem diversas dos dois primeiros grupos. O “Teatro Amazonense de Comédia” teve o seu grande momento entre 1930 e 1932, quando era dirigido por João Braga, pequeno artesão, fabricante de chapéus e amante das burletas e revistas políticas inocentes. Em seu elenco vamos encontrar vários nomes de amazonenses, ainda estudantes ou iniciando carreira em profissões liberais, que mais tarde iriam fazer parte da classe dirigente. As comédias e revistas eram escritas por Euclides Campos Dantas, funcionário público, professor e membro do Partido Comunista Brasileiro. No elenco, Paulo Prestes Mourão, Luiz Cabral (mais tarde desembargador), Fueth Paulo Mourão (professor de matemática e fundador do extinto Colégio São Francisco de Assis), as irmãs Palmira e Cristina Derzi, além da mãe, Adilia Derzi. E na técnica, como maquinista e contrarregra, o depois popular Aldemar Bonates, guardião do Teatro Amazonas nos seus momentos mais miseráveis e uma vida dedicada ao teatro. O “Teatro Escola do Amazonas,”, quando animado por Guedes Medeiros, advogado, homem de rádio, reunirá no seu elenco alguns nomes que farão história. O primeiro trabalho montado será “Iaiá Boneca”, de Ernani Fornari, sucesso total. Até 1964, quando o elenco é detido no Amapá, durante uma excursão com a peça “A Guerra mais ou menos Santa”, de Mário Brazini, sob a acusação de que se tratava de um grupo de comunistas perigosos, o “Teatro Escola do Amazonas” se manterá ativo. Para a produção de seus espetáculos contou sempre com o beneplácito dos cofres estaduais. Com esta ajuda, montaram uma excelente produção de “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Encenaram, também, a comédia “Garçom de Casamento”, o dramalhão “A Raposa e as Uvas”, de Guilherme Figueiredo, e até um surpreendente Jean- Paul Sartre, justamente a difícil “Prostituta Respeitosa”. No começo dos anos 1960, os atores José Azevedo, Ediney Azancoth e Virgilio Barbosa, que a seguir, com Felix Valois, de certo modo fartos de usar trajes bíblicos, fundam o “Teatro Universitário do Amazonas”. A primeira produção será o indefectível monólogo “As mãos de Eurídice”, de Pedro Bloch. Mas logo os estudantes vão notar que estavam num caminho totalmente equivocado.
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