Manaus, 29 de outubro de 2025

AMAZÔNIA, ESTADO DO AMAZONAS, GOVERNO BRASILEIRO, PAPA FRANCISCO E A COP30: HIPOCRISIA E ENGODO – Artigo 6/6

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Este sexto e último ensaio apresenta a propositura de um conjunto de programas científicos e tecnológicos e o legado da COP30 para a Amazônia, em especial, para a cidade de Belém, e uma singela homenagem ao Papa Francisco. Registra também a recente iniciativa do Ministério de Educação do Brasil voltada à criação e instalação da Universidade Federal Indígena em Brasília.

6.1. Uma Proposta para a Sustentabilidade do Estado do Amazonas – Contribuição para a COP30

Considerações preliminares

Esta seção apresenta um conjunto de programas estratégicos em educação, ciência e tecnologia encaminhado aos responsáveis pela COP30, como contribuição às suas discussões e debates sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia, em especial do Estado do Amazonas. Cópias deste portifólio de programas foram entregues pessoalmente ao Senhor Olavo Noleto Alves, Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social da Presidência da República do Brasil, e ao Embaixador André Corrêa do Lago, responsável pela condução da COP30, no Auditório Eulálio Chaves da Universidade Federal do Amazonas, em 20.8.2025. A proposta se restringe ao Estado do Amazonas, embora ela possa ser ampliada e, com as devidas ponderações, ser aplicada para toda a Amazônia, e também para outras regiões tropicais úmidas do planeta. Uma contribuição técnica autoral mais elaborada, abrangente e consistente para a construção de uma Política de Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento sustentável da Amazônia pode ser consultada no livro autoral “Amazônia: Redenção ou destruição”, publicado pela Editora Dialética, SP, em Julho de 2025.

Resumo executivo: A Amazônia brasileira é formada pelos Estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins, partes dos Estados do Maranhão e Mato Grosso. Totaliza 4.987.247km2, 3/5 do território brasileiro e 2/5 da América do Sul, correspondentes a 1/20 da superfície terrestre, 1/3 das florestas tropicais mundiais e 1/5 da biodiversidade em terra sólida do planeta. Ela é morada de 22 mil comunidades interioranas e abriga 32 milhões de pessoas, 4/1000 da população mundial, com mais de 70% desses habitantes vivendo em áreas urbanas. Abriga 163 povos originários, que totalizam 870 mil parentes, ou 51% da população indígena brasileira. Possui cerca de 500 bilhões de árvores distribuídas em 15 mil espécies arbóreas, mais de 20% do total de espécies mundiais, que desempenham um papel estratégico à estabilidade climática do planeta. O seu inventário botânico identifica 2 mil espécies de plantas medicinais usadas por suas populações tradicionais, e 1250 espécies produzindo óleos essenciais. Ela também possui 2 mil grandes rios e uma complexa hidrografia com mais de 75.000 km de hidrovias, mais de 50% do potencial hidrelétrico do Brasil, mais de 75 milhões de hectares de várzeas, 11.280 km de fronteiras internacionais e ricas reservas minerais. Maior parte desta grandeza cultural e ecológica está abrigada no Estado do Amazonas. Esta proposta encontra-se assentada na sustentabilidade, guiada, simultaneamente, pelos verbos-ação: inovar, empreender, preservar, incluir, compartilhar e transcender. Esta perspectiva exige o ‘ser, estar, interagir e fazer’ a partir da Amazônia. A proposta, organizada por meio de onze programas estruturantes sob a responsabilidade do Prof. Marcílio de Freitas, propõe criar mecanismos operacionais para consolidar o desenvolvimento sustentável no Amazonas, durante 2026-2036. Os desafios que a Amazônia suscita ao Mundo são complexos e têm alcance planetário. Ela é estratégica ao Brasil e à Humanidade, com destaque para a sua participação na construção de uma nova concepção estética para a humanidade e ao seu desenvolvimento sustentável na condição de maior biblioteca viva e aberta do planeta. Ênfase à sua condição pluricultural, de espaço estratégico ao Brasil e ao Mundo, mecanismo de reciclagem ecológica do planeta, e termostato e fonte de estabilidade climática da Terra. Suas características culturais e ecológicas precisam ser protegidas, disseminadas e popularizadas ao Brasil e ao Mundo para valorizar a sua importância ao aperfeiçoamento das pessoas, da sociedade e da humanidade. Incorporar a Amazônia ao projeto de desenvolvimento brasileiro, construir o consenso político nacional para garantir o financiamento de seu desenvolvimento sustentável, a partir de seus municípios, e difundir e popularizar a sua importância ao Brasil e ao Mundo são os principais desafios postos aos governantes e gestores brasileiros. Destaca-se que essas propostas podem ser também implantadas, com as devidas ponderações, nos demais estados amazônicos.

