*Walcilece Campos da Silva Valentim
Continuação…
III – A percepção do usuário quanto ao ordenamento da Avenida Parque
Neste tópico, será apresentado o resultado da percepção do respondente sobre as formas de uso que a população faz, ou, a oferta de serviços da Avenida Parque. Considerando o conjunto das repostas o uso comercial, corresponde a com 38,28% das respostas; residencial, com 27,15%; turístico com 13,83%; lazer para 13,49% dos respondentes e gastronômico para 7,5%. Entretanto, quando se analisa a Avenida Parque, por quadra, de acordo com as formas de uso, é possível compreender como está ordenada e, com base nesse resultado, organizou-se o quadro a seguir. As colunas correspondem ao ranking enumeradas do 1º ao 5º lugar, onde foram inseridas as forma de uso: lazer, gastronomia, turismo, residencial e comercial. As linhas correspondem a delimitação das quadras, com as respectivas ruas.
Ao analisar o quadro na sua totalidade, verifica-se que sob o olhar dos respondentes, toda a extensão da Avenida Parque apresenta potencial para o lazer e o turístico, que se mantém entre o 3º e 4º lugar no ranking. Excepcionalmente, o lazer ocupou o 2º lugar entre a Rua Adamastor de Figueiredo e Rua Dr. Luzardo Ferreira de Melo.
Tanto o primeiro quarteirão, que marca o início da abertura da via, e está localizado entre as ruas Adasmator de Figueiredo e Luzardo Ferreira de Melo quanto o último quarteirão foram considerados mais turísticos que os demais, embora todos eles devam ser, em razão de seu paisagismo. Essa percepção, certamente se deve ao fato de que o acesso por essa primeira quadra permite que as pessoas cheguem mais rapidamente ao centro histórico da cidade, conforme de observa no mapa (Figura 13), que se concentra entre as ruas Saldanha Marinho e Adamastor de Figueiredo, onde estão fixados diversos elementos que, apesar de terem sido modificados, no decorrer do tempo, pelas mãos do homem, são considerados marcos fundamentais para a historiografia do município como a Praça da Matriz (Figuras 14 e 15), que fica em frente à Catedral Nossa Senhora do Rosário, a igreja Matriz (Figura 16), e onde está exposta a Pedra símbolo que deu origem ao nome Itacoatiara. Além disso, há muitas edificações datadas do final do século XVIII e início do XIX que são muito apreciadas por visitantes e turistas. Ainda nesse mesmo trajeto, há a rua Visconde do Rio Branco (no passado denominada Rua da Gaivotas, uma das primeiras a ser aberta quando o lugar era apenas uma vila), que dá passagem à orla, ao mirante, restaurantes e a outros bairros.
Sobre o último quarteirão, compreendido entre as ruas Acácio Leite e Borba, em que se evidencia também ser uma área mais turística, entende-se que o respondente o tenha considerado assim, em razão de ser o trecho no qual se localiza o Terminal Rodoviário (Figura 17), onde diariamente circulam centenas de pessoas saindo da cidade ou vindo de outras localidades como Silves, Itapiranga, Rio Preto da Eva e Manaus por meio da rodovia AM-010. De um modo geral, compreende-se que ao se percorrer os espaços da Avenida Parque bem como o seu entorno, é possível realizar múltiplas descobertas de elementos, que se configuram como marcos referenciais componentes da paisagem de uma cidade. Nesse contexto, a interpretação e percepção individual da paisagem urbana é uma realidade cultural, que desempenha um papel de filtro variável de um para outro indivíduo e de um para outro grupo social, o que a caracteriza como instrumento para ser vivido e vivenciado, por uma população.
Ainda de acordo com a percepção dos respondentes, o gráfico 7 responde a um questionamento de extrema relevância sobre a quem se deve a responsabilidade de proteger, preservar e conservar a Avenida Parque, enquanto um patrimônio de interesse público. Segundo as respostas apresentadas, 76,1% dos respondentes atribuiu essa obrigação ao prefeito; 67,4%, à população; 47,8%, aos vereadores; 26,1%, ao governador do Estado do Amazonas e aos empresários; e 13%, aos deputados estaduais.
