*Osvaldo Silva
Uma reflexão sobre o futuro da competitividade industrial na Zona Franca de Manaus.
Há alguns anos, quando ouvia falar em inteligência artificial aplicada à indústria, minha primeira reação era imaginar cenários distantes, quase cinematográficos. Hoje, percebo que essa realidade já bate à porta das fábricas amazonenses, e a manutenção preditiva surge como uma das aplicações mais promissoras dessa tecnologia. A pergunta que me faço é: estamos preparados para aproveitar essa oportunidade?
A manutenção preditiva é, em sua essência, a capacidade de antecipar problemas antes que eles aconteçam. Imagine uma linha de produção onde sensores monitoram constantemente a temperatura, a vibração e outros parâmetros das máquinas. Quando algo começa a sair do padrão esperado, o sistema alerta os responsáveis antes que ocorra uma parada não planejada. Parece simples, mas o impacto disso é transformador. Estamos falando de reduzir custos, evitar desperdícios e, principalmente, manter a competitividade em um mercado cada vez mais exigente.
No contexto amazônico, essa discussão ganha contornos ainda mais relevantes. O Polo Industrial de Manaus representa um dos motores econômicos mais importantes do Norte do país. São milhares de empregos diretos e indiretos, famílias que dependem do bom funcionamento dessas fábricas. Quando uma máquina para inesperadamente, o prejuízo vai muito além do equipamento danificado. Há prazos comprometidos, clientes insatisfeitos e uma cadeia produtiva inteira que sente o impacto. A inteligência artificial, nesse sentido, não é um luxo tecnológico, mas uma ferramenta de sobrevivência empresarial.
É animador observar que o governo federal tem demonstrado atenção a esse tema. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, lançado em 2024, prevê investimentos da ordem de R$ 23 bilhões até 2028 para consolidar o país como um ator relevante no cenário global de IA. Esse compromisso institucional é fundamental, pois sinaliza que a transformação digital da indústria brasileira não será deixada ao acaso. No entanto, políticas públicas, por mais bem-intencionadas que sejam, só funcionam quando encontram terreno fértil nas empresas e nos profissionais que nelas trabalham.
E aqui reside minha principal preocupação. A tecnologia está disponível, os investimentos estão sendo anunciados, mas será que as indústrias amazonenses estão efetivamente se preparando para essa transição? Minha experiência profissional me mostra que ainda existe uma lacuna significativa entre o discurso sobre inovação e a prática cotidiana nas fábricas. Muitas empresas ainda operam com modelos de manutenção corretiva, ou seja, só consertam quando quebra. Outras avançaram para a manutenção preventiva, seguindo cronogramas fixos de revisão. Mas a manutenção preditiva, que usa dados em tempo real para tomar decisões inteligentes, ainda parece distante para boa parte do parque industrial local.
Não se trata apenas de adquirir equipamentos sofisticados ou instalar sensores nas máquinas. A verdadeira transformação passa pela mudança de mentalidade. É preciso que gestores, engenheiros e técnicos compreendam que os dados gerados no chão de fábrica são um ativo valioso. São esses dados, quando analisados por algoritmos de inteligência artificial, que permitem prever falhas, otimizar processos e prolongar a vida útil dos equipamentos. Sem essa compreensão, qualquer investimento em tecnologia será apenas parcialmente aproveitado.
Outro ponto que merece reflexão é a questão da mão de obra qualificada. A inteligência artificial não substitui o trabalhador, mas exige dele novas competências. O técnico de manutenção do futuro precisará saber interpretar relatórios gerados por sistemas inteligentes, entender conceitos básicos de análise de dados e trabalhar em parceria com máquinas que aprendem continuamente. Isso demanda investimento em capacitação, parcerias com instituições de ensino e uma visão de longo prazo por parte das empresas.
Olhando para o cenário internacional, percebo que países como Alemanha, Japão e Estados Unidos já incorporaram a manutenção preditiva como prática padrão em seus parques industriais. A competição global não espera, e as indústrias amazonenses precisam acelerar o passo para não ficarem para trás. A boa notícia é que a tecnologia está cada vez mais acessível. Soluções que antes eram exclusividade de grandes corporações hoje podem ser implementadas por empresas de médio porte, sem necessidade de reformular completamente a infraestrutura existente.
Em minha visão, a inteligência artificial aplicada à manutenção preditiva representa muito mais do que uma inovação tecnológica. É uma oportunidade para as indústrias amazonenses se reinventarem, aumentarem sua produtividade e garantirem sua relevância nas cadeias produtivas globais. Mas essa oportunidade exige ação. Exige que empresários, trabalhadores e poder público trabalhem juntos, com senso de urgência e visão estratégica. O futuro da indústria amazônica pode ser brilhante, desde que estejamos dispostos a construí-lo hoje.
Referências
AGÊNCIA BRASIL. Modelo mais econômico de IA pode gerar oportunidades para o Brasil. Brasília, 4 de fevereiro de 2025. Disponível em:
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2024/07/plano-brasileiro-de-ia-tera-supercomputador-e-investimento-de-r-23-bilhoes-em-quatro-anos
*Osvaldo Relder Araújo da Silva atua como Designer UI/UX e Analista de Sistemas há mais de 15 anos. Sua expertise abrange Design, Comunicação e Multimídia, bem como o Desenvolvimento de Software de Alto Desempenho.
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