Manaus, 29 de abril de 2025

Amazonas: História, Mistérios e Heroísmo

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Recortes Pessoais

Continuação…

Capítulo 10

Fluxos migratórios

Porto da Manaus de antigamente Foto:

Corrêa Lima/acervo Eduardo Braga/IDD.org

Antes da chegada dos invasores europeus, a região amazônica já era densamente povoada. A riqueza cultural desses povos originários era tão exuberante que se expressava por meio de seis troncos linguísticos, além, é claro, da organização social, da vida econômica, das crenças religiosas, da mitologia, da arte, do conhecimento da floresta, de seu peculiar modo de vida, enfim.

Esse cenário sofreu uma brutal mudança com a ação de espanhóis e portugueses, a partir do século XVI. Naquela época disputavam as nossas terras, ainda, os ingleses, os franceses e os holandeses. Aqui prevaleceram os portugueses. Segundo Darcy Ribeiro, a partir desse encontro “os indígenas que sobreviveram à guerra de extermínio, sofreram uma transfiguração étnica, convertendo-se em índios genéricos, sem língua, nem cultura e sem identidade cultural específica”. A dominação tinha igualmente como estratégia provocar a miscigenação racial entre brancos e índios, resultando daí o mestiço, o nosso caboclo. Mais tarde foram introduzidos os africanos, para o trabalho escravo, embora no Amazonas em número reduzido. Manáos, barés, passés, baniuas, tarumãs, muras e tantos outros, todavia, constituem as nossas mais remotas raízes.

Por conta do Primeiro Ciclo da Borracha (1877 a 1910), novo contingente humano se transferiu para a Amazônia: estrangeiros (ingleses, italianos, franceses, alemães, árabes e judeus) e nordestinos, em grande parte cearenses. Aqueles como investidores, comerciantes, carregadores ou artífices das grandes obras arquitetônicas das capitais, Manaus e Belém; estes, para fugir da seca, como coletores do látex (os seringueiros) no meio da mata virgem. No Segundo Ciclo da Borracha (1942 a 1945), decorrente das necessidades da Segunda Guerra Mundial, outro volumoso contingente de nordestinos aqui aportou. Muitos ficaram, constituíram famílias e, as estimativas variam, o seu DNA acha-se impresso em mais ou menos 50% dos amazonenses.

A partir da década de 60 do século XX, com a chegada dos militares ao poder, foi criado e posto em execução um extraordinário plano de desenvolvimento para a região amazônica, com inúmeras obras de infraestrutura, sendo Manaus, por sua vez, brindada com o Polo Industrial da Zona Franca, que trouxe muitas empresas estrangeiras, empregos e outra leva de pessoas: do exterior, do restante do país e também do interior do estado. Os japoneses chegaram em duas oportunidades, no interregno dos dois Ciclos da Borracha e com a Zona Franca de Manaus.

Manaus, desde então, explodiu demograficamente. Como se isso não fosse o bastante, a capital do Amazonas passou a receber imigrantes com um outro perfil, em geral tangidos por tragédias naturais, como os haitianos, vítimas do terremoto de 2010; e os venezuelanos, fugindo do regime político e do caos econômico; como também os cubanos, provenientes do programa “Mais Médicos”.

É dessa mistura, desses contrastes, desses entrechoque desse cosmopolitismo, que somos forjados. É preciso, portanto, sobre eles refletir, a fim de que possamos evitar os erros do passado, sobreviver com dignidade no presente e nos reconhecer como frutos únicos e especiais desse processo histórico, indo buscar, no resgate de nossas raízes, como civilização da floresta tropical, as bases para uma outra matriz de desenvolvimento econômico, apoiada sustentabilidade, na solidariedade, no uso racional e soberano nossas riquezas.

Continua na próxima edição…

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