Diante da exposição desses dados, infere-se que, no geral, todos os respondentes concederam esse papel a toda a sociedade e, embora tenham indicado que o gestor municipal seja a pessoa mais responsável por essas ações, acredita-se que, aos residentes, caberia maior obrigação de monitorar e fiscalizar o bem público. Isso pelo fato de terem um contato frequente com o logradouro, seja como trajeto para deslocamento ou mesmo para a prática de atividades de lazer ou esportivas.
Tendo por base o gráfico 8, observa-se, por meio dos dados, o percentual atribuído pelos respondentes ao avaliarem o espaço da Avenida Parque de acordo com os serviços e equipamentos que são oferecidos à população, informações consideradas essenciais para esse estudo, pois permitiram ao pesquisador traçar um diagnóstico sobre essa questão.
No cômputo geral, pelo que se observa na imagem gráfica, a maioria dos participantes considerou ruim a manutenção das lixeiras, a segurança, a iluminação, a sinalização urbana, bem como a sinalização turística, oferta de equipamentos e outros serviços mencionados; por isso, nos indicativos em percentual, verificam-se os respectivos resultados: 58,50% dos respondentes indicaram ser ruim; 35,77%, bom; 4,55%, ótimo; e 1,19% não souberam opinar.
Diante dos dados, ao se analisar cada um dos itens relacionados à oferta de serviços urbanos, tomando como referência a maior nota atribuída pelos respondentes, tem-se o seguinte resumo diagnóstico, conforme se verifica no quadro referente às variáveis relacionadas ao ordenamento urbano.
- Na escala do ótimo, as maiores notas atribuídas foram 21,73% para oferta de bancos para sentar; e 17,39% acesso para cadeirantes.
- Na escala do bom, as maiores notas atribuídas foram para manutenção da limpeza com 56,52%; e acesso para cadeirantes com 60,87%.
- Na escala do ruim, as maiores notas atribuídas foram para sinalização turística com 86,95%; segurança com 84,78%; e manutenção das lixeiras com 78,26%.
- Não sei opinar também recebeu como maior percentual 4,36% para sinalização turística.
Com base nesse diagnóstico, observa-se no gráfico seguinte que, segundo a percepção dos respondentes, o poder público municipal não atende com grau de satisfação à manutenção dos serviços na Avenida Parque. Sendo assim, a beleza cênica do local e seu potencial enquanto espaço de memória, sem a manutenção adequada, perde aos poucos o seu valor. Esta responsabilidade foi, pelos respondentes, atribuída à insatisfação de:
71,74%, com a atuação do poder público local;
73,91%, com a não divulgação da importância do papel histórico da Avenida
Parque no contexto da evolução da cidade;
69,57%, não valorização da Avenida Parque como um patrimônio de
Itacoatiara;
71,74%, com a manutenção da infraestrutura da Avenida Parque;
86,96%, com a oferta do serviço da segurança civil na Avenida Parque;
82,61%, com a oferta de atividades e serviços com foco na promoção da
Avenida Parque para o turismo.
Quanto ao nível de satisfação com a acessibilidade 63,43% dos respondentes assinalaram estarem satisfeitos; 8,69% muito satisfeitos e 28,26% insatisfeitos.
Conclui-se este tópico referente à percepção e satisfação do usuário da Avenida Parque, com a média percentual que, de acordo com o gráfico 9, indica no universo dos 46 respondentes: 2,48% muito satisfeitos; 27,02% satisfeitos; 69,25% insatisfeitos e 1,24% não souberam opinar.