CUSTO TOTAL: R$2.172.000.000,00 (Dois bilhões, cento e setenta e dois milhões de reais) equivalentes a US$394,909,090.00 (Trezentos e noventa e quatro milhões e novecentos e nove mil e noventa dólares)

em 19.8.2025

APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS

6.1.1. Programa “Acelera Amazonas”: propõe-se implantar e aperfeiçoar vinte mestrados e vinte doutorados estratégicos na UFAM/UEA, todos articulados com a sustentabilidade do Amazonas, a saber: Biotecnologia; Engenharias Eletrônica, Mecatrônica, Computação, Novos Materiais, Ambiental, Naval e Engenharia de Transporte; Economia e Desenvolvimento Sustentável; Sociedade e Cultura na Amazônia; Sustentabilidade e Artes na Amazônia; Antropologia; Geociências; Linguística; Novas Tecnologias Educacionais; Direito Ambiental; Arqueologia; Relações Internacionais; Química de Produtos Naturais e Engenharia Florestal. Serão formados, no mínimo, 1000 mestres e doutores, especializados em temáticas vinculadas à sustentabilidade do Amazonas. Custo: R$ 400 milhões, incluindo a organização de um laboratório multitemático e uma biblioteca básica para cada programa de pós-graduação.
6.1.2- Programa de Ciência e Tecnologia e Inovação para a Política de Mudanças Climáticas, Gestão das Unidades de Conservação e Educação Ambiental do Estado do Amazonas: propõe consolidar várias plataformas tecnológicas e integrar serviços públicos relacionados com a arquitetura, as estruturas mecânicas e os serviços ambientais dos ecossistemas amazônicos; e construir novas abordagens e metodologias que valorizem as dimensões humanas e os processos culturais nos modelos de uso da terra e de preservação ambiental no Amazonas. Ele encontra-se centrado na construção de processos, sistemas e estruturas voltadas à mitigação das mudanças climáticas e da injustiça social e ambiental na Amazônia. Custo: R$ 200 milhões, aplicados durante quatro anos consecutivos.

6.1.3. Implantação de 62 Centros de Vocação Tecnológica e Artística no Estado do Amazonas. Estes Centros funcionarão como plataformas de educação e inovação científica, tecnológica e artística, de uso comunitário, focadas na educação, profissionalização e no empreendedorismo. Serão dotadas de auditórios com sistema de recepção e transmissão de sinais e imagens eletrônicas, estruturas de computação com plataformas digitais, núcleo para inovações tecnológicas vocacionadas, laboratórios para o ensino de ciência, matemática, artes, representações cênicas e informática básica. Estas estruturas terão o apoio de oficinas, bibliotecas, videoteca, setor administrativo e espaços culturais de representações artísticas voltadas à formação técnica e artística, à educação diferenciada, à inovação e empreendedorismo e à difusão e popularização da ciência. Os núcleos de inovação possibilitarão articular ciência e sustentabilidade; ciência e educação; ciência e bioeconomia; ciência e geração de emprego; ciência e habitabilidade; ciência e transporte; ciência e saúde; ciências e serviços ambientais e mudanças climáticas; ciência e segurança; e ciência e arte. Custo: R$310 milhões, durante 4 anos consecutivos, ao preço médio de R$5 milhões/centro/município.

