*Em memória do amigo João Bosco Evangelista
Poema recolhido da obra “Pedra Pintada (uma viagem à cidade da minha primeira infância)”, ainda inédita.
Nas cacimbas do Jauary as lavadeiras lavavam
as roupas ilustres da cidade no tempo da seca,
nas cheias a lagoa subia e afogava as cacimbas
e as lavadeiras se mudavam para a beira do rio.
Um aningal cobria grande parte da lagoa
onde não me permitiam nunca pular n’água,
diziam que ali os jacarés faziam as suas casas
e quando famintos gostavam de atacar.
O Jauary multiplicou-se em Jauarys,
novos bairros da cidade cresceram para lá,
os jacarés assustados fugiram dos seus feudos
e as águas apodreceram sem poder respirar.
Mas a lagoa não secou,
ainda há tempo do Jauary se salvar.