Manaus, 29 de junho de 2025

A Zona Franca de Manaus precisa ser compreendida – e não rotulada

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*Nelson Azevedo

“A Zona Franca de Manaus é um projeto nacional que resiste, há décadas, ao abandono da infraestrutura, à instabilidade tributária e às visões simplistas sobre o desenvolvimento regional. Quem quiser conhecer de perto nossa realidade, será bem-vindo. Venha ver com os próprios olhos. Venha ouvir as vozes que constroem – com dignidade, ciência e esperança – uma economia que respeita o Brasil profundo e suas florestas vivas.”

Duas reportagens publicadas no último domingo (22), na Folha de S.Paulo, trataram da Zona Franca de Manaus (ZFM) com uma lente que, embora legítima, revela certa distância dos contextos e complexidades da Amazônia produtiva. Uma abordou a evasão de talentos. A outra, os preços ao consumidor manauara. Ambas provocam reflexões necessárias, mas também exigem, por parte do setor produtivo, uma resposta propositiva, serena e fundamentada em fatos.

A Zona Franca forma talentos – e o Brasil precisa retê-los

A chamada “fuga de cérebros” não é exclusividade de Manaus. É um fenômeno nacional. Vivemos em um país em que 59% dos brasileiros preferem empreender por conta própria a buscar um emprego com carteira assinada (Datafolha). A desvalorização do trabalho técnico e especializado é estrutural. A trajetória de Diego Souza, citada na matéria, deveria ser celebrada: formado no chão de fábrica da ZFM, hoje atua nos EUA. Isso é mérito da política pública que deu a ele oportunidades reais de formação e ascensão. A ZFM não perde talentos – ela os revela ao mundo.

Zona Franca de Manaus ZFM Seo Lobo

Indústria com propósito: dignidade, cuidado e inclusão

As empresas do Polo Industrial de Manaus oferecem transporte fretado porta a porta, creches, planos de saúde, alimentação e segurança a seus colaboradores. Investem, com constância, em ergonomia, climatização e capacitação. São mais de mil rotas de ônibus diárias, pontuais e confortáveis. Isso não é um privilégio: é o reconhecimento de que o trabalho humano exige condições dignas para florescer. O debate sobre salários precisa incluir o custo de vida, os incentivos locais e os investimentos sociais das empresas. Fora disso, caímos na tentação da desonestidade intelectual.

O desafio dos preços: um problema sistêmico, não regional

É injusto culpar a Zona Franca pelos preços ao consumidor em Manaus. O nó está na estrutura tributária brasileira, que impõe travessias burocráticas absurdas e penaliza a produção nacional. Há casos em que produtos fabricados na capital amazonense são enviados para fora da região e retornam com custos extras – fruto de um sistema disfuncional que precisa de reforma. Soma-se a isso a fragilidade logística e a baixa concorrência no varejo regional. Ainda assim, os produtos da Zona Franca de Manaus têm, em média, 30% de vantagem sobre os similares importados. Falta ao país conectar melhor os elos dessa cadeia.

Parlamentares da Assembleia Legislativa do Amazonas exaltam Manaus pelos 355 anos Foto Alberto Cesar Araujo Aleam 1

Foto: Alberto César Araújo / Aleam

A Zona Franca entrega – e quer contribuir mais

A ZFM:

  • Gera mais de 130 mil empregos diretos e cerca de 500 mil indiretos;
  • Responde por 30% do PIB da Região Norte;
  • Contribui com bilhões em tributos federais, que financiam políticas nacionais;
  • Mantém a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), maior universidade multicampi do país;
  • Opera em regime de sustentabilidade, preservando mais de 95% da floresta no Amazonas.

Trata-se de uma política pública bem-sucedida. E mais que isso: um compromisso com a equidade regional, com a economia legal e com o futuro da floresta em pé. É tempo de superar os preconceitos e enxergar a Amazônia produtiva como parceira do Brasil que queremos construir.

Hora de virar a página da polarização estéril

A Zona Franca não precisa de rótulos. Precisa de escuta, diálogo e parceria. O setor produtivo da Amazônia está aberto a críticas construtivas e debates bem-informados – mas espera o mesmo espírito de abertura daqueles que, de longe, se propõem a nos interpretar. Não há nós contra eles. Há brasileiros, de diferentes realidades, tentando construir soluções.

A Zona Franca de Manaus é um projeto nacional que resiste, há décadas, ao abandono da infraestrutura, à instabilidade tributária e às visões simplistas sobre o desenvolvimento regional. Quem quiser conhecer de perto nossa realidade, será bem-vindo. Venha ver com os próprios olhos. Venha ouvir as vozes que constroem – com dignidade, ciência e esperança – uma economia que respeita o Brasil profundo e suas florestas vivas.

*Economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEA

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