Um bom ladrão de galinhas foi ao muro do vizinho,
Por lá passava a polícia e pôs a mão no espertinho.
Nem roupa ele possuía, vivia só de calção,
Sem camisa que vestisse, sem um pedaço de pão.
Desconhecendo o destino, sem compaixão e sem dó,
Meteram-lhe com algemas de molho no xilindró.
Até que um doutor bondoso dos de porta de xadrez
Conseguiu um habeas corpus e o redimiu da prisão
Isso depois de um tempão.
O outro vivia no palácio lá no Planalto Central
De paletó e gravata, roupas de linho ou tergal.
Havia uma diferença entre os dois na confusão,
Um roubava só galinha, outro roubava a nação,
Tinha dinheiro sobrando pra se livrar da prisão,
Cheio de arroubos enfáticos de quem jamais ouviu não.
Outra querela galáctica que os distinguia melhor
É que o ladrão de galinhas não tinha com que pagar
Quem pudesse o libertar
Pagar um bom defensor jurisconsulto de liça
Respeitado professor e ex-ministro da justiça.
Nem sabia de recursos, nem dos menos indecentes,
Expedientes arcaicos dos embargos infringentes.
Se não fosse o defensor que na porta do xadrez
Soltou-o sem honorários do salário só de um mês.
Senão teria roubado o plantel do galinheiro
A deixar o bom vizinho sem nada para comer
E nada para beber.
Quem roubou mais, se pergunta, nesse imbróglio infeliz,
O bom ladrão de galinhas ou o ladrão do país?
São iguais todos no rol transformado tudo em ouro,
São todos ladrões de fato, o de galinhas, o do tesouro?
O que se pede é que o roubo seja apenado de igual
Tanto o ladrão de galinhas, como o ladrão federal.
E não fique o de galinhas infeliz no xilindró
Enquanto que o do Planalto fique gozando da gente
Gargalhando em nossa frente.
Ter-se-á democracia quando vingar a igualdade,
Direitos bem definidos como o voto universal
Fato igual, justiça igual!
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