Recortes Pessoais
Continuação…
Capítulo 16
Economia do Amazonas: para onde vamos?
Rio Amazonas
Um dia Eduardo Ribeiro, o maior governador que o Amazonas já teve, entendeu de construir na selva amazônica uma capital que se igualasse em esplendor, beleza e vida cultural às metrópoles da Europa. Paris era o seu modelo e o sonho, guardadas as devidas proporções, foi realizado ao menos em sua época e um pouco mais adiante. Basta ver a imponência do Teatro Amazonas e do antigo prédio do Tribunal de Justiça, ainda milagrosamente preservados, para confirmar a bendita ousadia.
Manaus, então, embalada pelo dinheiro farto do comércio da borracha, transformou-se num lugar agradabilíssimo para se viver. Por todo canto se viam sobrados, praças, ruas arborizadas, bondes deslizando nos trilhos, igarapés de águas cristalinas e serviços públicos prestados por grandes e eficientes empresas estrangeiras. Havia planejamento urbano. Os prédios eram erguidos – quase todos – com matéria-prima e profissionais importados. Os mais ricos mandavam seus filhos estudar no Velho Continente e, diz a lenda, acendiam charutos em papel moeda de alto valor, tal seria a ostentação. Grandes companhias teatrais e notáveis artistas tinham a cidade em seus roteiros, embora fosse possível encontrar algum grau de pobreza em seus arredores.
Essa Manaus a maioria esmagadora de nós não chegou a conhecer. O tempo se encarregou de apagar aqueles dias azuis, que hoje somente sobrevivem em forma de cartões postais, preciosidades encontráveis na Internet, que mostram o que fomos e o que deixamos de ser.
Administradores relapsos ou corruptos, despreparados, acomodados ou insensíveis, assim como empresários imprevidentes, imediatistas ou deslumbrados, e aqui eu registro gloriosas exceções, transformaram o sonho de Eduardo Ribeiro num terrível e contínuo pesadelo. O ciclo da borracha chegou ao fim e a nossa economia estagnou.
Só voltamos a respirar, efetivamente, com o advento da Zona Franca de Manaus, a partir de 1967, a qual se trouxe inegáveis benefícios para a região e para o nosso povo, provocou, todavia, drásticas e deletérias mudanças no cenário urbano. A explosão populacional, aliada à falta de planejamento, acabou por contribuir para a descaracterização e abandono do centro da cidade (prédios históricos abandonados ou destruídos), para a tomada de seus arredores pelas ocupações (a maioria de seus bairros foi resultado de invasões), bem como por todos os demais problemas, como o meio ambiente degradado e, o mais terrível, as pessoas que moram nas ruas, em estado de miséria absoluta.
E agora, depois de 57 anos, a Zona Franca de Manaus, caso não haja uma completa virada de rumos, podemos ver a repetição do que aconteceu com a quebra da borracha, só que agora em escala catastrófica, dado o tamanho da capital, da população do estado e da dependência crônica em um modelo econômico obsoleto diante da realidade mundial, que não se interiorizou, dentre outros problemas, sem falar que se encontra em completa desconexão com as potencialidades regionais.
Continua na próxima edição…
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