O meu pai costuma se referir às pessoas nascidas na calha do Rio Madeira como conterrâneos. Para ele e muitos amazônidas, a sua lealdade, o senso de ser natural, de terra natal, de pertencimento, enfim. Está ligado mais ao rio do que á cidade ou vila em que nascem. Daí a palavra ribeirinhos. Os caboclos são tão ribeirinhos quanto as aves ribeirinhas. Vivem nos rios e pelos rios.
Os nossos rios, sempre majestosos, serpenteiam pela floresta, deslizando entre as árvores imensas do Amazonas. O título dessa crónica foi inspirado em homilia do Padre João Carlos, ao citar versículo do profeta Ezequiel. Como o rio que brota do templo traz vida em abundância, o Amazonas, com sua imensidão e força, é a artéria pulsante de um ecossistema bastante complexo.
As aves, em suas cores vibrantes, dançam entre as copas das árvores, enquanto os peixes nadam nas águas dos rios e igarapés, refletindo a luz do sol que se infiltra por entre as folhas. Cada canto, cada movimento, é uma sinfonia que ecoa na vastidão.
Os ribeirinhos, que vivem em harmonia com o rio, entendem que o rio não é apenas um recurso, mas uma fonte de vida. As águas são o sustento de suas comunidades, de suas tradições e de suas histórias. É na beira do rio que a vida se renova: nas colheitas das várzeas, nos igapós e no regime das águas; tempos de cheias e de vazante. E claro, nas festas e nos rituais que celebram a conexão com a natureza. Nos saberes repassados de geração a geração.
Mas, assim como a vida floresce a partir das águas, também há a sombra da degradação. O avanço do desmatamento, a poluição e as mudanças climáticas ameaçam esse delicado equilíbrio. O rio, que antes era um símbolo de fertilidade, agora carrega os vestígios de uma luta constante entre o progresso e a preservação.
Os habitantes da floresta, guardiões do saber ancestral, lutam para proteger esse legado. Eles reconhecem que a saúde do rio é a saúde da terra. Cada ação, cada escolha, reverbera na correnteza, e a vida que ali floresce depende da sabedoria de quem a habita.
Assim, onde o rio chega, a vida se expande, mas é preciso cuidado. É um chamado à responsabilidade: preservar a riqueza do Amazonas é garantir que as futuras gerações herdem não apenas a beleza da natureza, mas também a sabedoria de viver em harmonia com ela. O rio continua a fluir, e com ele, a esperança de um futuro onde a vida, em toda sua diversidade possa sempre estar presente. Que o versículo bíblico citado pelo padre João Carlos, do Livro de Ezequiel seja uma verdade perene – onde o rio chega, chega a vida.
PS – Padre Joao Carlos é salesiano e preside a AMA ‘ASSOCIAÇÁO MISSIONÁRIA AMANHECER. Contato. (81)3224.9284
*Bacharel em Direito. Membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas.
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