IV. Avaliação da Avenida Parque enquanto espaço de memória na percepção dos respondentes
Em se tratando de memória local, faz-se necessário envolver tanto a história do elemento em estudo, no caso a Avenida Parque, quanto a da cidade onde ele está estabelecida, assim como todo o seu processo de evolução, pois é fundamental que os habitantes conheçam os espaços que compõem o lugar onde residem e os sintam como parte de si. Com este embasamento alicerçado na literatura utilizada, pôde-se levantar que para 100% a Avenida Parque se apresenta como espaço de memória da sociedade de Itacoatiara.
Entretanto, quando questionados se conhecem a história de criação da Avenida Parque, apenas 21,7%, responderam saber muito; 73,9% responderam saber pouco; e 4,3% responderam não ter nenhum conhecimento.
Ao se correlacionar as respostas, observa-se que há um reconhecimento quanto ao potencial histórico que a Avenida agrega para a cidade, mas, pouco se sabe da história. E, se não se sabe, não se pode valorizar e cuidar.
Isso indica a necessidade de as informações sobre a Avenida Parque, serem divulgadas para os residentes, no sentido de incentivá-los a buscar fontes de conhecimento sobre a importância da história local. Como se trata de um lugar onde a maioria das pessoas têm seu cotidiano e modo de vida já estabelecidos, pode-se inferir que esse grau de insatisfação deva-se ao fato de elas não terem informações apropriadas sobre o mundo que as cerca e, em razão disso, não perceberem como cidadãs os lugares por onde se locomovem, trabalham e vivem, como se não se sentissem pertencentes a esse ambiente. Todavia, ao serem questionados sobre o que consideram importante para que a Avenida se desenvolva como um espaço organizado para o turismo em Itacoatiara, os respondentes, revelam boa percepção quanto ao potencial que a Avenida agrega para a economia se planejada com a finalidade de valorização do logradouro.
Conforme o gráfico 12, de acordo com a opinião dos respondentes, indicam necessidade das seguintes ações:
100,00%, manutenção dos jardins;
100,00%, melhoria na iluminação;
97,82%, segurança;
95,65%, instalação de painel com história da Avenida Parque;
95,65%, instalação de um Centro de Atendimento ao Turista.
91,30%, melhoria na pista para caminhada;
89,13%, planejamento de eventos programados;
82,60%, adequação do acesso para cadeirantes;
76,09%, organização dos ambulantes;
76,09%, melhoria na ciclovia;
Ou seja, há um reconhecimento, por parte dos respondentes sobre as potencialidades turísticas, associada ao potencial histórico da paisagem urbana na extensão da Avenida Parque, que diagnosticado, neste estudo indica para 100%, como prioridade a manutenção dos jardins e iluminação, seguido da necessidade de melhorar a qualidade de cada um dos elementos citados no sentido de manter viva essa paisagem, de modo que seja reconhecida, de fato, como um patrimônio de fundamental importância que faz parte do dia a dia de seus moradores e precisa ser percebido e valorizado pelo sentido que emprega ao contexto histórico da cidade em âmbito geral. Por esse escopo, entendese que o direito à memória pode ser considerado uma extensão da cidadania e, ser cidadão, segundo Lynch (2006), remete à ideia de pertencer, de agir como cidadão dentro de determinado espaço geográfico, inclusive agregando-se sua história, a fim de alimentar a memória local.
Dentre as ações que foram definidas para a organização do espaço turístico estão a manutenção dos jardins, que na atualidade nem existem mais; a melhoria da iluminação; a organização dos ambulantes, que em relação a outros anos, hoje, há um número bem irrisório; segurança, um problema que necessita de solução urgente; adequação do acesso para cadeirantes que, na realidade, não é um aspecto tão negativo; melhoria na pista para caminhada, também necessária. Quanto à ciclovia, esse é um elemento que ainda não existe, especificamente, na extensão dos 1830m da via, mas que já deveria ter sido criada, pois, na maioria das vezes, os ciclistas utilizam as faixas destinadas para o estacionamento, quando não há muito fluxo no trânsito, ou arriscam trafegar pelo passeio central da Avenida.