6.1.4. “Museus Vivos da Amazônia”. Esta proposta propõe implantar e organizar oito museus das antropologias e das histórias naturais da Amazônia, um em cada mesorregião do estado do Amazonas. Estes museus se dedicarão à pesquisa, à educação, à exposição e à divulgação científica e cultural da Amazônia. Reunirão exposições, acervos e coleções de peças e espécies de suas faunas e floras, terrestres e aquáticas, os quais serão objetos de curiosidade e estudo por parte de pesquisadores, visitantes ou de instituições nacionais e internacionais. Os museus estarão conectados entre si por meio de uma plataforma de informação e comunicação que, também, possibilitará as suas interações com as escolas e as universidades das redes públicas e privadas da Amazônia, do Brasil e do Mundo. Custo: R$240 milhões (R$30 milhões/museu/mesorregião). Os museus serão implantados em seis anos consecutivos.

6.1.5. A Universidade Intercultural do Amazonas abarcará, simultaneamente, as múltiplas dimensões culturais e socioecológicas dos povos da Amazônia, a partir dela. Sua implantação estará centrada em seis temáticas: natureza e cultura; educação e ciência e tecnologia; inovações e processos produtivos; economias e serviços ambientais; territórios e povos; e preservação e desmatamento. Estas temáticas se desdobram em cinco eixos estruturantes que movimentarão o seu funcionamento acadêmico: Conhecimento indígena e políticas públicas; Sociedades do saber e etnociências; Cultura, natureza e artes indígenas; Desenvolvimento sustentável e economia indígena; e Educação indígena e ciência e tecnologia e inovação. Custo: R$ 500 milhões durante os primeiros quatro anos.

6.1.6. As Cibermalocas. Esta proposta prevê a implantação de 100 Cibermalocas nos municípios do Amazonas. A Cibermaloca funcionará como centro de formação e de produção de material didático intercultural. Seu design incorporará um laboratório de produção de material didático intercultural. Será equipada com dez computadores, com capacidade para editar áudio e vídeo, conectados em rede com um servidor e uma conexão de internet por satélite. O centro também terá câmera de vídeo e gravadores digitais para a captação e o registro audiovisual dos saberes tradicionais. Viabilizará o intercâmbio de materiais didáticos e formará uma rede de comunicação entre os professores indígenas e os diversos povos e comunidades participantes do projeto, potencializando o empreendedorismo regional. Custo: R$100 milhões (R$1 milhão / cibermaloca). Serão instaladas em dois anos.

6.1.7. Sociedades do Saber e o Desenvolvimento Sustentável no Estado do Amazonas. Nas linhas de transições entre os rios e as florestas de terras firmes amazônicas, emergem as várzeas fertilizadas com camadas de sedimentos ricos em matéria orgânica, dando origem a extensas faixas de terras propícias ao cultivo e à agricultura de espécies adaptadas a este ambiente sazonal. Estima-se que 1 milhão de km² do território amazônico é periodicamente inundado. Este programa propõe implantar uma plataforma tecnológica para o desenvolvimento socioeconômico das várzeas em trinta municípios do Estado do Amazonas, no período de três anos consecutivos. Estas ações incorporarão inovações tecnológicas, assim como pesquisas socioambientais já consolidadas sobre a Amazônia, às suas políticas públicas municipais, impactando suas formas de organização, produção, abastecimento e comercialização de produtos da floresta. Custo: R$60 milhões (R$ 2 milhões / município) com implantação ao longo de quatro anos.

6.1.8. A implantação de uma “Plataforma tecnológica para os mecanismos de compensação por serviços ambientais no Estado do Amazonas” é uma exigência à economia ecológica. O Amazonas, com somente 4% de desmatamento (dado em processo de revisão), possui 38 milhões de hectares de áreas protegidas, sob a forma de Unidades de Conservação. Em sua área territorial, encontram-se 38 unidades de conservação federais e 34 unidades de conservação estaduais legalmente criadas, representando 32% de seu espaço territorial, além das terras indígenas. A proposta propõe implantar mecanismos de desenvolvimento limpo associados aos serviços ambientais prestados pelo estado do Amazonas, por meio do pagamento de créditos devido ao carbono sequestrado pelas suas florestas. Custo: R$40 milhões (R$ 4 milhões/unid. de conservação/município) aplicados em dez projetos em dez municípios.

