Manaus, 27 de julho de 2024

Acadêmico Araújo Neto

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A Academia Amazonense de Letras, do alto de seus mais de cem anos de atividades tendo acolhido 150 membros titulares ao longo de sua trajetória, agora sob a presidência do ilustre médico e escritor Aristóteles Comte de Alencar Filho, vem guardando alguns segredos ou reservando temas para a sua intimidade, por assim dizer.

Dentre estes, deve-se considerar a forma de escolha e o nome completo de um de seus imortais, identificado a dedo em determinada ocasião, o qual, pela forma como era conhecido publicamente, chegou a confundir alguns dos mais jovens escritores e até membros da Casa de “Adriano Jorge” propiciando que, em busca de saberem de quem se tratava, batessem em porta errada, fizessem citações equivocadas e ampliassem as distorções a respeito.

Houve quem, neste afã, ainda fora da Academia, insistisse na mesma tecla, sem parar, a de que se tratava de elevado jornalista amazonense que ganhou foros internacionais; outro, a assegurar que teria sido padre do Colégio Dom Bosco; e quem, escrevendo por ouvir dizer, gostava de afirmar que jamais teria havido algum acadêmico com este nome e a referência como integrante da instituição teria sido erro dos jornais comerciais da cidade.

O problema aumentava à proporção que as pesquisas em atas, discursos dos sucessores da dita Cadeira e correspondências existentes nos arquivos do Silogeu não eram capazes de esclarecer se ele teria existido e quem teria sido esse Acadêmico, de passagem breve, sem produção literária conhecida e sem discurso de posse devidamente depositado ou publicado nas revistas do sodalício.

Como essas dúvidas atrevidas vieram à luz depois do encantamento dos mais antigos da Casa, daqueles cuja memória era louvável, precisa e verdadeira como Mário Ypiranga, Mendonça de Souza e padre Nonato Pinheiro, não foi possível aos contendores esclarecer esse passado com base em depoimento ou história oral. Dia desses fizeram-me a dita pergunta: quem foi este tal de Araújo Neto.

Esclarecendo de vez o assunto, a figura procurada pelos litigantes é o jornalista José Luiz de Araújo Neto que foi diretor da Imprensa Oficial do Estado em 1942, diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda em 1943 em cuja condição participou da Conferência dos Diretores de Imprensas Oficiais. Anos mais tarde foi redator do Departamento de Imprensa Nacional e nomeado governador do Território Federal do Rio Branco (Boa Vista) em substituição a Aquilino Motta Duarte exercendo o cargo governamental por 16 meses, ocasião em que foi substituído pelo coronel Auriz Coelho e Silva. Filho de Arthur José de Araújo, que foi juiz Municipal em Boa Vista do Rio Branco (1926), e irmão de Ruy, Hélio e dona Santinha Ituassu.

Araújo Neto foi aluno da nossa Faculdade de Direito na qual anos depois foi professor, atividade que desempenhou no curso pré-jurídico do Colégio Dom Bosco. Advogou em Manaus e foi juiz substituto da Vara de Menores e teve a oportunidade de representar o Estado no X Congresso Brasileiro de Esperanto e no X Congresso Brasileiro de Geografia, no Rio de Janeiro. Uma de suas predileções era tratar da personalidade exponencial de Tobias Barreto.

Sua participação nas atividades da Academia foi brevíssima, pois, eleito para a Cadeira 14, patrocinada por Adolpho Caminha depois Barão de Sant´Anna Nery, Araújo Neto sucedeu a Genésio Cavalcante e foi sucedido por Moacyr Rosas, a mesma da qual é titular o médico Claudio do Carmo Chaves. Foi desta cadeira que João Luiz Araújo Neto foi transferido para a condição de membro Correspondente em razão de alteração estatutária que obrigava os não residentes na capital amazonense a se transferirem, situação na qual ele se enquadrava perfeitamente.

Portanto, o acadêmico Araújo Neto não foi o mesmo acadêmico padre Pereira Neto, nem foi o brilhante jornalista Francisco Pedro de Araújo Neto, filho de Ruy Araújo e neto do inolvidável Araújo Filho, um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras.

Os litigantes nessa peleja, se de boa-fé, podem recolher as armas.

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