Sobre o planejamento de eventos programados, eis uma ação que ainda ocorre, mas não com tanta frequência, se formos correlacionar a outros momentos, a exemplo, a realização da feira de ciências das escolas estaduais e municipais; desfile cívico, entre outras atividades, quando a Avenida transformava-se em um palco que atraía um número bem expressivo de residentes bem como visitantes e movimentava a economia da cidade. A instalação de um painel com a história do logradouro colaboraria para que os moradores tivessem acesso a esse conhecimento, pois muitos deles usam o trajeto da via, mas não sabem nada a respeito da sua origem e, talvez, por isso, não percebam a dimensão do valor desse bem público.
Com referência à criação de um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), acredita-se que essa seria uma das iniciativas mais relevantes e benéficas para o município e seus munícipes, pois esses centros de informação são fundamentais para orientar e informar o turista, a fim de que ele tenha uma boa impressão do local visitado, no momento em que chega nele, uma vez que, por meio desse atendimento, recebe-se as devidas orientações sobre os atrativos, equipamentos turísticos, sua localização e todas a s informações pertinentes a respeito da cidade. Também podem ser aplicadas pesquisas de satisfação sobre a melhoria dos serviços e infraestrutura do local e o turista pode deixar suas sugestões e, ainda tecer suas críticas e elogios sobre o lugar. Por essa razão, concorda-se que a implantação de um CAT, seria uma iniciativa de fundamental importância em reconhecimento, não apenas da historicidade da Avenida Parque e do seu entorno, mas também do município como um todo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo geral identificar os elementos identitários da Avenida Parque de Itacoatiara para a promoção do turismo urbano, com desdobramento para três especificidades. O primeiro passo foi dissertar sobre a história da Avenida no Contexto da evolução urbana; o segundo, investigar a percepção do usuário e residentes sobre a importância do patrimônio para a memória social da cidade e, o terceiro, avaliar o potencial desse logradouro como produto turístico.
Durante o processo de levantamento dos dados, inicialmente, utilizou-se como procedimento metodológico a pesquisa em fontes secundárias, que embora não muito vastas e direcionadas ao objeto de estudo, foram de fundamental relevância para subsidiar as informações que compõem parte deste trabalho, visto que, em razão da pandemia da Covid-19, tornou-se inviável prosseguir com as investigações in loco, tendo-se de recorrer a outro método conhecido como “bola de neve”, cuja aplicação foi realizada por meio das mídias sociais, via Whatsapp, com retorno de 46 respostas, no universo de 78 mensagens enviadas ao primeiro grupo criado.
O formulário, criado na plataforma do google forms, possibilitou conhecer a opinião dos participantes sobre diversas questões relacionadas à Avenida Parque e, para isso, utilizou-se o contato virtual como recurso, pois considerou-se que se trata de um recurso capaz de captar informações pertinentes e de forma satisfatória sobre a percepção e a avaliação que os respondentes possuíam sobre os elementos identitários da Avenida, visto que essa identificação não pôde ser observada fisicamente devido à pandemia. Diante desse fato, o estudo foi dividido nas quatro categorias apresentadas com o intuito de facilitar a interpretação dos dados tanto por parte do pesquisador quanto no que se refere à compreensão do público leitor.
A pesquisa mostrou que o perfil dos participantes se caracteriza como predominantemente adulta, do sexo feminino e com nível de formação superior graduação. Ainda sobre esse aspecto, convém reiterar que a maior parcela dos respondentes é itacoatiarense e as demais, imigrantes e/ou residentes há mais de 20 anos no município. Portanto, todos esses dados corroboram para que as respostas apresentadas durante a aplicação do questionário sejam consideradas confiáveis.