6.1.9. O Centro Estratégico de Culturas e Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia: este Centro agrupará um conjunto de Núcleos Temáticos estratégicos à solução de problemas estruturantes amazônicos. Sob a coordenação da UFAM/UEA, ele deverá estar interligado aos núcleos de inovações municipais. Ele propõe implantar e aprofundar estudos, estratégias e programas técnicos e científicos para a solução de questões culturais e tecnológicas da Amazônia Pan-americana, em especial àquelas próprias do Amazonas. A sua organização fundamenta-se nos estudos centrados nas relações entre Estado e sociedade e etnociências; Amazônia: Região-nação-mundo; Amazônia: territórios e povos pan-amazônicos; Amazônia, economia e as representações simbólicas; Amazônia, arranjos produtivos e serviços ambientais; e finalmente, Amazônia, cultura, mudanças climáticas, justiça ambiental e políticas públicas. Custo: R$200 milhões, aplicados em três anos consecutivos.

6.1.10. Programa editorial para difusão e popularização da sustentabilidade na Amazônia: este programa editorial, “Salve a Amazônia Brasileira”, compõe-se de 4 projetos integrados entre si. Propõe-se que ele tenha forte participação da UFAM/UEA. O Projeto 1, “Quem salvará a Amazônia? Desenvolvimento Sustentável ou Destruição Total”, propõe implantar uma plataforma virtual para difundir e popularizar a Amazônia, desde a escala local à global. Seu principal foco será a educação ambiental e científica, centrada na sustentabilidade da Amazônia, dirigida às crianças e à juventude. O Projeto 2, “O Futuro da Amazônia no Brasil: Aprimorando o seu Desenvolvimento Sustentável”, publicará livros nas modalidades digitais e impressas, centrados no paradigma da sustentabilidade. O Projeto 3, “Amazônia, nosso tesouro”, divulgará conteúdos para os jovens e as crianças compreenderem melhor e amarem a Amazônia e os seus povos. Mostrará porque a Amazônia é o tesouro do Brasil e da Humanidade. O Projeto 4, “Amazônia, nosso amor”, dialogará com a Amazônia em perspectivas transdisciplinares. Custo: R$60 milhões, aplicados em quatro anos.

6.1.11. Centro de Bionegócios da Amazônia e os Núcleos de Inovação Municipais: este programa propõe criar as articulações institucionais entre o Centro de Bionegócios da Amazônia e os núcleos municipais de inovações científicas e tecnológicas incrementando a bioeconomia tecnificada e vocacionada do Estado do Amazonas. Custo: R$62 milhões (R$1milhão / núcleo municipal). Serão priorizadas as inovações associadas à bioeconomia, em três diferentes abordagens: coleta e preparo, tecnificação e incorporação de tecnologias high-tech.

Estes programas, entre outros, em forma contextualizada, podem ser implantados em todas as unidades federativas da Amazônia, assim como em outras regiões tropicais do planeta. A COP30 será um marco na história da Amazônia, um fórum de debates e proposituras que movimentarão e elevarão a cidade de Belém à condição de capital mundial da sustentabilidade durante 2025.

