Manaus, 4 de dezembro de 2024

A revolução da agricultura familiar

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O agrônomo José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) publicou em janeiro de 2014, no jornal O Estado de S. Paulo, esclarecedor artigo em que alerta estar a humanidade “em uma encruzilhada”. Pela razão segundo a qual  “aproximadamente 842 milhões de pessoas sofrem de fome crônica porque não conseguem comer adequadamente, apesar de não haver escassez de alimentos no mundo”. De fato, ele escreveu, a busca atual é por sistemas agrícolas verdadeiramente sustentáveis, que possam satisfazer as necessidades de alimentos no planeta. E nada se aproxima mais do atual paradigma do que a produção sustentável de alimentos que a Agricultura familiar. Como as Nações Unidas estabeleceram 2014 como Ano Internacional da Agricultura familiar, abre-se “uma oportunidade perfeita para destacar o papel dos agricultores familiares na erradicação da fome e na conservação dos recursos naturais, elementos centrais do futuro sustentável que queremos”. Silva esclarece ainda um dado fundamental: o de que a Agricultura familiar não faz oposição à Agricultura especializada de grande escala, que também tem um papel importante para garantir a produção mundial de alimentos e enfrenta seus próprios desafios, incluindo a adoção de enfoques sustentáveis.

Na verdade, o mundo tem “muito que aprender sobre as práticas sustentáveis dos agricultores familiares, já que a maior parte da experiência mundial em sistemas de Agricultura sustentável foi adquirida pela Agricultura familiar”. A verdade é uma só: de geração em geração, os agricultores familiares transmitem conhecimentos e habilidades, preservando e melhorando muitas das práticas e tecnologias que podem apoiar a sustentabilidade Agrícola. Com o uso de técnicas inovadoras, como a construção de terraças e a adoção de práticas de Lavoura zero, os agricultores familiares conseguiram manter a produção em terras muitas vezes marginais, sustenta Graziano.

Da mesma forma que o homem da floresta é o maior responsável pela preservação dos confins da Amazônia, “a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais têm suas raízes na lógica produtiva da Agricultura familiar e essa é a diferença da Agricultura especializada de grande escala”. A Agricultura familiar, portanto, ao promover  “sustentabilidade ambiental e proteção da biodiversidade, contribui para uma dieta mais saudável e mais equilibrada”.

Estima-se, segundo Graziano, que existam 500 milhões de tipos de Agricultura familiar no mundo, que representam, em média, mais de 80% das explorações agrícolas. Tanto nos países desenvolvidos, como nos em desenvolvimento, são os principais produtores de alimentos de consumo local e os “administradores” principais da segurança alimentar. O que os agricultores familiares precisam, acrescenta o diretor-geral da FAO, é, como em todo o mundo,  “assistência técnica e políticas baseadas em seus conhecimentos que reforcem o aumento da sustentabilidade da produtividade; tecnologías apropriadas; insumos de qualidade que respondam a suas necessidades e respeitem sua cultura e tradições; especial atenção às mulheres e aos jovens agricultores; fortalecimento das organizações e cooperativas de produtores; melhor acesso à terra, à água, ao crédito e aos mercados, e esforços para melhorar a participação na cadeia de valores”.

O governo do Amazonas, a Suframa e as classes produtoras precisam unir-se, e, espelhando-se na realidade descrita pelo diretor-geral da FAO, perseguir objetivos e metas que se impõem. Não só em termos de cadeias produtivas, mas também, da fundamental adequação de recursos bancários (concessão de créditos e medição de retornos), além do provimento da necessária e indispensável assistência técnica ajustada às reais necessidades do produtor. Não se produz tomate, feijão, milho, carnes, peixes, juta ou frutas fora desses parâmetros.

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