Manaus, 31 de dezembro de 2025

IA generativa e a indústria eletroeletrônica de Manaus: o momento de agir é agora

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*Osvaldo Silva

Existe algo de paradoxal em observar o Polo Industrial de Manaus. De um lado, temos uma das maiores concentrações de fabricação de eletrônicos da América Latina. Do outro, uma corrida global pela inteligência artificial generativa que ameaça redesenhar completamente as regras do jogo industrial. A pergunta que me faço é direta: estamos preparados para essa transformação, ou continuaremos assistindo de longe enquanto outros países avançam?

O setor de equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos já lidera a adoção de inteligência artificial no Brasil, com 72,3% das empresas utilizando a tecnologia, segundo levantamento da Agência Brasil divulgado em setembro de 2025. Esse número revela algo importante: a indústria eletroeletrônica entendeu, antes de outros segmentos, que a IA não é mais opcional. E Manaus, com sua vocação natural para esse setor, tem uma janela de oportunidade que não permanecerá aberta indefinidamente.

Mais do que automação: uma nova forma de pensar

Quando falo em IA generativa para a indústria, não estou me referindo apenas a robôs que substituem braços humanos. Essa visão, francamente, já está ultrapassada. O verdadeiro potencial está na capacidade de criar, simular e otimizar. Uma IA generativa pode projetar circuitos mais eficientes, antecipar falhas em equipamentos antes que aconteçam, ou até mesmo redesenhar processos logísticos inteiros a partir da análise de padrões que nenhum engenheiro conseguiria identificar manualmente.

O que me chama atenção é a velocidade dessa transformação. A Associação Brasileira das Empresas de Software aponta que 96% das empresas de médio e grande porte no país já utilizam ou pretendem utilizar IA até o final de 2025. Mais da metade já adota especificamente a IA generativa. Não estamos falando de um futuro distante – estamos falando do presente, acontecendo agora, enquanto debatemos se devemos ou não embarcar nessa jornada.

Para o contexto específico de Manaus, as aplicações são particularmente promissoras. Pense em uma linha de montagem de televisores que utiliza visão computacional alimentada por IA para detectar defeitos microscópicos em telas. Ou em sistemas que ajustam automaticamente a produção de ar-condicionados conforme variações na demanda do mercado, reduzindo estoques e desperdício. Essas não são fantasias tecnológicas – são realidades já implementadas em fábricas ao redor do mundo.

Os obstáculos são reais, mas não intransponíveis

Seria desonesto pintar um cenário apenas otimista. A implementação de IA generativa na indústria enfrenta barreiras concretas: custos elevados de soluções tecnológicas, escassez de profissionais qualificados e, no caso de Manaus, desafios específicos de infraestrutura e conectividade próprios da região amazônica. Ignorar essas dificuldades seria tão ingênuo quanto ignorar as oportunidades.

Mas também reconheço que obstáculos existem para serem superados. O governo federal anunciou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, prevendo R$ 23 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos. A pergunta que precisa ser feita é: quanto desse recurso será direcionado para fortalecer a vocação tecnológica de Manaus? E, mais importante, como o setor produtivo local pode se posicionar para capturar esses investimentos?

O trabalhador no centro da equação

Um aspecto frequentemente negligenciado nessa discussão é o impacto sobre os trabalhadores. A IA generativa não deveria ser vista como ameaça ao emprego, mas como ferramenta de valorização do trabalho humano. Quando máquinas assumem tarefas repetitivas e de baixo valor agregado, sobra espaço para que pessoas se dediquem a atividades mais criativas, estratégicas e gratificantes.

Evidentemente, isso exige investimento massivo em capacitação. Não faz sentido implementar tecnologias avançadas sem preparar a força de trabalho para operar, manter e evoluir esses sistemas. Acredito que esse é um dos maiores desafios – e também uma das maiores oportunidades – para Manaus: formar uma geração de profissionais que dominem a interface entre a indústria tradicional e as novas tecnologias.

Uma reflexão sobre escolhas

No fundo, a questão da IA generativa na indústria eletroeletrônica de Manaus é uma questão de escolhas. Podemos escolher esperar, observar como outros mercados se adaptam, e então reagir – provavelmente tarde demais. Ou podemos escolher agir agora, assumir riscos calculados, investir em inovação e posicionar Manaus não apenas como um polo de montagem, mas como um verdadeiro centro de inteligência industrial.

Pessoalmente, prefiro a segunda opção. A história econômica é implacável com aqueles que hesitam diante de transformações tecnológicas. E a IA generativa não é apenas mais uma tecnologia – é uma mudança de paradigma que redefinirá quem lidera e quem segue no cenário industrial global. Manaus tem vocação, estrutura e potencial. O que precisa agora é de visão e coragem para dar o próximo passo.

Referências:

AGÊNCIA BRASIL. Número de empresas industriais que usam IA cresce 163% em dois anos. Setembro de 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-09/numero-de-empresas-industriais-que-usam-ia-cresce-163-em-dois-anos-0

ABES. A revolução da IA nas empresas brasileiras. Dezembro de 2025. Disponível em: https://abes.org.br/a-revolucao-da-ia-nas-empresas-brasileiras/

*Osvaldo Relder Araújo da Silva atua como Designer UI/UX e Analista de Sistemas há mais de 15 anos. Sua expertise abrange Design, Comunicação e Multimídia, bem como o Desenvolvimento de Software de Alto Desempenho.

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