No que se refere às atividades realizadas ao utilizarem o trajeto da Avenida e os respectivos horários de circulação, os resultados mostram que há uma grande flexibilidade quanto a esse uso, evidenciando-se, principalmente, a prática de atividades físicas e o acesso ao centro comercial, pois em pontos específicos do logradouro estão concentrados bancos, lojas, farmácias e outros estabelecimentos; e, em relação aos horários não é diferente essa versatilidade. Sendo assim, compreende-se que cada um dos respondentes utiliza o trajeto de acordo com sua necessidade; todavia, o mais importante é que, de alguma forma, todos usam a via, em algum momento, para realizar diferentes dinâmicas. Por isso, os resultados confirmam que a presença deste espaço em estudo constitui-se em uma ponte entre turismo, lazer e bem-estar para os usuários.
Com relação ao ordenamento das quadras da Avenida Parque, as respostas também apresentam-se diversificadas, pois sob o olhar dos respondentes, as oito quadras avaliadas foram consideradas espaços de lazer bem como comercial, residencial, turística e gastronômico e, em relação à área turística, indicaram toda a extensão com potencial para o lazer e turismo o primeiro e o último quarteirão se se destacam como turísticos, certamente por causa de algumas imagens da identidade local que são referenciais importantes e valorizam o ambiente, mas vale salientar que toda a extensão da Avenida Parque apresenta potencial turístico, indubitavelmente, pelo seu paisagismo e, a paisagem urbana, segundo Boullón (1990), representa o conjunto de elementos naturais e artificiais que constituem uma cidade e isso implica na caracterização desta por meio da superposição das áreas edificadas, espaços públicos abertos, paisagismos e monumentos no sítio geográfico local, registrando a atividade do ser humano neste ambiente. Sendo assim, fica implícita, no contexto, a interpretação e percepção individual que a paisagem urbana pode causar ao homem e, consequentemente tornar-se um atrativo turístico vinculado à cultura e história local, o que parece ser relevante o suficiente para ser vista como uma característica forte, que traz identificação ao espaço.
Dando seguimento às considerações, identificou-se que a população reconhece a prefeitura como a mais responsável pela manutenção do patrimônio, no que diz respeito à proteção, à preservação e à conservação do local. Entretanto, quando se analisam os resultados que se reportam a esse questionamento, infere-se que os respondentes também concedem esse papel a toda a sociedade e, por esse escopo, convém concordar que, inegavelmente, a maior responsabilidade deva ser atribuída ao gestor local sem, no entanto, anular a obrigação dos residentes de monitorarem e fiscalizarem o bem público pelo contato frequente que têm com ele, diariamente.
Sobre os serviços e equipamentos oferecidos, no geral, todos foram considerados muito ruins pelos respondentes, indicando que tais elementos não atendem satisfatoriamente aos anseios da população. Em vista disso, é perceptível que necessitam de atenção mais efetiva da gestão local, principalmente, no que se refere à manutenção adequada do paisagismo, das lixeiras, da limpeza e, sobretudo, dos serviços de segurança, iluminação, sinalização urbana e turística que, conforme se analisa, apresentam-se deficientes. Embora essa deficiência seja visível, constata-se que os respondentes veem potencial na avenida, como um todo, para desenvolver o turismo, mas também, apontam que os elementos identitários que compõem toda a extensão do logradouro estão prejudicados pela falta de interesse do poder público, o que pode ser constatado a partir dos resultados no gráfico 9 que mostram um percentual de 69,25% dos respondentes insatisfeitos.
Outro fato preocupante é que a maioria das respostas sobre a avaliação da Avenida Parque, enquanto espaço de memória, evidenciem a falta de conhecimento dos respondentes sobre a história do local, visto que apenas 21,7% afirmou saber muito sobre o assunto; 73,9% conhecem pouco; e 4,4% nada sabem a respeito do assunto. Em contrapartida, todos consideram que o logradouro se apresenta como espaço de memória da sociedade itacoatiarense, pressupondo-se, assim, que se importam com a valorização do patrimônio e dos elementos que o compõem; apenas, não sabem como agir diante dessa situação. Nesse contexto, convém reforçar a concepção de que a identidade de um povo deve ser construída a partir de sua memória, na qual se agregarão valores, manifestações e histórias que serão repassadas de geração em geração, muito embora esse entendimento seja pouco valorizado e praticado no âmbito social. Por conseguinte, no pensamento contemporâneo “[…] a identidade é vista como algo móvel, sempre em construção, que vai sendo moldado no contato com o outro e na releitura permanente do universo circundante” (BARRETTO, 2001, p. 19); além disso, o turismo é uma atividade que gera contatos frequentes, contribui para a construção e desconstrução das referências identitárias nas localidades receptoras.