6.2. Belém, Francisco e a COP30: legado, redenção e esperança

A cidade de Belém do Pará surgiu com a construção do Forte do Presépio e de uma capela, em 1616, na foz do Rio Pará, por Francisco Caldeira Castelo Branco e seus subordinados. O objetivo era criar um sistema estratégico de expansão do império ibérico nas Américas. Inicialmente, era conhecida como ‘Feliz Lusitânia’, e após receber diversas denominações, passou a ser definitivamente chamada de Belém do Pará. Sua fundação foi oficializada no dia 12 de janeiro de 1616. A escolha de seu nome deve-se a dois fatores concorrentes: o dia do natal, data em que Francisco Caldeira Castelo Branco partiu, em 1615, da cidade de São Luís para o Pará, e por se posicionar como uma referência à cidade de Belém da Judeia, onde Jesus Cristo nasceu. Isso também se deve ao fato dela ter se estabelecido próximo ao local onde havia uma serra chamada Pedra do Cordeiro, que também se remetia à figura de Jesus. O nome “Belém” tem origem hebraica e significa “casa do pão”, casa da fartura eterna, morada do alimento, um lugar da fertilidade, do acolhimento e da esperança.

Em certa medida, a realização da COP30 em Belém também marca o encontro da doutrina cristã, por intermédio da ecologia integral do Papa Francisco, com o desafio de construir estratégias e mecanismos operacionais para combater a injustiça ambiental e a mudança climática local e global, a partir da Amazônia. Numa perspectiva que priorize a inclusão social e econômica dos excluídos e despossuídos de cidadania, vítimas do capitalismo predatório e da ausência de políticas públicas na Amazônia. Nesse sentido, se bem conduzida politicamente, a COP30 pode ser instrumentalizada para redimir o capitalismo predatório de seus crimes e práticas predatórias na região, propondo intervenções nobres e sustentáveis aos seus povos e às suas populações originárias.

Desde 2023, Belém se prepara para recebê-la. Em pouco mais de 2 anos, passa por um intenso plano de revitalização urbana e de melhoria de sua infraestrutura social e econômica para acolher com dignidade mais de 50 mil pessoas que participarão desse importante evento global que ocorrerá entre 10 e 21 de novembro.  Projeta-se que, até junho de 2025, já foram investidos mais de 1 bilhão de dólares em obras de saneamento, construção e manutenção de parques e espaços públicos, centros para acolhimento e hospedagem de turistas, e obras para melhorar a acessibilidade local, regional e internacional. Enfim, os poderes públicos municipal, estadual e federal, e a iniciativa privada, encontram-se mobilizados para preparar a cidade para sediar os grandes fóruns de debates que transformarão essa bela cidade na capital mundial da sustentabilidade. Por segurança e devido às limitações da rede hoteleira, a cúpula de chefes de Estado foi antecipada para os dias 6 e 7 de novembro.

Os equívocos técnicos cometidos durante essa grande e complexa preparação de sua estrutura urbana, certamente, serão corrigidos futuramente. Antecipadamente, pode-se afirmar que Belém ganhará muitos espaços e aparelhos públicos em benefício de sua população e também da Amazônia. Nesse sentido, a COP30 e o governo federal potencializaram diversos benefícios sociais e econômicos para o povo paraense, em especial para os habitantes de Belém. Certamente, os aparelhos e bens públicos incorporados na vida dos paraenses superarão os transtornos causados atualmente a vários setores sociais e econômicos da cidade, em especial aos segmentos da população mais fragilizados socialmente, devido à sua preparação para esse evento global. Mas os altos custos da rede hoteleira e a pequena oferta de vagas às delegações diplomáticas e demais participantes dessa conferência também comprometem o seu sucesso pleno. A ausência das principais lideranças de diversos países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos da América, fragiliza definitivamente o seu alcance político em âmbito global.

Mas, à semelhança da Cabanagem, o povo paraense, especialmente as representações de suas populações tradicionais, de seus povos originários e de suas instituições acadêmicas, vítimas da contínua e permanente negligência dos governantes, saberão como encaminhar as suas reivindicações sociais e econômicas em benefício de seus filhos e de suas comunidades. Com determinação e sabedoria, defenderão a Amazônia, a partir dela, numa perspectiva que a liberte do assédio, da opressão e das amarras da emergência climática e da injustiça ambiental propugnadas pelos mercenários da ciência e das ONGs vampirescas. Guiados por Nossa Senhora de Nazaré, estenderão o seu manto para proteger todos os participantes desse evento e para mostrar-lhes que a Amazônia nunca foi e nunca será uma commodity ambiental. Ao contrário, ela é uma entidade viva, espiritualizada e abençoada, aperfeiçoada pelos seus povos, que precisa ser compartilhada com os mesmos. Se possível, devem-se batizar os agentes públicos e privados, responsáveis pela organização, realização e desfecho da COP30, na Baia do Guamá, para os mesmos incorporarem as resiliências e as generosidades amazônicas construídas durante as lutas contra os seus processos de usurpação e opressão colonial e imperialista. Certamente, os amazônidas sentem-se representados, honrados e gratos ao povo paraense e aos seus intelectuais por sua defesa e promoção social e econômica nesse evento singular.

