Poemas de todo dia
ÚLTIMAS CHUVAS
Nuvens de mármore
na tarde do fim de maio
de azul e de ocre.
Últimas chuvas
quando a floresta oferece
a sua música.
O sorriso abrasa
no infinito do teu rosto
cheio de graça.
(26.05.2014)
COMEÇA O DIA
Águas de prata
falam as árvores
cheias de essência,
sol na floresta
se eleva o verde
na flor das nuvens.
Vai tua voz
plumas nas asas
desenhos no ar,
cores no céu
do dia lindo,
rosa de amar.
Ar de lavanda
vai na varanda,
luz se inicia,
mãos par em par
abrem as asas
na luz do dia.
(28.05.2014)
INSÔNIA
As aves da floresta se recolhem,
protegem-se do escuro sob as asas,
as asas do sono, aos olhos da noite,
as mãos nos travesseiros enlaçadas.
Aqueço as minhas mãos nas tuas mãos
e juntos tomamos chá de erva doce,
tu me trazes ao sono o teu perfume
como fazem as árvores à noite.
Fazem cessar o silêncio as palavras,
nossos sonhos restauram a nossa alma.
(30/06/2014)
AS DUAS JANELAS
Vejo o sol brilhar nas águas
serenas do rio Negro,
arde no céu o crepúsculo
como se fosse o primeiro.
Na janela da TV
vejo a dor que mata a glória,
velho motim desde o tempo
da tempestade do Gólgota.
As duas janelas mostram
imagens de um só lugar,
era bom que o sol levasse
a nossa paz para lá.
(31/07/2014)
VELO O TEU SONO
Teus pés miúdos caminham
o mago mundo do sonho,
eu velo o teu sono bom
até chegar a manhã.
O rio escuro sereno
sobe aos teus olhos fechados,
está coberto de estrelas
como nas noites de maio.
Chegaste sem me avisar
mas eu sabia que vinhas
com teus pequeninos pés
à manhã do nosso encontro.
(25/11/2014)
ODE À SIMPLICIDADE
No berço recebemos um encargo
do que vamos fazer aqui e além,
do gestual dramático e do abraço,
do trabalho singelo como um traço
ao dia a dia e o tempo eternizado,
tudo o que tantos fazem com desdém.
Limpar os apetrechos da cozinha,
lavar a louça onde se vai comer,
das taças floridas do vinho amigo
às colheres com que se come doces,
irrigar os vasos onde grelam flores,
tudo feito com toques de dever.
No fogão e no tanque e nos varais
das roupas que exalam cheiro de flor,
a troca das roupas de cama, a troca
das toalhas de banho bem cheirosas,
dos passos mais singelos dessas horas,
tudo faz parte da vida e do amor.
Se melhor queres ser do que serias
cultiva a vida simples dos teus dias.
(24.12.2014)
NA AUSÊNCIA DAS ROSAS
Não é banal amanheceres sorrindo
mas hoje é o dia do teu aniversário,
olho da varanda e vejo o rio sereno
liso como um espelho a refletir
as árvores do sumo da floresta
que o criador nos oferece como um mimo.
Meu impulso é ir buscar umas flores
no mínimo as rosas vermelhas que adoras
mas estão longe de onde estamos
e me inquieto em não poder oferecê-las
no dia do teu aniversário.
Percebo enfim que tenho bem perto
um canteiro de palavras que florescem
mais alegres quando sorris e sempre
socorrem-me nas nossas comemorações.
Mas às vezes como são difíceis de brotar
do nosso coração cheio de pedras,
mais difíceis do que buscar umas rosas
nas montras das floriculturas.
Vejo as árvores refletidas sobre o rio
e me vejo refletindo sobre ti
onde rolam as águas da alegria
não só no dia do teu aniversário
mas em todos os momentos
de celebração da vida.
Beijos!
Manaus, Praia da Ponta Negra, 15.04.2015.
Continua na próxima edição….
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