Ao correlacionar as opiniões sobre a questão da memória e o fato relacionado ao desenvolvimento da Avenida como espaço organizado para o turismo, fica claro que há o reconhecimento do espaço como potencial histórico, que valoriza a cidade em todo o seu processo de evolução bem como no aspecto econômico, cuja potencialidade existe, mas deve ser planejada com a finalidade intensificar, no residente, o sentimento de pertencimento e valorização do patrimônio. Não obstante, faz-se necessário divulgar a história da Avenida Parque de maneira mais efetiva para que o morador, ao ter acesso a esse conhecimento, descubra-se como cidadão pertencente ao lugar por onde se locomove, trabalha e vive, pois ao se apropriar da história local, certamente, irá perceber o verdadeiro exercício de construção da sua identidade e da sua cidade.
Quanto aos aspectos considerados importantes para que a Avenida Parque se desenvolva como espaço organizado para que a atividade turística possa funcionar, de fato, várias ações foram indicadas, pois todas as avaliações apontadas pelos respondentes são uma realidade e, considerando essa percepção, há de se concordar que a maioria deles tem consciência da existência desses problemas. Ressalta-se que essas necessidades são bem antigas e, portanto, não se trata de algo recente e que vem se arrastando há mais de uma década sem que nenhum dos responsáveis pela administração local se posicione para tentar solucioná-las, muito embora a maioria da nossa população também tenha a sua parcela de culpa por não ter sido educada ou orientada a valorizar e a cuidar de um patrimônio tão representativo para o município; portanto, “[…] demonstrar que o legado cultural constitui um atrativo turístico e que, se bem trabalhado, pode atrair um público diferenciado” (BARRETO, 2003, p. 75). A autora destaca, ainda, a ligação entre o turismo e a preservação do patrimônio histórico-cultural, pois “[…] trabalhar a tradição como atrativo ajuda a recuperar a memória e identidade locais.” Nesse viés encontram-se os estudos sobre sustentabilidade cultural que Beni (2006) define como a proteção da herança cultural e do patrimônio histórico, e a administração e conservação da autenticidade cultural.
Essa pesquisa, buscou dissertar sobre a história da Avenida Parque no contexto da evolução urbana, bem como investigar o que esse patrimônio representa para a memória social da cidade e a percepção do usuário/residente sobre o potencial turístico do Túnel Verde, que atravessa a cidade e liga a Orla de Itacoatiara à estrada estadual AM 010.
Com base nos resultados obtidos, conclui-se que existe a necessidade de se realizar a manutenção e ordenamento do logradouro com objetivo de, ao valorizar a paisagem do Túnel Verde da Avenida Parque, reafirmar sua importância no contexto histórico e cultural de Itacoatiara, reconhecendo-a como um patrimônio que faz parte do cotidiano do residente, mas precisa ser percebido e valorizado pelo potencial que agrega para o turismo.
Como afirmam Silva (2004), Boullón (2002) e Castrogiovanni (2001), a paisagem é um elemento fundamental da oferta turística sendo fator de decisão para escolha do destino. E, no local, o exercício prazeroso da observação dos elementos do espaço aguça o olhar e a percepção do turista que, fora do seu lugar habitual, apreende a dinâmica do lugar visitado por meio dos signos e símbolos que compõem a paisagem em uma escala espacial e temporal em constante evolução.