Mas, a sua potência política global e imperialista potencializa os seus desdobramentos políticos e econômicos em duas dimensões previsíveis. A curto prazo, poderá legitimar a ação das ONGs na região numa perspectiva que cristaliza e aprisiona os seus povos às determinações imperialistas dirigidas à sua preservação absoluta, em perspectivas opressoras e dissociadas das grandes conquistas científicas e tecnológicas contemporâneas. Em médio e longo prazos, deverá dificultar a possibilidade de se construir um modelo de desenvolvimento sustentável espiritualizado e compartilhado para os seus povos e para o Brasil. Tudo isso, numa conjuntura permeada por uma democracia amazônica mutilada, pela crescente decadência das instituições multilaterais e por um mundo subsumido pela prepotência política e pela ganância infinita de sua elite financeira, aqui e de alhures. Mas ainda há tempo!

6.3. Tributo à Amazônia e ao Papa Francisco

Finalizo, fazendo uma homenagem à Amazônia e ao Papa Francisco, por meio de um singelo poema autoral, e um breve comentário sobre a recente e imprudente implantação, em Brasília, da Universidade Federal Indígena.

6.3.1. Amazônia e Papa Francisco: sustentabilidade e religião

Amazônia,
Casa de Francisco,
Protetor da natureza, dos animais
E dos mais necessitados.

Amazônia de Francisco,
Francisco da Amazônia,
Compartilhem os seus espíritos
De bondade e humildade,

Com os humanos destruidores
Da natureza,
Arrogantes e prepotentes.
Mostrem para eles os caminhos

Da dignidade e dos direitos
De todos, pessoas e animais,
À vida plena, à sacralidade
E à transcendência.

Mostrem-lhes que a sustentabilidade
Absoluta do espírito
Contrapõe-se ao extermínio da vida física,
Num mundo onde as criaturas vivas

São irmãs e filhas de Deus.
Papa Francisco,
O espírito da sustentabilidade
Apresenta-se como grande defensor

Dos seres vivos.
Ele encontra-se em harmonia
Com os ciclos da natureza
E os dogmas cristãs,

Confronta-se com os destruidores
Da Amazônia e de sua sacralidade existencial.
Protege nossas crianças e culturas.
Papa Francisco,

A Amazônia é de todos nós,
Insista em sua defesa
E perenidade física e divina.
Na proteção de seus povos,

Naturezas e culturas.
Estenda o seu manto sagrado sobre ela,
Pois ela está perecendo,
Em nome do lucro exacerbado

E da ambição desvairada,
Que constroem pobreza,
Sofrimento e dores,
E um futuro sem futuro.

Francisco da Amazônia,
Abençoe os seus povos,
Vítimas do preconceito,
Da intolerância racial,
E da tirania política.

