A Amazônia entrega ao Brasil e ao mundo, de forma gratuita, um tesouro climático incomparável: regulação de chuvas que irrigam as lavouras do Centro-Sul, estoques de carbono que sustentam compromissos internacionais e uma biodiversidade que é banco genético para a saúde e a indústria do futuro.
Só o Polo Industrial de Manaus, ao operar dentro do modelo da Zona Franca, já evitou a emissão de mais de 30 bilhões de toneladas de CO₂ em quase seis décadas, ao garantir que a floresta se mantenha em pé. É o exemplo mais concreto de uma economia produtiva que preserva. E, no entanto, quando se trata de infraestrutura, o Brasil insiste em virar as costas.
O paradoxo da presença federal
É preciso ser justo: a atual gestão federal não faltou em momentos críticos. Respaldou a Zona Franca de Manaus na reforma tributária, resistindo a ataques que poderiam desfigurar o modelo. Esteve presente diante da seca histórica e de outras emergências. Mas a herança de décadas de abandono é pesada demais: a cada retomada da atividade econômica, os gargalos se multiplicam e os custos logísticos se tornam insuportáveis.
O contraste: contribuição ambiental vs. abandono estrutural
- Geração de empregos e renda: O PIM sustenta mais de 500 mil empregos diretos e indiretos e responde por 30% do PIB da Região Norte, mas convive com falta de rodovias transitáveis e portos que desabam em plena atividade.
- Contribuição fiscal: Só em 2024, a indústria incentivada devolveu mais de R$ 30 bilhões em tributos à União. Mesmo assim, a região não vê um centavo proporcionalmente reinvestido em sua malha logística.
- Contribuição ambiental: Cada refrigerador, motocicleta,ou televisão produzidos em Manaus carrega consigo a preservação de 97% da cobertura florestal do Amazonas, contra 12% no restante do país.
A advertência de Braga
No encontro com o senador Eduardo Braga, na semana passada, os empresários do CIEAM ouviram o diagnóstico duro e incontornável: o Brasil ainda não entendeu a Amazônia produtiva. “Recebe da floresta, sem contrapartida, serviços ambientais que sustentam sua agricultura, sua matriz energética e sua credibilidade internacional, mas mantém a região refém de balsas inseguras, estradas esburacadas e ausência de planejamento logístico”.
Energia e transporte à beira do colapso
O crescimento experimentado pelo Polo Industrial traz à tona o limite da negligência:
No caso da infraestrutura de energia, se a expansão da produção continuar, vai faltar energia elétrica em três anos. O sistema já opera no limite, sem investimentos robustos em geração e transmissão.
E o transporte fluvial? As balsas se multiplicam, mas sem balizamento adequado, sem canais de navegação seguros e diante de vazantes extremas cada vez mais frequentes, o risco de acidentes só aumenta. O Amazonas já lidera o ranking de desastres no transporte de cargas e pessoas.
O país que demora a entender
Enquanto isso, a cada seca extrema, a cada cheia histórica, a cada colapso portuário, confirma-se a mesma sentença: o país demora a entender a Amazônia produtiva e suas demandas mínimas de infraestrutura. Esse atraso cobra um preço alto — em vidas, em eficiência e em oportunidades desperdiçadas.
A Amazônia não pede esmolas, oferece soluções. Mas exige reciprocidade. Manter a floresta em pé e sustentar a economia legal é compromisso já cumprido pela indústria. Falta ao Brasil cumprir sua parte: investir em logística, energia e integração. Até lá, o país seguirá, vergonhosamente, de costas para a Amazônia.
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