Contribuir para que os residentes, ampliem a percepção sobre a importância que os 346 pés de oitis, totalmente entrelaçados, formando o grandioso Túnel Verde, representa para a memória social de Itacoatiara, corrobora com a afirmativa de Gastal e Moesch (2007), de que as pessoas moradoras ou usuárias das cidades devem ser motivadas a usufruir os espaços como se fossem turistas em sua própria cidade para assim, desenvolverem e ampliarem o sentimento de pertencimento pelos locais.
Em tese, por meio do projeto de Lei 185/2017, o “Canteiro Central da Avenida Parque”, foi reconhecido como Patrimônio Cultural de Natureza Material do Estado do Amazonas. Título com potencial para ser utilizado para a promoção do turismo, por exemplo, com o uso de painéis interpretativos com registro fotográfico e legenda da história da Avenida Parque no contexto da evolução do espaço urbano. E ao longo dos 1.830 metros de extensão da Avenida com pontos mapeados para visitação, como o Centro Cultural Velha Serpa, localizado na saída para a AM 010; ou a Pedra Pintada, com registros de escrituras indígenas oriundas do tupi ou nheengatu, localizada na orla de Itacoatiara.
Com as respostas levantadas com o recurso do Google Forms, se identificou que em toda a extensão, a Avenida Parque é trajeto diário dos residentes que por ela se deslocam para as atividades cotidianas ou para as práticas esportivas. Com relação as ações que julgam necessárias para que a Avenida Parque se desenvolva como espaço organizado para o turismo, foi unânime a necessidade de manutenção da infraestrutura da iluminação e jardinagem; e, a instalação de painéis interpretativos, foi considerada importante para 95,65% dos respondentes.
Com base na insatisfação de 69,25% dos respondentes sobre as condições da Avenida Parque, sugere-se ao Poder Público Municipal, junto às Secretarias de Administração, Infraestrutura, e; Cultura, Turismo e Eventos, adoção de medidas de conservação e de melhorias, com base na elaboração de um Plano de Recuperação e Promoção do Canteiro Central da Avenida Parque.
Outro dado de relevância levantado, refere-se aos 73,9% que não conhecem a história da Avenida Parque e, dos 4,4% que nada sabem à respeito, apesar de consideram que o logradouro se apresenta como espaço de memória da sociedade itacoatiarense. Como educadora, residente em Itacoatiara, com base nos resultados da pesquisa e na contribuição de Barreto (2001), de que a identidade de um povo esta sempre em construção, sendo moldado no contato com o outro e na releitura permanente do universo circundante, sugere-se entre a Secretaria de Educação Municipal, a Coordenadoria Regional das Escolas Estaduais de Itacoatiara, a Rede Privada de ensino e, os membros das Associações de Moradores de bairros, que sejam elaboradas estratégias como por exemplo, minicursos, com temáticas associadas à educação, turismo e patrimônio, a serem oferecidos de forma gratuita para professores, alunos e membros de associação de bairros. Outra proposta seria a elaboração e distribuição de uma cartilha informativa que, por meio de uma linguagem simples e imagens, conte a história da Avenida Parque e sua importância, no contexto urbano, de relevância para a memória social do itacoatiarense.
Diante do exposto, afirma-se que o diferencial da paisagem marcante, imponente, sesquicentenária e histórica da Avenida Parque, com seu majestoso Túnel Verde entrelaçado por centenários oitizeiros precisam ser valorizado enquanto Patrimônio Cultural Material do Amazonas, para o fomento da atividade turística de Itacoatiara.
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*Walcilece Campos da Silva Valentim. Natural de Itacoatiara. Após concluir o Curso de Magistério, iniciou a carreira de professora concursada na rede estadual de ensino. Graduada em Letras pela UFAM, possui duas especializações nessa área. Também concluiu o bacharelado em Turismo pela UEA. Ministrou aulas para alunos e alunas da Pré-escola ao ensino superior. É mãe de três filhos e avó de três netos. Atualmente é professora aposentada do Estado, mas continua ministrando aulas de Língua Portuguesa no Colégio Nossa Senhora do Rosário.
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