Manaus, 5 de setembro de 2025
Marcílio de Freitas

6.3.2. Tristes trópicos: idiossincrasias predatórias

Em 28 de agosto de 2025, a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação coordenou uma reunião do grupo de trabalho que construirá a proposta de criação e implantação da Universidade Federal Indígena. Naquela ocasião, Brasília foi referendada como futura sede dessa instituição, foco de discussão de gerações de lideranças indígenas e segmentos acadêmicos e da sociedade brasileira comprometidos com uma Amazônia altiva, inclusiva e protegida da burocracia predatória e niilista. Esse mesmo grupo de trabalho aprovou diversas questões decorrentes de sua criação, entre as quais a criação dos futuros campi, um cronograma de trabalho, entre outros encaminhamentos…

“Segundo o Secretário de Educação Superior, Marcus Vinicius David, que preside o GT, a criação da Unind é uma demanda histórica e fruto do trabalho coletivo e colaborativo entre diferentes povos e saberes, respeitando as especificidades culturais e linguísticas, consolidando espaços de resistência e transformação. É um projeto de educação superior que reafirma a diversidade como princípio e a autonomia dos povos, a partir de um modelo centrado na diversidade, na autonomia e na autodeterminação”. (Assessoria de Comunicação Social do MEC, com informações da Sesu).

A pergunta central é a seguinte: por que a Universidade Indígena (deveria ser Universidade Intercultural) não estará sediada na Amazônia? Afinal de contas, a Amazônia é morada de mais de 50% dos indígenas brasileiros; são mais de 385 povos originários na Amazônia Pan-americana, incluindo os mais de 163 da Amazônia Brasileira. Abriga também mais de 500 bilhões de árvores, mais de 200 mil grandes rios, mais de 300 bilhões de hectares de florestas em territórios indígenas e em reservas florestais federais e estaduais amazônicas. A riqueza cultural e biodiversa da Amazônia encontra-se aqui e não alhures.

Trata-se de mais um sintoma doentio da democracia brasileira, um golpe político rasteiro e mesquinho contra os povos amazônicos e os cidadãos brasileiros. Acorrentar a Universidade Indígena à burocracia e às artimanhas políticas do Ministério de Educação e de segmentos acadêmicos disciplinares exclusivistas sediados nas Universidades de Grife é matá-la antecipadamente. Infelizmente, mais uma vez, o governo federal comporta-se como uma arma e um dos principais inimigos da Amazônia. Semelhantemente ao período colonial, conta com as colaborações de representantes acadêmicos e indígenas, que se apresentam como porta-vozes e lideranças de programas que contribuem para a artificialização, a privatização e a usurpação da Amazônia. A criação da Universidade Indígena não se trata de uma questão econômica nem tão pouco jurídica, apresenta-se como uma dívida política centenária do estado nacional com os povos originários. Enfim, sua instalação em Brasília configura-se como uma tragédia amazônica em curso. Uma usurpação e um arranjo de interesses mesquinhos contra a Amazônia.

Mas ainda há tempo! O lugar legítimo da primeira Universidade Indígena Brasileira é na Amazônia, agora e sempre. Os fundamentos, as diretrizes e os mecanismos operacionais do desenvolvimento da Amazônia devem ser irradiados, sempre, a partir dela. Caso contrário, trata-se de mais uma hipocrisia e engodo contra ela. Infelizmente, muitos verdugos da Amazônia encontram-se muito próximo dela e também entre os seus parentes. Essa iniciativa mostra, mais uma vez, que há muitos cúmplices do opressor entre os próprios oprimidos e colabora para silenciar os povos originários. O Ministério da Educação do Brasil precisa fortalecer as regiões, especialmente a sustentabilidade da Amazônia, em prol de seus povos e de um ideário progressista para o Brasil. Essa questão pode também ser posta de outra maneira, tal como: quando o Ministério de Educação do Brasil vai implantar a Universidade Indígena da (na) Amazônia?

Fechada as portas do diálogo institucional com o Ministério da Educação, urge o debate em âmbito nacional, e a judicialização dessa questão de interesse amazônico, segundo as suas perspectivas republicanas. Acorda, Amazônia!

Referências

1. Assessoria de Comunicação Social do MEC, com informações da Sesu (28.8.2025) Educação Superior Brasília será a sede da futura Universidade Federal Indígena. Link: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/agosto/brasilia-sera-a-sede-da-futura-universidade-federal-indigena. Acesso em 30.8.2025.

