Manaus, 18 de outubro de 2024

Cancioneiro da Lili

Compartilhe nas redes:

ANIVERSÁRIO DE MANAUS

Lili olha Manaus
nesta manhã de sol.

Numa nesga de céu
deixada entre dois edifícios
resta um fragmento
da cidade antiga.

Os edifícios quadrados
são de rude pedra morta.

Manaus não está perdida,
foi salva pela cúpula
do Teatro Amazonas
que não morre nunca.

(23/10/2019)

UM POEMA DE NATAL

Lili, esta história aconteceu há muito tempo.
Os mateiros andavam pela floresta e viram ali
————————-{ alguma coisa diferente.
Viram um jovem senhor e uma bela senhora
————————-{ muito jovem
encurvados como se protegessem um tesouro.

Chegaram pescadores que viram nos igapós
—————————–{ uma luz diferente,
caçadores acordados com a luz da Estrela d’Alva
e viram aquilo e não sabiam o que era,
pois a noite era escura e ameaçava chuva.

Mas ali estava claro como se estivesse iluminado
———————————–{por uma lâmpada,
dava para ver tudo muito bem,
eram o pai e a mãe de uma criança
que agitava os braços num berço de bambu.

A criança se protegia do frio da madrugada
entre plumas de sumaúma,
num tapiri construído de caibros de madeira
e coberto com palhas de inajá.

Espantados, os pescadores e os caçadores
—————————-{ perguntaram-se:
– O que é isso, jamais vimos nada assim no
—————————-{meio da floresta!
Só vimos o fogo fátuo aceso dos animais
—————————-{ mortos
e o clarão da cobra-grande nadando no rio.

Aí chegou um velho mateiro chamado Simeão
—————————————{e disse:
– Vocês se esqueceram de que hoje é noite de
—————————————{ Natal,
noite que inunda o mundo inteiro de alegria,
noite do nascimento de um menino divinal.

E concluiu o velho mateiro Simeão:
– Graças a Deus que os meus olhos viram o Seu
—————————————-{filho,
agora eu posso virar pó e sei que o mundo vai
—————————————-{mudar
em paz liberdade fraternidade amor.

Natal de 2019

UMA CONVERSA POSSÍVEL

As chuvas, Lili, agora chegam sem barulho,
sem trovões e ventos, agora elas são assim.
Vamos aproveitar e conversar com as árvores
que elas nos escutam só nos tempos de chuva.
Agora mesmo vi um caso admirável,
três araras amarelas e azuis chegaram
e conversavam com as árvores nos galhos.
– Mas as árvores não falam, insiste Lili,
como é que vamos conversar com elas?

Eu afirmo que elas falam, sim, com as águas
quando ficam alegres lavando as suas folhas.
E não choram, não, embora chovam lágrimas
derramadas nos seus troncos descascados pela
———————————————-{vida.
Elas falam sim, digo eu, mas precisam de
———————————————-{silêncio
mesmo do silêncio cheio da música das criaturas
do céu e da terra, das folhas no chão
ou dançando nos ventos lá em cima.
Não convenço Lili com a minha tolice,
ficamos sem palavras como as criaturas do
————————-——————{mundo
e começamos a conversar com as árvores.

Manaus, Natal de 2019.

DIA DE FEIRA

Pastel de tucumã na feira
Amazônia Brasileira
robusta palmeira
na mata ou na beira
o rio cheira
cheira
nos ares da feira
no calor da areia
a vida inteira
semeia
flor de laranjeira
fruta de bananeira
– é brincadeira!
uns dizem que é
leseira brasileira
o Márcio Sousa diz que é
leseira baré.

Vamos amigos à feira
orgânicos de primeira
menina faceira
quiabo maxixe mãos
ardor do trabalhador
peixes em fieira
todo mundo na feira
vinho de açaí
sumo de buriti
tucupi espremido no tipiti
pudim de macaxeira
lombo de pirarucu
despinhado tambaqui
perdoa a palavra chã
despinhada matrinchã
entre farinhas a mais fina
farinha do Uarini

Continua na próxima edição….

Views: 4

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques