“Um deles, ao que parece, acabou pagando o pato e respondendo a longo e interminável processo responsabilizado pelo ataque homicida.”
Não sou muito fã de temas dessa natureza, mas o fato em si, que se tornou histórico, depois de tantos anos passados e de ter havido silêncio nos estudos de história de Manaus, merece ser ressuscitado pela enorme repercussão que ganhou nos fins do Império e tempos logo depois.
Desde o acontecido da morte do capitão, as circunstâncias em que se deu ficaram envoltas em mistérios.
É coisa lá de 1886 quando o capitão foi encontrado coberto de sangue sentado em cadeira de embalo na sala de seu enorme casarão. Por lá, cumprindo a função de primeiros socorros, um médico, outra figura importante da sociedade da época, e, de repente, grande número de pessoas que conseguiu acorrer para ver de perto o trágico acontecimento.
Ferido, o capitão foi atendido ainda com vida pelo Dr. Aprígio Martins de Menezes que se tornou importante testemunha em todo o processo o qual, apesar de jamais haver incriminado aquele que foi tornado réu, não conseguiu inocentá-lo.
Ficou a afirmar que não tinha tido tempo de observar a cena do crime, pois cuidava do paciente.
No transporte da vítima de. uma para outra sala da enorme casa de residência, com sangue se espalhando pelo assoalho, o dito cujo acabou falecendo e, desde logo, surgiram inúmeras hipóteses incriminando os concorrentes negociais do capitão.
Um deles, ao que parece, acabou pagando o pato e respondendo a longo e interminável processo responsabilizado pelo ataque homicida.
Como se fazia necessário foi instaurado inquérito policial sob a presidência do Dr. João Hossanah de Oliveira:
O investigado contratou o advogado Joaquim Victorido de Souza Cabral e, mais adiante, o Dr. Domingos Olímpio Braga Cavalcante, jovem causídico que aportou a Manaus com fama de bem formado.
O crime teria acontecido a 16 de maio de 1886, com grande repercussão na cidade e arredores, precisamente pela figura do morto, que era homem bastante conhecido, político, comerciante e tido como agiota, em relação ao qual, com seus ‘mais de 70 anos, seria possível listar vários adversários, inimigos e opositores na política e, principalmente, nos negócios.
Além das honras de capitão da Guarda Nacional, era antigo juiz municipal, curador de herança do fórum de Manaus, juiz de paz da mesa paroquial, juiz de órfãos, juiz do comércio, vereador e presidente da Câmara da capital e secretário do Grêmio Conservador.
O réu era antigo empresário, homem de posses, bem-sucedido em negócios com o governo e com particulares, proprietário de imóveis na capital amazonense, contratante, das obras de canalização para o abastecimento de água da cidade. Pronunciado pelo juiz municipal Dr. Cunha Meio, teve o processo arrastado, lentamente, com cancelamentos de júri e ao que consta, cinco julgamentos, desde 1886.
Recolhido ao presídio e marcado o julgamento em abril de 1888; o réu saiu a pé da cadeia pública dirigindo-se ao Tribunal do Júri, e por estar bastante fraco, cambaleante pela rua, a partir da Praça da Imperatriz passou a ser acompanhado por patrulha policial.
Razões administrativas impediram a realização da sessão e ele retornou ao presídio demonstrando fraqueza, com passos pesados e lentos.
Parecia haver interesse em mantê-lo sob a ameaça de condenação, mas sem julgamento, justo ou injusto.
Depois, com cinco julgamentos nos costados e absolvido em todos eles, sofreu seguidos recursos contra os julgamentos. Um dia, após muito sofrimento e empobrecimento ele foi absolvido de vez pelo ano de 1891, sendo libertado em 7 de julho.
Quando será que alguém vai desvendar a morte do capitão Custódio Pires Garcia, a vida do acusado Maurillo Torres e qual o papel de Alexandre Haag nesse imbróglio criminoso.
Views: 42