2. Amazônia: Vida, Utopias e Esperanças, Marcílio de Freitas, Ed. Dialética, SP, Setembro de 2025. Manuscrito vencedor dos Prêmios Literários Cidade de Manaus 2024, categoria ambiental: Djalma Batista. (Em processo de lançamento)

Sinopse: A partir da Amazônia, o autor propõe novas utopias para elevar e emoldurar os compromissos da humanidade com a construção da paz, o combate à mudança climática e à injustiça ambiental. Este é o livro de esperanças e amor às pessoas.

3. Amazônia, em versos, Marcílio de Freitas, Ed. Dialética, SP, Agosto de 2025.

Sinopse: Amazônia, em versos, é um fecundo encontro da ciência com fragmentos da literatura na vivificação da Amazônia. Por meio de 69 poemas, apresenta-se como um tributo à Amazônia.

Link:

https://loja.editoradialetica.com/loja/produto.php?loja=791959&IdProd=1244258917&iniSession=1&hash=152619726

4. Amazônia: Redenção ou Destruição, Marcílio de Freitas, Ed. Dialética, SP, Julho de 2025.

Sinopse: O autor demonstra que os governantes brasileiros consideram a Amazônia como sendo um entrave político às suas governanças, não sabem o que fazer com ela. Com 6 estudantes universitários propõem uma política de educação, ciência e tecnologia para o seu desenvolvimento sustentável.

Link:https://loja.editoradialetica.com/loja/produto.php?loja=791959&IdProd=1244258753&iniSession=1&hash=690099682

5. Era uma vez, a Amazônia, Marcílio de Freitas, Ed. Dialética, SP, Maio de 2025.

Sinopse: Esta obra é uma homenagem sensível à Amazônia; apresenta suas formas, conteúdos, potências motoras, resiliências e fontes de transcendências, imanências e encantamentos. Reafirma sua importância civilizatória e alerta que o futuro de nossas crianças é muito dependente dela.

Link:https://loja.editoradialetica.com/loja/produto.php?loja=791959&IdProd=1244258055&iniSession=1&hash=832932290

6. Socioantropologia das Técnicas e Ambientes: Dos fundadores às novas orientações, Olivier Meunier e Marcílio de Freitas, Ed. Dialética, SP, Maio de 2025.

Sinopse: Este livro apresenta a importância dos objetos e das técnicas em nossas vidas, numa perspectiva francesa. Explica como a sustentabilidade se insere neste universo heurístico, criando novas formas de apropriação e ressignificação das técnicas e de seus alcances sociais e econômicos. Propõe novos caminhos e alternativas para a humanidade.

Link:https://loja.editoradialetica.com/loja/produto.php?loja=791959&IdProd=1244258045&iniSession=1&hash=796403450

7. Who Will Save Amazonia? World heritage or full destruction, Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa da Silva Freitas, Nova Science Publishers, NY, July 14, 2021.

Sinopse: A Amazônia está morrendo. Quem vai salvá-la? Quando? Como? Sua transformação em Patrimônio Mundial é urgente. Suas culturas estão sendo destruídas. Elas são elementos importantes para a história antropológica e arqueológica da humanidade. Seu futuro depende de todos nós.

Link: https://novapublishers.com/shop/who-will-save-amazonia-world-heritage-or-full-destruction/

8. The Future of Amazonia in Brazil: A worldwide tragedy, Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa da Silva Freitas, Peter Lang Publishing, NY, April 2020.

Sinopse: Por que a Amazônia é a última utopia ecocultural da humanidade? Por que o capitalismo não tem alcance teórico e empírico para transformá-la em uma commodity sustentável? Como protegê-la da estupidez humana e da ganância do mercado? Estas questões são analisadas neste livro.

Link: https://www.peterlang.com/view/title/72693

9. Belém: o lado obscuro da COP30. O Joio e o Trigo, Brenda Taketa, Abril de 2025.

Link: https://ojoioeotrigo.com.br/2025/04/na-preparacao-para-a-cop-30-belem-sofre-com-especulacao-imobiliaria-mudancas-no-plano-diretor-e-condicoes-insalubres-de-trabalho/. Acessado em abril de 2025.

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